Ida de Bolsonaro a Aparecida irrita cúpula da Igreja
"Sua presença na missa, acompanhado de políticos e de bolsonaristas que vaiaram o padre celebrante, foi considerada indevida", informa Helena Chagas
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As tentativas do presidente Jair Bolsonaro de se aproximar dos católicos acabaram por piorar suas relações com a Igreja e integrantes da cúpula dos bispos do Brasil. Após a ida ao Círio de Nazaré, já considerada uso indevido da religião com fins políticos, a visita à Basílica de Aparecida nesta quarta irritou a cúpula da CNBB e só não virou comício porque o arcebispo Dom Orlando Brandes não deixou.
Nos bastidores da passagem do presidente pela Basílica da padroeira do Brasil, o Arcebispo de Aparecida teve que impedir um ato político da campanha de Bolsonaro em frente à antiga matriz de Aparecida. Preparado pelo marketing da campanha, previa que o presidente puxasse um terço de orações entre seguidores - todos devidamente paramentados com suas camisas amarelas - , que seria gravado pela equipe e exibido no horário eleitoral.
Estava tudo preparado, cinegrafistas a postos, quando D. Orlando foi informado do evento e mandou padres da arquidiocese à velha matriz, que fica a poucos quilômetros, informar os animadores da campanha que não havia permissão para fazer nada ali. Avisado, Bolsonaro não apareceu, saindo direto da missa na Basílica principal para ir embora, e muita gente esperou em vão porque os bolsonaristas não deram qualquer explicação a seus fiéis.
Ainda assim, sua presença na missa, acompanhado de políticos em campanha e de uma turba de bolsonaristas que vaiou o padre celebrante, foi considerada indevida pela cúpula da Igreja. O próprio Dom Orlando condenou, em sua homilia, a disseminação do ódio.
Numa indireta a Bolsonaro, o bispo afirmou que um fiel tem que se decidir se é católico ou evangélico. Isso pouco antes de o presidente chegar à Aparecida, vindo diretamente de um templo da Assembléia de Deus em Balo Horizonte.
O dado mais curioso de tudo isso - e que anima algumas lideranças do PT ligadas à igreja a prever que crescerá o apoio a Lula entre católicos - é o fato de D. Orlando, ex-arcebispo de Londrina, ser considerado um moderado dentro da Igreja Católica. Segundo um desses líderes, se for aplicado um critério político, o bispo estaria mais para tucano do que para petista.
Ainda restam três domingos, contando com o da eleição, para dialogar com os fiéis. Integrantes da campanha de Lula acreditam que ele ampliará seu apoio junto ao público religioso sem necessidade de fazer a campanha ostensiva que Bolsonaro vem fazendo. Sua carta aos Cristãos, que se dirige a todos e deverá ser divulgada nas próximas horas, será distribuída em todos os templos.
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