Inconsequente, Bolsonaro é o seu grande inimigo

"O presidente Jair Bolsonaro não carece de oposição, embora faça jus a toda. Ele é o pior adversário dele mesmo, nesses três meses de cambaleante governo", afirma Gilvandro Filho, do Jornalistas pela Democracia; "De tudo fez para que nada desse certo e se cercou do que existe de mais bizarro em termos de ministros; um time que, contando em qualquer outro lugar, ninguém acredita que seja de verdade", diz; "Governa por redes sociais, tem nos filhos os seus grandes conselheiros e os piores trambolhos a se meterem em tudo e com todos"

Inconsequente, Bolsonaro é o seu grande inimigo
Inconsequente, Bolsonaro é o seu grande inimigo (Foto: Adriano Machado - Reuters)


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Por Gilvandro Filho, do Jornalistas pela Democracia

O presidente Jair Bolsonaro não carece de oposição, embora faça jus a toda. Ele é o pior adversário dele mesmo, nesses três meses de cambaleante governo. De tudo fez para que nada desse certo e se cercou do que existe de mais bizarro em termos de ministros; um time que, contando em qualquer outro lugar, ninguém acredita que seja de verdade. Governa por redes sociais, tem nos filhos os seus grandes conselheiros e os piores trambolhos a se meterem em tudo e com todos.

Ruim no varejo, Bolsonaro está enchendo o País de vexames políticos e administrativos a cada bobagem que seus parvos auxiliares expelem. Inexplicáveis, nesse contexto (como em qualquer outro) estão as presenças no governo de figuras como Damares Alves ou Veléz Rodriguez. Este, que está levando o MEC a um recorde, o de maior número de baixas (13) em apenas um trimestre, a maioria ocupante de cargos diretamente ligados ao ministro.

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Péssimo no atacado, tem na classe trabalhadora o alvo principal, contra o qual lança toda a sorte de dardos, através do ministro da Economia, o “Chicago Boy” Paulo Guedes. Aposta em um país com zero de patrimônio ao fim do seu governo. E joga o Brasil no abismo diante do mundo ao se acocorar, submisso, aos Estados Unidos. E faz do país chacota planetária com as “aulas de história” do seu atabalhoado chanceler Ernesto Araújo, o propagador da inacreditável tese dos “nazistas vermelhos”.

Por mais estranho que possa parecer, a situação de Bolsonaro só não é pior por causa de um grupo que, ao ser chamado para superpovoar o governo, deixou todo mundo de orelhas em pé: os militares. São esses senhores, em sua maioria generais, que vêm segurando a onda do capitão que os governa, pelo menos teoricamente. A cada disparate lançado aos quatro ventos por Bolsonaro, um dos generais aparece e trata de corrigir a patetada.

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A tutela branca desses militares apareceu, mais uma vez, nessa semana que marcou os 55 anos do golpe militar de 1º de abril, que instalou no país uma ditadura genocida que durou 21 anos (1964-1984). No começo da semana, Bolsonaro determinou, sempre com seu jeito inconsequente de ser e de falar, que todos os quarteis promovessem as “comemorações devidas” pela data – 31 de março para ele e para os adeptos da dita cuja.

A instrução do capitão-presidente para a caserna acirrou os ânimos e alvoroçou militares e civis. Para variar, Bolsonaro jogou gasolina em fogueira, o que obrigou os militares a assumirem o comando da bagaça. Mesmo com a declaração extemporânea do porta-voz do governo, General Otávio do Rego Barros, de que não houve golpe, muito menos ditadura, outros militares chegaram junto com panos mornos. Mesmo com o vice General Hamilton Mourão falando em “revisão histórica” do começo do regime militar, o tom dos demais foi na linha de acalmar os ânimos.

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Bolsonaro aparentemente sentiu a pressão, tanto que saiu com aquele remendo de “rememoração não é comemoração”. Mas, a ordem-do-dia expedida pelo Ministério da Defesa, mesmo em tom moderado, foi lida em todos os quartéis, alguns mais animadinhos, outros menos. Aí, “Bolsonaro, sendo Bolsonaro”, soltou um vídeo desastroso enaltecendo o golpe militar de 1º de abril (31 de março na locução pomposa). E o que era quase paz voltou a virar guerra.

De novo, o taciturno e normalmente sereno porta-voz Rêgo Barros foi acionado. E, desta vez, irritou-se e avisou que não falava mais no assunto. Uma reação típica de quem está mergulhado no olho de um furacão e, naturalmente, não está confortável. “Não falo mais sobre isso!”, disse, saltando de banda, se esquivando de dizer de onde partiu a ordem para divulgar o vídeo da discórdia. Sobrou de novo para o despachado Mourão, que não viu problema em entregar: “Foi o presidente, claro!” .

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Para completar, Bolsonaro viu o tiro de festim comemorativo sair pela culatra. Fora dos quartéis, quem caiu no mote do capitão, preferiu um brinde discreto, em casa. Teve ato público a favor do golpe que não deu 50 pessoas. Fiasco total. Em compensação, as ruas se encheram de gente para protestar e vestir luto, pela democracia e contra a volta da ditadura. A lorota do presidente acendeu no povo a lembrança de um tempo que o povo não quer mais. Nunca mais.

Com a nascente de bobeiras caudalosa e perene, o presidente que 55,13% dos brasileiros elegeram está, assim, sempre pronto a surpreender e a provocar respostas rápidas. Desesperadas, no caso dos militares. Indignadas na oposição. Algumas na forma de protestos formais, como os três pedidos de impeachment apresentados contra Bolsonaro na Câmara dos Deputados, cujo presidente, Rodrigo Maia – meio adversário e meio aliado -, disse nesta segunda-feira (01) que não vai dar a mínima, nem tão cedo.

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Do ponto de vista do marketing político, Bolsonaro é algoz e vítima de si próprio. Vem tendo sorte. Até quando, só Deus sabe.

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