Imperador... do Nada
O exercício das funções lhe derrete o cérebro. Só não vê quem não quer. Um dia as elites, habituadas a iniciativas que arma e desarma na triste história nacional, podem se dar conta de que erraram e aceitem, enfim, interromper o fluxo da loucura, antes que seja tarde demais. Ou que se declare guerra à Venezuela
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Muitas são as características do poder. Para uns, sugere um afrodisíaco, quebrando o isolamento e cercando o indivíduo de admiradores e admiradoras. Para outros, uma vez liberada a contaminação da doença de dar ordens, de se sentir superior, a sensação de grandeza se revela de tal modo que atinge o cérebro, a natureza dos atos e a sensatez. Logo se começa a notar que a razão se dissolve e permanece na figura do Rei, do Imperador ou do Presidente. É a loucura imprimindo ao mandatário o motivo dos seus desatinos. Isto porque, na verdade, é preciso possuir uma personalidade especial para transitar nos corredores do Palácio. Não se improvisa um Estadista. Ele se prepara ao longo do tempo e da superação dos obstáculos antes de, finalmente, honrar-se com semelhante qualificativo.
A loucura, de fato, se mostrou presente mais de uma vez na história dos dirigentes, notável, em alguns casos, diante do estrago efetuado. Exemplo notório é o de Nero que, num gesto de impaciência, na Antiguidade Clássica, mandou queimar a cidade de Roma. Ainda hoje as pessoas estremecem diante da sua memória. Mas há outros casos, como o de Jean-Jacques Dessalines, líder incontestável dos revolucionários haitianos, que, em 1804, botou a coroa na cabeça e se declarou Imperador. Seguia o exemplo de Napoleão Bonaparte, republicano, que, uma vez no poder, negociou a sua coroação com a Igreja e, na Catedral, frente aos olhares perplexos dos assistentes, incluindo o Papa, segurou a coroa com as mãos, ergueu-a sobre a cabeça e se sagrou Imperador. Dessalines não ambicionava muito: queria ser o Napoleão da sua terra.
Agora no episódio da disputa com Dória em torno da vacina contra o coronavírus, Jair Bolsonaro, o nosso Dessalines, evocou os seus antepassados nas crônicas da relação poder e loucura, e lembrou Machado de Assis. Num de seus principais romances, o grande escritor, nos apresenta Rubião, olhando para o infinito, com a sensação única de ser melhor do que era. Como um Luís Napoleão, ergue os braços, segura o nada com firmeza e o deposita sobre a cabeça, declarando-se Imperador. Falta a Bolsonaro o talento, além de se livrar do Legislativo e do Judiciário para alcançar semelhantes dimensões. No momento, também deseja, sem meios, colocar-se acima de sua situação: um ocupante medíocre à testa da administração pública, em cujas funções repete ataques de temperamento, enquanto a nação prossegue em seu caminho, dentro de seus trilhos. Ao lado de Dória, vestiu a toga do desatino. A população se acha mais ansiosa do que nunca por uma imunização que termine com a matança. E ele vem a público dizer que não aceita a vacina chinesa em nome de pequenas disputas eleitorais. Tenha dó... Está na hora de se internar na Casa de Orates!
Cabe notar que crises de razão não se anunciam: entram no cenário de mansinho. Quando menos se espera, irrompem aos olhos de todos, incapazes de se controlar. É possível que esteja acontecendo isso com o nosso Presidente. O exercício das funções lhe derrete o cérebro. Só não vê quem não quer. Um dia as elites, habituadas a iniciativas que arma e desarma na triste história nacional, podem se dar conta de que erraram e aceitem, enfim, interromper o fluxo da loucura, antes que seja tarde demais. Ou que se declare guerra à Venezuela.
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