Ideias psicodélicas no Café Regina



✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.

 "Vamos dar golpe em quem quisermos. Lide com isso”.  

(Elon Musk, dono da Tesla, sobre a Bolívia)  

continua após o anúncio

 O tradicional Café Regina aqui em Campinas parece ter se transformado em espaço frequentado, majoritariamente, pessoas simpáticas ao ex-presidente e suas ideias psicodélicas.  

 Uso o termo “psicodélico” no sentido de alucinação, lembrando que o termo surgiu na década de 60 juntamente com as drogas alucinógenas como o LSD, que altera a percepção e que produz vários efeitos.  

continua após o anúncio

 Ou seja, psicodélico é um estado psíquico de quem está sob a ação de um alucinógeno, que faz com que o indivíduo tenha uma percepção equivocada da realidade, altera a consciência, e traz sensações semelhantes ao sonho, psicose e êxtase religioso. Os últimos produziram tanta droga que legaram muitos pensamentos psicodélicos soltos por ai e causando danos à sociedade.  

 Mas apesar da frequência, majoritariamente psicodélica, ir ao Café Regina para sentir o aroma do café feito no coador de pano é algo que me remete aos tempos de criança quando eu acompanhava meu avô Pedro nas andanças pelo centro da cidade.

continua após o anúncio

 Eu estava quieto quando um senhor me perguntou: “Você aí! Você não é aquele comunista que escreve no CORREIO?”.  Tentei quebrar a tensão dizendo que eu era apenas pontepretano, não adiantou; tentei explicar a minha posição e o objetivo dos meus artigos, também foi inútil, pois, o tom agressivo do meu interlocutor revelou que o silêncio seria mais sábio. Fiquei quieto.

 Mas ele, não contente com o meu silêncio obsequioso, seguiu a provocação e, atrevido, sentou-se ao meu lado e perguntou: “Você acha que o impeachment da Anta foi golpe também?”.  

continua após o anúncio

 Respirei fundo e disse a ele que os golpes de Estado têm característica diferentes atualmente e dei o exemplo do que aconteceu na Bolívia e antes no Paraguai e Equador. Começamos a conversar.   

 Perguntei ao “seo” Jaime, esse é o nome dele: “o senhor lembra que Elon Musk, da Tesla, confessou que ele que deu o golpe na Bolívia?”; aproximaram-se da “nossa” mesa mais três ou quatro senhores; o “seo” Jaime disse que não sabia nada disso. Então peguei o celular e fui ao Google e mostrei para ele que o Musk escreveu no Twitter: “Vamos dar golpe em quem quisermos. Lide com isso!”, tudo para ter acesso irrestrito às reservas de lítio da Bolívia, a maior do mundo.

continua após o anúncio

 O golpe foi, confessadamente, construído e realizado a interesse de uma corporação e não de um país, pois a dominação hoje em dia tem características muito particulares.

 No Equador, Paraguai e Brasil, foram usadas as instituições e estruturas nacionais para atender interesses corporativos transnacionais - no Paraguai a soja transgênica da Monsanto, no Brasil a quebra do monopólio do Petróleo (extração, refino e distribuição) e na Bolívia para atender a Tesla.  

continua após o anúncio

 Ele exclamou: “Que bobagem! Isso não existe, é coisa de petralha, comunista, corrupto”.

 Bem, tomei o meu café, me despedi educadamente e fui embora, mas deu tempo de sugerir que ele lesse um livro que gosto de visitar, o nome dele é “Império”, foi escrito pelo Italiano Antônio Negri e pelo estadunidense Michael Hardt, é um livro poderoso. Um dos senhores que se aproximou da nossa mesa anotou o nome do livro.

continua após o anúncio

 Sobre o livro. Os autores tratam de uma nova categoria política denominada “Império”, é um livro difícil, pois há muitas referências e propõe uma nova forma de compreender os processos de dominação num mundo multipolar.

 A ideia principal é que vivemos sob um modelo social, econômico e político denominado “Império”, que, na perspectiva dos autores, sucedeu o conhecido “imperialismo”, que, por sua vez, sucedeu o “colonialismo” em razão da revolução industrial.  

 Para os autores citados o “imperialismo” se caracterizou pela economia capitalista industrial e sua necessidade de expansão e dominação territorial, especialmente o domínio de países europeus sobre países da África e Asia; isso foi tratado pelo modelo de “poder disciplinador”, categoria tratada por Michel Foucault.

 Já no “Império” a atuação é difusa e indireta; no Império há um novo elemento de ‘mando’: as estruturas não governamentais, como a ONU, FMI e Banco Mundial, ONGs e o próprio capital, representado diretamente por empresas, passaram a ter um poder muito forte na disputa política mundial.

 No “imperialismo” a dominação dos países era direta, era territorial, muitas vezes pelas armas, e o ‘mando’ era direto, com o fim das colônias europeias nos países Africanos e Asiáticos e a queda do muro de Berlim, alterou-se a análise geopolítica; ademais, o capitalismo tornou-se o único sistema econômico mundial, tornando possível outras formas de dominação, inclusive através da comunicação (mídia e redes sociais).

 Penso que essa diferenciação é importante para compreendermos que o poder e a dominação não são exercidos apenas pelos Estados Nacionais.  

 Voltemos ao caso da Bolívia.  

 O golpe de Estado por lá, que apeou Morales da presidência na Bolívia, foi orquestrado não por outro país, mas pelo bilionário Elon Musk, como ele mesmo confessou, para ter acesso livre ao lítio.  

 Por quê? Porque mais de 50% dos depósitos de lítio globais se encontram no “Triângulo do Lítio”, com fontes do material concentradas na Argentina, Bolívia e Chile. Os desertos montanhosos da Bolívia – o Salar de Uyuni – têm de longe as maiores reservas conhecidas.

 Se eu encontrar o “seo” Jaime retomo com ele o tema, caso ele tenha lido o livro, caso contrário será impossível o diálogo, pois quem “conhece tudo” de “ouvir falar” e pelas correntes de WhatsApp só tem ideias psicodélicas.  

 Essas são as reflexões.

iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

Este artigo não representa a opinião do Brasil 247 e é de responsabilidade do colunista.

Comentários

Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor, e não do 247

continua após o anúncio

Ao vivo na TV 247

Cortes 247