Impeachment com férias na House of Cunha
Cassem-se Dilma & Temer ou não. Casse-se Cunha ou não. Mas parar de trabalhar nesta hora é mais uma imoralidade
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É verdade. Políticos brasileiros se esforçam com afinco para não merecer respeito.
Pariram – no plural mesmo- um discutível processo de impeachment da presidente da República pela figura mais emblematicamente negativa que dispunham na atualidade: Eduardo Cunha. O homem dos 60 milhões na Suíça. O astro de 'House of Cunha'.
O sentido dessa coincidência do mal, ter sido essa criatura, a criadora de um processo desta envergadura, como vingança a não votos para sua própria absolvição, expõe ao que o povo brasileiro está sujeito.
Como se não bastasse, os políticos ainda inventaram mais uma: uma semana após a 'instauração' do impeachment, começaram a falar em férias, recesso. Veja se tem cabimento um absurdo deste. É a suma da desfaçatez.
Instalam formalmente uma crise, a maior que se imagina num governo democrático, numa sociedade politicamente organizada, um processo de impeachment. E ainda têm o cinismo de cogitar férias.
Se alguém de lá estranhar o termo 'férias' no sentido de dizer que não são férias, fica pior. Aí será o dolo maquiavélico típico de cúmplices políticos. Perceberam que não têm quantidade suficiente de adeptos ao impeachment e querem 'usar' as férias parlamentares para fazer campanha política pela aprovação do impedimento.
Tudo como se o impeachment não exigisse um instituto jurídico chamado 'crime', qualificado constitucionalmente. Tipificado, preciso, exato e publicamente sabido, coisa que até agora não se sabe qual crime 'seria'.
Uns falam em 'pedalas', seria alguma inveja feminina 'mortal' ao emagrecimento de Dilma após andar de bicicleta? Outros falam em decretos ilegais. Outros querem o impeachment porque não aguentam mais a presidente e sua sabida dificuldade com o manifestação humana conhecida como 'fala'. Já se cogita a 'pedalada mental'.
Se Dilma Rousseff merece ou não ser impichada, é até um 'direito' democrático de qualquer pessoa, achar, querer, supor.
Mas aproveite e pergunte a dez brasileiros de razoável formação cultural: por que Dilma está inserida num processo de impeachment? Observe serenamente a resposta e veja como muita gente boa não consegue responder efetivamente, limpidamente. E colecione respostas as mais diversas, ou as mais genéricas e superficiais. Se quiser aprofundar a 'pesquisa', peça uma ideia de o que é a tal da 'pedalada' e se ela constitui crime de responsabilidade.
Impeachment não é assunto para carinhosas donas de casa ou 'pacatos' chefes de família trabalhadores, sejam homens ou mulheres. Ou é. Mas aí vale tudo, entram em cena a 'achologia', os 'achólogos'. O tema é bem difícil e requer algum preparo, conhecimento de conceitos jurídicos complexos, observação e equilíbrio para sopesar lados díspares.
A apropriação da política pelo povo é das melhores conquistas da democracia. Gera cobranças, exigências e fiscalizações. Mas o corpo político brasileiro ainda é escandalosamente impune. Ou seja, provincianamente impune.
Voltaire, no Dicionário de Filosofia, verbete Amizade, dizia que os príncipes têm cortesãos, e os voluptuosos têm companheiros de devassidão. Não se vive sem a política, mas o nível brasileiro dela chegou ao detestável, ao esbanjamento acintoso com o dinheiro público. Coisa de mandatários voluptuosos e mimados, e cúmplices de devassidões.
Essa Câmara dos Deputados, agora conhecida como 'House of Cunha' inventando procedimentos próprios e vergonhosas votações em segrego com cortininhas pretas que mais parecem um confessionário demoníaco do conchavo, como a votação de 8.12.15, já prontamente anulada pelo Supremo Tribunal Federal, é o fim da picada.
Não se trata de um moralismo portátil ou um dedo em riste a apontar o erro do outro. Mas com o fácil dinheiro público as pessoas deveriam ser mais preocupadas. Férias, recesso ou seja lá o nome que se dê a uma parada festeira no meio de um processo de impeachment, que atira toda a sociedade numa poça de lama é uma falta de respeito. Cassem-se Dilma & Temer ou não. Casse-se Cunha ou não. Mas parar de trabalhar nesta hora é mais uma imoralidade.
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