Impeachment por trás das telas da TV

Não adianta Temer presentear senadores que votaram a favor de sua permanência no cargo com viagens à China e cargos públicos de primeiro e/ou segundo escalões. Porque a sua permanência definitiva no poder dependerá dos embates judiciais cabíveis, do entendimento dos ministros do STF e da proporção da força popular

Brasília - DF, 31/08/2016. Presidente Michel Temer durante pronunciamento à nação. Foto: Beto Barata/PR
Brasília - DF, 31/08/2016. Presidente Michel Temer durante pronunciamento à nação. Foto: Beto Barata/PR (Foto: Ricardo Fonseca)


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Uma análise fria do maior espetáculo de injustiça cometido a uma pessoa nos últimos 100 anos. Sim, não tem como falar de Impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, ocorrido no último dia (31), sem falar em uma mega conspiração fria, torpe, cruel e inconstitucional.
Procurarei nesse texto fazer uma análise do que ví do tal "Conjunto da obra" do ponto de vista jurídico, político, popular e pessoal.

Do ponto de vista jurídico:

O competente e combatente advogado de defesa de Dilma. Dr. José Eduardo Martins Cardozo, colocou muito bem em seu discurso final no dia 30 de agosto, às vésperas de mais momento de vergonha parlamentar nacional, onde os seus acusadores estavam visivelmente tomados por uma crise de sentimentalismo. Ele lembrou das vezes que Dilma sentou no banco dos réus e fez um excelente paralelo entre elas: "Menina nós estamos te prendendo e te torturando, pelo bem do País. Nós estamos pensando nos seus filhos, nos seus netos... Estamos aniquilando com a sua vida, mas estamos pensando em você menina. Estamos te destruindo e te arrasando... mas estamos pensando no seu bem [...] Mas não conseguem eliminar com ela a injustiça do seu golpe". Reveja aqui.

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Dilma foi executada covardemente, mesmo com seus direitos assegurados por decisão do MPF...Tudo isso após a Constituição de 1988, após a construção democrática e o requintado estado de direito da " Nova República". Ela não dispõe de nenhuma acusação de crime de que acusa-la. Esta foi a conclusão que chegou o Dr. Ivan Cláudio Marx, procurador federal, designado para investigar os " supostos crimes", pelos quais foi julgada e impichada pelo Senado Federal. Reveja a decisão do procurador federal aqui.

Antes do excelente pronunciamento histórico de José Eduardo Cardozo na tribuna do senado, a advogada e Jurista, especialista master blaster em questões de Drogas, Dra. Janaína Paschoal subiu a tribuna e fez um discurso eminentemente político, do qual tenta, numa iminente crise de consciência, se regozijar pela participação expressiva nesse melindroso processo, para ficar bonita nas fotos dos livros de história do Brasil.

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Dra. Paschoal mostrou ao mundo um lado digamos "mais humano, mais teatral e bem mais dramático". A atuação foi diferente dos arroubos de fúria e lágrimas, dos discursos rotineiros que fazia na USP. Ela demonstrou que existe atualmente na Psicologia/Psiquiatria pós-moderna , o termo tripolar. Ou seja a variação de estados de humor de normal-sorriso coringa – choro, para estado normal-sorriso coringa e choro novamente, em frações de milésimos de segundos. Ela levou a medalha de ouro no quesito dissimulação, nessas olimpíadas golpistas, por bater o recorde de condição desumana, jamais visto no planeta terra. Dra. Janaína disse em alto e bom som: " O Impeachment é um remédio constitucional, ao qual nós precisamos recorrer, quando a situação se revela especialmente grave". Reveja aqui.

Com todo respeito a advogada e jurista, mas remédio mesmo é o que ela precisa urgente pra manter-se sã e, em condição estável. para equilibrar-se por mais de 1 minuto em sua vida. Talvez "um Gardenal" de manhã e outro à noite possa ajuda-la nesse problema. Uma pena que a lei só permita a um psiquiatra formado poder receitá-la.

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Do ponto de vista político:

Fernando Collor de Mello, o Presidente que renunciou covardemente nos 45 minutos do segundo tempo, naquele 30 de dezembro de 1992, mas que para a história mesmo assim foi impichado no mesmo local. Com uma imensa demonstração de júbilo, discursou numa retórica rebuscada e empedernida em seu exórdio, fazendo elucubrações de forma pernóstica, em seu homizio, de forma belicosa e de coalizão, para chegar ao seu corolário. Em outras palavras, Collor gozava de imensa alegria, por ter lavado a sua alma, por tudo que o Partido dos Trabalhadores causou em sua história. Ele por fim conseguiu dar o troco, aqueles que um dia pediram à sua cabeça. Reveja aqui.

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Renan Calheiros, conhecido por todos pelo abandono ao velho amigo Fernando Collor no momento em que mais precisava, aqueles que antecederam o seu fatídico 30 de dezembro . Ele elegantemente repetiu o feito, desta vez com a sua agora ex amiga Dilma Rousseff. Só que dessa vez fez pior... Conhecido por fazer parte de corrente contrária (historicamente) a Temer dentro do PMDB, Calheiros uniu-se ao " Mordomo do Drácula", apelido carinhoso que nomeou o atual e mais novo" amigo de infância", presidente da República. Ele disse: "Quando fizemos essa excrescência dessa Lei do Impeachment em 1950, o presidente do Senado Federal, era concomitantemente Vice Presidente da República. [...} Eu queria pedir desculpas a Vossa excelência ( Presidente do STF Ricardo Lewandowski), pedir desculpas aos Senadores, queria pedir desculpas ao País. Nós não podemos apresentar esse espetáculo à sociedade" e completou: " Eu fico muito triste, porque essa sessão é uma demonstração de que... a burrice é infinita". Reveja aqui.

Pela ordem senhor Presidente do Senado e do Congresso Nacional, devo não me abster em concordar com Vossa Excelência, que essa " Lei do Impeachment", seja a merda dos senhores que votaram a favor desse processo horroroso desde o início, e comprovadamente sem crime de responsabilidade. Toda ela personificada nessa infinita burrice, que foi a espetacularização e concretização desse Impeachment inconstitucional.

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Do ponto de vista popular:

Em todos os lugares a sensação de final de Copa do Mundo (A mesma do 7x 1 pra Alemanha), onde era latente a tristeza pelo fim do sonho dos brasileiros. O que ví naquele dia, nos mais variados lugares, foi a mesma indignação e a sensação de injustiça que incomodava aqueles que votaram na Dilma. Muitos dos que conversei, não votaram nela, não ganham "Bolsa família", nem fizeram " Pronatec ou Pro Uni", como também não foram contemplados com o " Minha Casa, Minha Vida". Eram profissionais de todas as esferas, jornalistas, administradores, taxistas, seguranças, garçons, donos de lojas, etc... Todos por mais que achassem que Dilma cometeu erros, sabiam que ela não poderia ser impichada por ser simplesmente honesta. Para todos o fato de preservarem os direitos políticos dela, não os eximiu da culpa pelo estupro á constituição. Ou seja, Dilma, Lula e PT, por mais fragilizados, desgastados e expostos nesse episódio, todos eles saíram fortalecidos na visão popular. O Congresso e o judiciário é que ficaram sob suspeição e, tiveram a imagem de imparcialidade e justiça ameaçadas. Uma grande tragédia para a nossa falecida democracia.

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Do ponto de vista pessoal:

Tenho três reflexões importantes a fazer após o desfecho desse lamentável processo no Senado. A primeira é que o próprio Ministério Público Federal, que avalizou a conduta de Dilma Rousseff, não vale mais de nada. Ou seja, com base nesse impeachment, as suas decisões e pareceres, através dessa jurisprudência ridícula, se tornam inócuas ou inaptos, sem valor jurídico nenhum.

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A segunda é que, se Dilma cometeu crime de responsabilidade por assinar "decretos suplementares" sem consentimento do Senado no entendimentos dos Senadores-Juízes, Michel Temer também os cometeu por ter assinado. Portanto, a lei que alcançou Dilma, tem que servir para todos, inclusive para o garboso presidente condecorativo.

Manter os direitos políticos de Dilma foi tão somente um "cala boca" para minimizar os efeitos negativos do processo , que abriu precedentes constitucionais para a destituição da validade do julgamento final. Ou seja, nas duas alternativas a permanência de Temer no cargo de Presidente da República, está indefinida, instável e incerta. O jogo pelo poder ainda está no meio, rodeado por muita batalha judicial que virá pela frente.

A terceira e última é que as eleições vindouras de outubro perderam o brilho necessário. Com o afastamento ilegítimo de uma presidenta honesta, o voto direto, duramente conquistado através de manifestações populares num passado não muito remoto, virou um reles artifício para inserir políticos fisiologistas ( e alguns corruptos), em cargos públicos, para serem bucha de canhão de uma maioria esmagadora.

Não adianta Temer presentear senadores que votaram a favor de sua permanência no cargo com viagens à China e cargos públicos de primeiro e/ou segundo escalões. Porque a sua permanência definitiva no poder dependerá dos embates judiciais cabíveis, do entendimento dos ministros do STF e da proporção da força popular. Não existe nada mais propício nesse momento para dizer antes de um "até logo querida" é um estrondoso Fora Temer!

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