Impeachment com cara de derrota
Golpes vêm sendo lembrados com os fantasmas de 64 e de 68 ainda na mente das pessoas, com seu rol de atrocidades. Dizem que se revelam impossíveis dentro das circunstâncias, como se estivéssemos protegidos por falta de clima para implantá-los
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O pedido de impeachment entregue ao Senado contra o Ministro Alexandres de Moraes deu lugar a uma rápida entrevista de Jair Bolsonaro à TV CNN. Não havia alegria em seu semblante; confiança, também não; certeza das suas intenções, menos ainda. Em seu rosto, tenso, abatido, como se houvesse saído de uma sabatina para se submeter a um exame, expressava traços de desatino, à beira de um colapso. Sabia o que acabara de arriscar. Logo advieram as repercussões, todas negativas. O ex-Ministro Ayres Britto, numa leitura da Constituição, não localizou uma única indicação que reafirmasse a capacidade do Presidente da República para a solicitação de impeachment contra integrantes da Suprema Corte. Juristas que o acompanharam decretaram em uníssono a péssima qualidade do texto levado à Câmara Alta, prevendo a impossibilidade de que prospere.
A situação evoca as reflexões de Alexis de Tocqueville, em seu livro A Democracia na América, onde prevê aquele sistema de governo vitorioso na Europa contra as monarquias. Dava como exemplo o que se passava nos Estados Unidos, em cuja sociedade pouco importava a má qualidade dos dirigentes, uma vez que a população segurava as rédeas de seu destino, não deixando que derrapasse. O diagnóstico se mostrava tranquilizador. No entanto, cabe lembrar a premissa: para dar certo, cumpre que a população se assuma como o seu verdadeiro condutor. Isto posto, até um imbecil no poder não prejudicaria os negócios da sociedade. Trata-se de um requisito, para nós, saídos da colonização portuguesa e do Império no século XIX, difícil de entender. Não nos habituamos a assumir o controle dos governos, como se preferíssemos delegar tal competência a qualquer um, inclusive ao primeiro que se apresente. Vide as quarteladas e golpes de força que se acumularam ao longo da República.
A julgar pela expressão de Bolsonaro estampando a violência de sua iniciativa frente às telas de TV, não resta dúvida que temos um problema. Não há precedente de um conflito de semelhantes dimensões entre o Executivo e o Judiciário, ainda mais quando este se debruça sobre inquéritos envolvendo ações do ocupante do Palácio do Planalto. Para desembaraçar o nó, é preciso, não resta dúvida, a convocação de mestres da tolerância, gente que retira piolhos de cascas de ovo. Nos três poderes, ousadias despertam tempestades. Essa, provavelmente, era a intenção de Bolsonaro, afeito à ideia de jogar as cartas para desnortear e superar os inimigos, ainda que corra riscos, como se agora verifica. Resta saber se a assessoria fardada que o acompanha embarcará na tempestade ou parará para pensar e decidir. Golpes vêm sendo lembrados com os fantasmas de 64 e de 68 ainda na mente das pessoas, com seu rol de atrocidades. Dizem que se revelam impossíveis dentro das circunstâncias, como se estivéssemos protegidos por falta de clima para implantá-los. Esperemos que sim.
Para uma perspectiva favorável, sem dúvida preocupa a expressão de cachorro doido, acuado, como temos sido surpreendidos, a cada instante, frente às decisões apresentadas ao público pelo chefe do Executivo. Não será a primeira vez que a loucura toma corpo com vontade de incendiar grandes metrópoles. Um bom psiquiatra, com um remedinho na hora certa, mais do que os políticos de plantão, talvez, para a situação, fosse a melhor ideia.
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