Indiretas Já para a Ditadura do 1%
"Como a presidenta eleita não cometeu crime algum, e eles sabem muito bem disso, a votação do próximo fim de semana não será uma votação sobre impeachment, mas uma eleição indireta para a Presidência da República. Trata-se da primeira votação indireta para a presidência, após a ditadura militar. Com um agravante: o último presidente eleito indiretamente, Tancredo Neves, tinha prestígio e legitimidade. Foi eleito para derrotar a ditadura", coloca o sociólogo Marcelo Zero, colunista do 247; ele explica que a "ditadura do 1%" tem mais de um sentido: "Ditadura do 1% porque só tem apoio de 1% dos eleitores. E ditadura do 1% porque Michel Temer governaria para o 1% mais rico"
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Caso o leitor ainda não tenha percebido, a votação que ocorrerá no próximo fim de semana na Câmara não tem absolutamente nada a ver com o combate à corrupção ou com o desejo de tirar o país da crise.
Como a presidenta eleita não cometeu crime algum, e eles sabem muito bem disso, a votação do próximo fim de semana não será uma votação sobre impeachment.
Na realidade, a votação na Câmara será uma eleição indireta para a Presidência da República. Trata-se da primeira votação indireta para a presidência, após a ditadura militar. Com um agravante: o último presidente eleito indiretamente, Tancredo Neves, tinha prestígio e legitimidade. Foi eleito para derrotar a ditadura.
Já o conspirador Michel Temer não tem nem uma coisa nem outra. É mero candidato oportunista a presidente biônico, que tem a simpatia de somente 1% da população, segundo a última pesquisa. E sua candidatura não visa fazer o país avançar, visa fazer o país retroceder. Não pretende derrotar uma ditadura, pretende instaurá-la. Seria a ditadura do 1%.
Ditadura do 1% em mais de um sentido. Ditadura do 1% porque só tem apoio de 1% dos eleitores. E ditadura do 1% porque Michel Temer governaria para o 1% mais rico.
Com efeito, seu programa, denominado pomposamente de Uma Ponte Para o Futuro, é, a bem da verdade, mera pinguela para o passado, que pretende destruir, com um só golpe (o trocadilho é intencional), três grandes legados sociais: o de Lula, o de Ulysses Guimarães e do de Getúlio Vargas.
Entre outras coisas, o plano do candidato a presidente biônico pretende reduzir salário mínimo, aposentadorias e pensões, desvincular receitas orçamentárias para a saúde e a educação, revisar para baixo programas sociais como Bolsa Família, Fies, Prouni, etc., e impor a prevalência do negociado sobre o legal, acabando, dessa forma, com a proteção da CLT getulista. Não bastasse, a pinguela para o passado visa leiloar nosso futuro, vendendo o pré-sal e outros patrimônios públicos na bacia das almas da crise.
Um plano sem dúvida palatável para o 1% mais rico, porém tenebroso para os 99% restantes.
Numa eleição de verdade, disputada nas urnas e nas ruas, tal plano não chegaria sequer ao segundo turno. Contudo, como se trata aqui de uma eleição indireta, biônica, há possibilidade de ele ser aprovado, com os votos dos setores mais fisiológicos e atrasados do Congresso.
Por isso, apoiado pelo probo Eduardo Cunha e por aqueles parlamentares que querem desesperadamente se salvar de processos e acusações de corrupção, Michel Temer já canta vitória antes do tempo, vazando áudio de seu “discurso de posse”, com elegância paquidérmica e sutileza leonina. Tentativa vã de demonstrar uma força que não tem e a dimensão de estadista que lhe falta.
Golpista não é estadista e Temer não é Tancredo.
Tancredo uniu o país. Temer e Cunha o dividirão ainda mais. Não há a menor possibilidade de um eventual governo biônico de Temer/Cunha dar certo. Na realidade, um governo biônico desse tipo, liderado por figuras desse naipe, sem a unção das urnas e sem a menor legitimidade, criaria uma fratura política profunda, de difícil superação.
Passada a euforia inicial dos golpistas, o país mergulharia num caos político interminável, ainda mais com o programa antipopular e socialmente regressivo que seria implantado. Aconteceria aqui, em escala muito ampliada, o que já começa a acontecer na Argentina de Macri: regressão social e repressão policial contra trabalhadores e movimentos sociais. Uma revolta popular ampla e de consequências imprevisíveis seria mera questão de tempo. Pouco tempo.
A banalização do impeachment como arma partidária dos grupos mais fisiológicos do Congresso criaria uma espécie de “parlamentarismo de bananas”, que comprometeria definitivamente a governabilidade do Brasil.
No plano externo, nossa imagem regrediria à condição de “republiqueta de bananas”, nos igualando a potências democráticas como Honduras e Paraguai. Provavelmente, sofreríamos algum tipo de sanção na OEA, na UNASUL e no MERCOSUL.
Seria criada, dessa forma, a “tempestade perfeita” que arruinaria, em definitivo, o Brasil.
A crise atual é séria, mas a aventura irresponsável do golpe a agravaria muito mais e a prolongaria indefinidamente.
A bem da verdade, a economia brasileira já mostra sinais de recuperação, com a dinamização de seu setor externo, superávits comerciais alentados e redução significativa do déficit em conta corrente. A inflação também está caindo de forma acentuada.
O problema não está nos fundamentos da economia, que hoje são muito mais sólidos que em 2002, apesar da grave crise mundial, a pior desde 1929.
Independentemente de erros eventuais, nosso principal problema econômico é o golpismo. Desde outubro de 2014 que a oposição e a mídia irresponsáveis apostam no terceiro turno, no golpe e no “quanto pior melhor”. Nessas condições, não há política econômica que funcione bem. Se tivessem deixado Dilma governar, provavelmente já estaríamos retomando o crescimento. Preferiram, por motivos partidários e egoístas, apostar no caos. Apostar contra o Brasil e sua democracia.
A eleição indireta que implantaria a presidência biônica de Temer e sua ditadura do 1% não vai resolver nada, apenas agravará ainda mais a situação do país. Somente o ódio insano de certos setores políticos ressentidos com derrotas eleitorais sucessivas impede que enxerguem o golpe como clara aventura suicida.
Felizmente, parte da população já consegue perceber essa obviedade. As lideranças oposicionistas despencam em popularidade e Lula, apesar das agressões sistemáticas, volta a crescer. A defesa racional e serena da democracia começa a se sobrepor à histeria fascista e irresponsável do golpe.
O Brasil só sairá da crise com uma aliança entre as forças democráticas e progressistas, que dê suporte político a um governo que inclua os 99%, preservando os avanços sociais feitos nos últimos tempos. A inclusão social é a salvação econômica do Brasil. Empresários e políticos inteligentes sabem disso.
Voltar à República Velha e ao capitalismo selvagem e desregulado, como querem os golpistas, é aprofundar a crise. E voltar aos tristes tempos das eleições indiretas e dos presidentes biônicos é agressão à democracia.
A votação deste fim de semana é eleição indireta para eleger o presidente biônico que implantaria a ditadura do 1%. É, no mínimo, uma temeridade.
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