Impeachment ou renúncia?
"Isolado, Bolsonaro não tem apoio da imprensa, nem dos governadores, nem da opinião pública e agora perde importantes segmentos de apoiadores que vão desembarcar de seu governo junto com Moro", escreve Alex Solnik, do Jornalistas pela Democracia. "Afastada a hipótese de golpe, a dúvida é uma só: haverá impeachment ou renúncia? Impeachment ou renúncia?"
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Por Alex Solnik, do Jornalistas pela Democracia
No início da semana, quebrava-se o pau na imprensa e nas redes sociais discutindo se Bolsonaro já tinha cometido ou não algum crime de responsabilidade com suas últimas estrepolias – como colocar em risco a saúde pública ou discursar num ato pró-ditadura – mas era um debate restrito à oposição majoritariamente de esquerda, temperada por panelaços e por gritos de “fora Bolsonaro”, resvalando em segmentos de centro e centro-direita.
De repente, o tiro de bazuca veio de onde menos se esperava. Nem Nostradamus seria capaz de prever que o cara que elegeu Bolsonaro viraria seu algoz. Ninguém diria que a guerra seria direita contra direita.
E a discussão não é mais se tem clima ou não para impeachment ou se dá para rolar impeachment com coronavírus e tudo; passou a ser se vai haver impeachment ou renúncia.
Aquela cena de ontem, todos os ministros assistindo, mudos, ao discurso patético do ainda chefe da nação foi premonitória.
Ministério todo só se reúne no início do mandato e no fim.
As acusações de Moro ganharam do vírus – o pior dos últimos 100 anos. Depois de semanas em que a imprensa só fala em coronavírus, Moro conseguiu tirar o coronavírus das manchetes. E mostrou ao país que há um vírus pior ainda no Palácio do Planalto.
O caminho rumo ao cadafalso parece ser inexorável para Bolsonaro.
O pedido de investigação do episódio, expedido pelo PGR Augusto Aras, que aponta indícios de vários crimes, tanto do ainda presidente quanto do ex-ministro, vai ser relatado no STF por Celso de Mello, aquele que já disse que Bolsonaro não tem estatura para o cargo que ocupa.
Pedidos de CPI já chegaram aos escaninhos de Rodrigo Maia, aquele que Bolsonaro e seu exército de robôs insistem em atacar. Como sabemos, CPIs já derrubaram dois presidentes, Getúlio, em 1954, que se suicidou e Collor, em 1992, que renunciou ao saber que seria escorraçado pelo impeachment, ele também voluntarioso, como Bolsonaro, e que garantia que não iria renunciar.
Bolsonaro tenta se proteger trazendo para seu lado políticos do baixo clero e de péssima reputação, mesmo caminho escolhido por Collor, que deu no que deu.
Bater em Moro no discurso também não foi uma boa ideia, ele é o queridinho da Globo, será mais um ótimo gancho para a emissora engrossar as fileiras do “fora Bolsonaro”, vai fazer todo o possível para formar a opinião pública contra o ainda presidente.
Isolado, Bolsonaro não tem apoio da imprensa, nem dos governadores, nem da opinião pública e agora perde importantes segmentos de apoiadores que vão desembarcar de seu governo junto com Moro. Ou seja: cada vez mais pessoas físicas e jurídicas querem vê-lo pelas costas.
Claro que Bolsonaro vai espernear até o fim, vai empregar todas as artimanhas possíveis e impossíveis enquanto estiver no poder, mas ele não tem nenhuma saída, digamos, legal, porque seu caso com Moro é de batom na cueca, todo mundo viu o que ele fez e quem acusa é o cara que tem prestígio popular e apoio das elites, insuspeito, portanto.
Bolsonaro só teria uma saída, essa totalmente ilegal, tentar um golpe de estado, mas para isso teria de ter um bom motivo a favor – como Getúlio em 1937 – e não tantos motivos contra para conseguir o suporte das Forças Armadas.
E de mais a mais, os militares não teriam nenhuma motivação para dar um golpe de estado. Não serão afetados. Caso Bolsonaro caia eles não perdem poder, assumirá Mourão, tão general quanto os que atualmente pontificam no Planalto em torno de Bolsonaro.
Cai um capitão, entra um general e o governo continua militar.
Afastada a hipótese de golpe, a dúvida é uma só: haverá impeachment ou renúncia? Impeachment ou renúncia?
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