Infância sem paraíso

"Crianças do Sol" é mais uma demonstração da qualidade do cinema iraniano, especialmente no trato com a infância

(Foto: Divulgação)


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Um sabor de Charles Dickens tempera o iraniano Crianças do Sol (Khorshid). Aos 12 anos, o desenvolto Ali trabalha duro numa oficina e lidera seus três amiguinhos no roubo de pneus para atender ao chefe da gang, o velho Hashem. Sua mãe está internada, o pai está morto, ele aprendeu cedo a só ter a si mesmo. O neo-neorrealismo iraniano mais uma vez mostra suas qualidades, especialmentre no trato com crianças.

Estimulado por uma promessa de Hashem, Ali se compromete a procurar um tesouro enterrado debaixo de um cemitério de Teerã. O único caminho até lá é pelo porão de uma escola próxima, onde Ali e seus companheiros precisam se matricular. A Escola do Sol é uma instituição devotada a encaminhar crianças de rua ou exploradas no trabalho infantil. Assim o filme fecha sua proposta de opor a educação à exploração.

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Mas que ninguém espere um conto com moral redonda e mensagem edificante. Majid Majidi, autor dos belíssimos Filhos do Paraíso e A Cor do Paraíso, sabe bem que não existe paraíso na Terra. O garoto Ali só se interessa pela escola na medida em que lhe permite cavar um túnel em busca do seu objetivo.
Crianças do Sol é um thriller energético em que, desde a cena de abertura no estacionamento de um shopping, os meninos estão sempre em perigo de serem apanhados. A existência ou não do tal tesouro, ou sua eventual consistência, está fora da cogitação do determinado mas inocente Ali. A própria escola está sob ameaça de despejo, o que aproxima seu destino ao dos alunos e forja surpreendentes alianças com os responsáveis pela direção. Nasce daí uma das melhores cenas do filme, quando os meninos são incentivados a tomar o prédio como os russos tomaram o Palácio de Inverno em 1917.

Majidi pinta um quadro ao mesmo tempo terno e sombrio de uma infância à deriva, que pode ser salva por alguma habilidade especial ou sucumbir à esperteza de adultos sem escrúpulos. A discriminação de afegãos no Irã é outra anotação importante, encarnada em dois irmãos particularmente comoventes. 

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O roteiro pode não ser dos mais engenhosos, uma vez que avança por elipses um tanto bruscas e deixa pelo menos uma lacuna importante, que é a personagem da mãe. Em compensação, demonstra o perfeito domínio de realização numa cinematografia madura como a iraniana. No elenco infantil, todo arregimentado entre crianças trabalhadoras, brilham sobremaneira Roohollah Zamani, no papel de Ali, e os irmãos Abolfazl e Shamila Shirzad, como os pequenos afegãos.

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