Ilona Szabó, MBL e “desconvite”

Se tivesse alguma dignidade, o Ministro Sérgio Moro não pensaria duas vezes em entregar imediatamente o cargo. No dia em que um Ministro de Estado da Justiça é vetado na indicação de um suplente de conselho, após já havê-la anunciado publicamente, é porque o bonde, se não saiu dos trilhos, está muito próximo de sair

Ilona Szabó, MBL e “desconvite”
Ilona Szabó, MBL e “desconvite”


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A Ilona Szabó não é do PT. Nem sei se um dia foi de esquerda. Até onde acompanhei, ela integrava o grupo “Agora!”, do Luciano Huck (da Rede Globo), que se propunha a “renovar” a política do Brasil. Se fosse do PT, não creio que tivesse sido convidada pelo Ministro Sérgio Moro para compor o Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP). 

Cores partidárias à parte, no campo de estudo sobre a segurança pública ela possui méritos. Fundadora de uma importante ONG no setor (Instituto Igarapé), tem adotado, enquanto ativista, posturas progressistas, como a defesa do desarmamento, a descriminalização das drogas, a proposição de uma segurança pública mais humana, menos militarizada. É, indiscutivelmente, reconhecida como importante cabeça pensante na área.

Quando respondi interinamente pela antiga Secretaria Especial de Políticas sobre Drogas do Ceará (entre dezembro de 2016 e abril de 2017) cheguei a sondá-la para vir palestrar no estado em eventual grande congresso que imaginávamos realizar para inaugurar um novo momento de reflexão sobre esses temas polêmicos tão presentes no cotidiano, ideia que acabou não vingando porque saí do comando da pasta. Mas o importante sobre o fato é que, enquanto refletíamos na SPD sobre a natureza do congresso, jamais perdemos um segundo para questionar se a Ilona Szabó era do PT, do PSDB, do PSOL, do NOVO, seja lá de que partido, o fundamental é que era alguém que acrescentaria ao debate. 

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Nessa mesma esteira, certamente ela somaria ao CNPCP.  Com seu “desconvite” para integrar o conselho (mesmo que na simples condição de suplente), perde o colegiado e perdemos todos enquanto sociedade. Por outro lado, ela e vários outros do campo ideológico em que transita, comprovam que o governo que aí está não tem compromisso nenhum com a democracia. Acertou Ilona Szabó quando disse ao portal Brasil 247 (http://amp.brasil247.com/pt/247/brasil/385423) que o veto motivado por manifestações de ajuntamentos como o MBL espelhava visão de “grupos que precisam de inimigos, e por isso não estão comprometidos com o debate democrático”. Tanto não estão, que não compreendem que a pluralidade de pensamentos em um conselho sobre políticas públicas é um fator imprescindível para que o coletivo atinja os fins a que se destina como articulador social integrado ao Estado. 

Mais uma vez, usando as palavras da própria Ilona, “ficou muito claro que o presidente Bolsonaro ainda não se elevou à altura do cargo que ocupa”. Pior, sucumbiu ao moralismo irracional, decadente e excessivamente sectário de movimentos extremistas. Se tivesse alguma dignidade, o Ministro Sérgio Moro não pensaria duas vezes em entregar imediatamente o cargo. No dia em que um Ministro de Estado da Justiça é vetado na indicação de um suplente de conselho, após já havê-la anunciado publicamente, é porque o bonde, se não saiu dos trilhos, está muito próximo de sair.

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