Intelectuais de Whatsapp

A esquerda brasileira é democrática, disputa eleições e nunca deu um golpe de Estado; já a direita é responsáveis por todos os golpes da nossa história

Aplicativo do WhatsApp em tela de celular
Aplicativo do WhatsApp em tela de celular (Foto: REUTERS/Dado Ruvic/Foto ilustrativa)


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 A sociedade venceu Bolsonaro em 2022, mas surgiram muitos intelectuais de WhatsApp, que usam as redes sociais como propagandistas da extrema-direita golpista.  

 Bem, recebi pelo WhatsApp um texto, que seria de autoria de um tal de Roberto Motta.  

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 O texto traz um recorde de mentiras e bobagens, mas deve deixar excitados ignorantes de vários matizes; fui pesquisar o tal Roberto Motta, suposto autor do texto. Eu o encontrei no site do https://www.institutomillenium.org.br/ ; ele seria um dos fundadores do Partido NOVO e, ligado ao governador cassado do Rio de Janeiro, o bolsonarista Wilson Witzel, participou da transição do governo do estado do Rio de Janeiro e foi Secretário Executivo do Conselho de Segurança do RJ.

 No texto que recebi esse senhor afirmou, de forma leviana, que a esquerda acredita que “o totalitarismo produz liberdade”, mentiroso.

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 Ele omite, por exemplo, que no Brasil é foi a esquerda, e não a direita, que organizou-se para defender as liberdades; omitiu que em 1945 surgiu a “Esquerda Democrática”- ED -, movimento organizado em defesa das transformações sociais e das liberdades civil e política. Esse grupo se opunha à UDN, excessivamente liberal, e ao stalinismo, apresentando alternativa a essa dualidade burra.  

 A ED deu origem ao PSB – Partido Socialista Brasileiro, que nasceu sob o lema “Socialismo e Liberdade”; proclamando a função social da propriedade e o papel do Estado na Economia; defendia as reformas estruturais e a nacionalização de áreas estratégicas, além dos direitos dos trabalhadores; a universalização da saúde e da educação; o PSB liderou a histórica campanha “O Petróleo é nosso”, que obrigou Getúlio Vargas, que voltara democraticamente à presidência, a criar a Petrobras, que tinha o monopólio da exploração, refino e transporte do petróleo.

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 O PSB, é um partido de esquerda e NUNCA defendeu o totalitarismo, ao contrário, seus fundadores combateram totalitarismo do Estado novo e a ditadura militar, de extrema-direita, de 1964, especialmente após a decretação do AI-5 e o partido foi extinto pelo AI-2.  

 O senhor Motta omitiu que é a extrema-direita brasileira, e não o PSB, que interage, sem constrangimento, com as ditaturas sanguinárias da Arábia Saudita e dos Emirados Árabes, ou com autocratas como Viktor Orbán; foi a extrema-direita, através de Bolsonaro, que chamou Orbán de irmão e destacou afinidade nos costumes; não foi a esquerda que ressuscitou o lema fascista “Deus, pátria, família”, que os integralistas usavam.

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 A esquerda sempre foi vítima dos regimes totalitários, basta estudar um pouco de história, por isso ela defende intransigentemente a democracia e as liberdades.

 Outra bobagem que ele teria dito é que a esquerda acredita que “a distribuição de riqueza é mais importante que a sua criação”.  

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 É de dar dó tamanha estupidez, pois a distribuição justa da riqueza, numa sociedade capitalista, só é possível e constitucional através de um sistema tributário justo, daí a importância da reforma tributária, e através das políticas sociais necessárias, como o Bolsa-Família e a política de cotas.  

 A esquerda brasileira é democrática, disputa eleições e nunca deu um golpe de Estado; já a direita é responsáveis por todos os golpes e rupturas institucionais da nossa história.  

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 Afirmar que a esquerda defende que “o Estado deve dirigir nossas vidas nos mínimos detalhes” é outra estultice.  

 A esquerda defende o cumprimento da constituição, que estabelece como objetivos do Estado: “I -construir uma sociedade livre, justa e solidária; II - garantir o desenvolvimento nacional; III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”, esses fundamentos constitucionais estão lá no artigo 3º, para desespero de pessoas como o senhor Roberto Motta que acreditam que a missão do Estado é apenas cuidar de segurança, educação e saúde, pois do restante “o mercado cuida”.

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 Quem busca impor sua pauta medieval de costumes é a direita, já esquerda defende o respeito às diferenças e às escolhas individuais e as liberdades.  

 E dizer que o “comunismo e socialismo, ...  são... sistemas filosóficos, morais e políticos mórbidos, usados por psicopatas e aventureiros para transformar o ser humano em um farrapo corroído por fome, miséria e degradação”, apenas revela o caráter do texto: um panfleto patético da extrema-direita.   

 Desde a revolução industrial foram os trabalhadores de esquerda que conquistaram o direito a condições dignas de trabalho e os “Direitos e garantias fundamentais”, assim como os Direitos e deveres individuais e coletivos” previstos no artigo 5º, foram conquistas da esquerda na constituinte.

 As pautas da esquerda vão além da posição servil ao mercado; a esquerda se preocupa com os povos originários; com as pessoas simples do campo que buscam propriedade para plantar e colher; com moradia, saneamento, emprego, saúde, educação, cultura, segurança, mulheres, trabalhadores urbanos, a uberização, afrodescendentes, LGBT, a defesa do meio ambiente, da cultura das periferias, etc. A esquerda se ocupa desses temas e buscar compreender a transformação da realidade.

 A esquerda democrática está atenta aos tempos e movimentos da sociedade contemporânea, não é refém de dogmas - que fecham os olhos à realidade, e negam a historicidade e a dialética, além de afastar o poder criativo e criador da sociedade e de cada um de nós.   

 O momento é de reflexão honesta, por isso acredito que se os intelectuais de WhatsApp, subcelebridades das redes sociais, como o senhor Roberto Motta, fossem honestos perguntariam: o que é ser socialista na terceira década do século XXI?  Sem debate honesto intelectuais de WhatsApp seguirão brotando do chorume, escrevendo bobagens e saindo incólumes.   

 Essas são as reflexões.  

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