Ibope revela que PSDB lucrou pouco com massacre do PT

A grande novidade dessa sondagem oportunista e até antidemocrática é que Lula está longe de ter sido anulado pelo massacre da malta aecista e midiática e pelo mau momento da economia



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lula x aecio capa

 

A recém-divulgada pesquisa Ibope sobre uma hipotética eleição presidencial em segundo turno, encomendada pelo jornal O Estado de São Paulo, revela mais pelo que não diz do que pelo que diz. E a maior novidade que trouxe é surpreendente: o PSDB lucrou muito pouco com o massacre de Dilma, do PT e de Lula que vimos assistindo desde o início do ano.

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Antes de chegarmos à ideia-força contida no texto, porém, vale uma longa análise lateral, mas quase tão importante, sem a qual não entenderemos por que essa pesquisa é pior para os golpistas do que eles pensam, se é que já não perceberam.

O que diz o Ibope, nem haveria necessidade de pesquisa para saber: Dilma, o PT e o próprio Lula se enfraqueceram no âmbito das dificuldades na economia e do suicídio de movimentos sociais e sindicais que dependem da manutenção de um governo de centro-esquerda para não serem dizimados, mas que teimam em ajudar a direita criticando medidas na economia sem as quais o Brasil afundará de uma maneira que jamais sonhamos que seria possível.

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Pautemo-nos, portanto, pelo adágio inglês “first things first” (primeiras coisas, primeiro). A própria realização da pesquisa neste momento confirma o que tem sido dito: Aécio Neves e seu grupo sabem que a única chance de o PSDB voltar ao poder é através de um golpe de Estado “branco” a ser desfechado imediatamente.

Nesse aspecto, vale notar que o Estadão tenha encomendado a pesquisa há quase um mês (segunda quinzena de junho) e só tenha divulgado agora. O que o jornal estava esperando? O momento “adequado” para divulgá-la, claro. Por que este é o momento adequado? Chegaremos lá…

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A “administração” cronológica da divulgação da notícia, diz muito. Diz que a encomenda da pesquisa não obedece a critérios jornalísticos; obedece a critérios políticos do grupo empresarial da família Mesquita e seus sócios, donos do jornal. Até aí, nenhuma surpresa. Mas esse é um dado da equação a ser anotado.

Sigamos em frente.

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Todos têm visto o esforço de setores do PSDB, do PMDB e de Estadão, Folha, Globos e Veja para materializar, via TSE, a impugnação da chapa que venceu a última eleição presidencial (Dilma Rousseff e Michel Temer).

Para quem não entende ainda os vários caminhos do golpe, essa trilha passa pela anulação da eleição presidencial de 26 de outubro do ano passado. Dessa forma, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, assumiria provisoriamente a Presidência da República e teria que convocar nova eleição presidencial em noventa dias.

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Os setores mais golpistas do PSDB – há setores menos golpistas por conveniência política, mas nem tanto) não avaliam, porém, que Cunha, em tese, poderia manobrar para permanecer no poder. Ofereceria ao “baixo clero” da Câmara a caneta presidencial e a possibilidade de esses bandidos, com ela, saquearem o Brasil e enriquecerem de uma forma jamais sonhada. Bastaria mudar a Constituição, mantendo Cunha no poder até 2018.

Para o mundo corporativo que Estadão, Folha, Globos e Veja representam, seria mel na chupeta. Cunha é o Golden boy do empresariado. Chegou aonde chegou servindo de despachante das corporações no Congresso.

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Para o PSDB como um todo, nem seria tão mau que Cunha desse um golpe dentro do golpe. Ele trataria de lotear o governo contemplando os tucanos, há mais de uma década alijados do poder central. E eles ainda desfrutariam do poder sem se comprometerem muito com o ajuste fiscal muito mais duro por que passará a economia caso Dilma seja derrubada.

Para o PMDB, porém, seria um desastre. Além de ser afetado pela criminalização de uma chapa eleitoral da qual foi parte integrante (Michel Temer), teria que conduzir o açoitamento da sociedade via um ajuste fiscal draconiano que sucederia o ajuste light que Dilma vem conduzindo.

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O que você acabou de ler é o pior cenário possível para o Brasil. Haveria um golpe e, depois, um golpe dentro do golpe. O cenário menos ruim seria o golpe vingar e Cunha, percebendo que não seria negócio ir tão longe apenas para fazer algumas negociatas, convocar eleições em noventa dias.

Esse é o cenário dos sonhos do PSDB, mas não de todo o PSDB. É o cenário do setor mais à direita do partido, hoje encabeçado por Aécio Neves. Contando com o golpe, ele permanece em campanha eleitoral à Presidência desde o início dela, ano passado.

No início da nova Legislatura do Congresso Nacional, entrou triunfante no Senado e, desde então, não há semana em que não esteja na mídia. Recentemente, bateu boca com Dilma Rousseff pela imprensa sobre golpismo.

Nesse ponto, vale olhar a pesquisa Ibope. Se a eleição presidencial em segundo turno tivesse sido no mês passado e Aécio a disputasse com Lula, o tucano venceria por 48% a 33%. Porém, se o candidato fosse Alckmin, haveria empate técnico (40% para o tucano e 39% para o petista).

Então, em uma situação menos desigual, Lula, surpreendentemente, ainda seria um candidato muito forte. Porém, um ex-presidente quase calado e alvo diário da artilharia midiática, que chega a divulgar que ele está com um pé na cadeia, leva uma desvantagem muito maior contra um candidato que está em campanha eleitoral há quase um ano, com forte exposição na mídia.

O PSDB paulista não vê com bons olhos essa sede de poder de Aécio. O PT se enfraqueceu tanto que até Fernando Henrique Cardoso sonha com 2018, além de Geraldo Alckmin e José Serra. Eles sabem que as chances do PSDB serão boas daqui a três anos, mesmo que a economia se recupere. Assim, sonham em enfrentar um Lula enfraquecido pela gestão Dilma.

A pesquisa Ibope, portanto, foi feita para animar a militância mais golpista do PSDB a persistir na impugnação da chapa Dilma-Temer, via TSE. E como essa militância conta com o apoio da mídia, não deixa de ser uma possibilidade.

Porém, os últimos movimentos em defesa da legalidade produziram resultados. A entrevista de Dilma à Folha, em que ela desafiou a oposição e a mídia a tentarem derrubá-la, bem como alguma reação de movimentos sociais, além dos alertas das cabeças pensantes do PMDB, reduziram a temperatura do golpismo.

Finalmente, portanto, chegamos à razão pela qual este Blog acredita que o PSDB ganhou muito menos do que se pensava com o massacre do PT. Vejamos o gráfico abaixo, com os votos válidos dos candidatos do PT e do PSDB no ano passado e hoje.

lula x aecio

 

Como se vê, hipoteticamente Aécio ganhou 14 pontos percentuais e o candidato petista perdeu 13. Ora, é claro que a situação é ruim para o primeiro e favorável ao segundo, mas se levarmos em consideração que um vem sendo massacrado sem quase abrir a boca e o outro está em campanha, com apoio da mídia e da situação econômica há quase um ano, o tucano não ganhou tanto assim.

Para empatar com Aécio (em votos válidos), Lula precisaria conquistar míseros sete pontos percentuais. Está longe de ser uma missão impossível.

Em uma nova eleição, tudo que não está sendo dito sobre o PSDB, seria dito. As campanhas negativas que os dois lados fariam um contra o outro não produziriam mais efeito contra Lula do que a que é feita hoje. E Aécio, que não está sendo atacado por ninguém, começaria a ser questionado sobretudo a partir de Minas Gerais, onde há muita coisa vindo à tona.

Além disso, analisando os votos totais da pesquisa Ibope recém-divulgada, a soma dos votos totais (48% de Aécio e 33% de Lula), chegamos a 81% do eleitorado. Ou seja, 19% desse eleitorado ou está indeciso ou não pretende votar em ninguém. Lula poderia, perfeitamente, extrair desse grupo os votos que lhe faltam para ao menos empatar com Aécio Neves.

A grande novidade dessa sondagem oportunista e até antidemocrática (por cogitar nova eleição logo após o Brasil ter decidido e sem que pese nada de concreto contra a presidente da República), portanto, é que Lula está longe de ter sido anulado pelo massacre da malta aecista e midiática e pelo mau momento da economia.

Por último, caso houvesse um golpe e Lula não quisesse se candidatar e o PT não tivesse candidato próprio, o apoio do ex-presidente poderia eleger um candidato de outro partido que enfrentasse Aécio. Ou seja, os tucanos e a mídia tucana têm muito menos a comemorar do que tentarão mostrar nos próximos dias.

Este analista ficou surpreso com essa pesquisa. Em sua modesta opinião, ela oferece motivos a Lula e ao PT para comemorarem.  Estão longe de estar mortos. E olhe, leitor, que o golpe ficou mais distante nos últimos dias. Se a economia se recuperar a partir do segundo semestre – o que depende, basicamente, do ajuste fiscal –, em 2018 o PT pode até ganhar de novo.

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