Imagens negociadas

"Instantâneo sombrio da colonização chilena, "Branco no Branco" seria mais perturbador se não fosse tão escravo de seu estilo e de sua lentidão presunçosa"

(Foto: Divulgação)


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Mais correto seria traduzir Blanco en Blanco por "Branco sobre Branco". Afinal, é de fotografia que se trata neste filme que representou o Chile no Oscar de 2022. Pedro (Alfredo Castro) é um fotógrafo que chega à Terra do Fogo no início do século XX para registrar o casamento de um latifundiário. A boda se retarda e, equanto espera, Pedro observa e se envolve com o sistema colonialista em vigor.

Os indígenas são alvos de caçadores de orelhas e de fêmeas para diversão da jagunçada, quando não escravizados por padres. A fotografia é um instrumento de afirmação de poder e posse de terras e almas. Imagens negociadas, como sabemos acontecer nessa relação em que o fotógrafo dirige a cena para melhor agradar ao contratante.  

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Por sua vez, a noiva é apenas uma menina e desperta veleidades pedófilas em Pedro, personagem ambíguo por excelência. Ele age ora como uma consciência em crise, ora como um colaborador submisso. Em contraponto, um capataz beberrão e uma preceptora abúlica circulam em torno da carniça deixada pela colonização. A decadência, aqui, nada tem que se possa admirar. 

Theo Court, diretor e corroteirista, não tem nenhuma pressa para pintar esse quadro sombrio, explorando as paisagens horizontais e ermas da Terra do Fogo e de Tenerife (Ilhas Canárias). Sua câmera se instala a tal distância dos personagens e das (poucas) ações que torna às vezes difícil identificar o que se passa. A luz do dia é baça; a da noite é mortiça, fornecida por velas e tochas. Sentimento de um mundo remoto e duro, onde pouco se fala e a violência e o genocídio são praticados no silêncio e na obscuridade. 

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A trilha musical discreta e concreta (de Jonay Armas) se confunde com os sons da natureza e do ambiente. A voz sussurrada, aliciante de Alfredo Castro se sobressai como veículo de inquietação. O efeito, porém, acaba sendo limitado. Blanco em Blanco poderia ser mais perturbador se não fosse tão escravo de seu próprio estilo e de sua lentidão um tanto presunçosa.
>> Branco no Branco está na plataforma Filmicca.

O trailer:

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https://www.youtube.com/watch?v=x4zuvj3D7xc

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