Ibaneis fala em sabotagem mas ele e sua vice têm muito a explicar

'A versão do Ibaneis enganado pela PM será desmascarada', afirma a colunista Tereza Cruvinel. 'E Celina Leão é bolsonarista ligadíssima a Michelle Bolsonaro'

Ibaneis Rocha e Celina Leão
Ibaneis Rocha e Celina Leão (Foto: Abr)


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Por Tereza Cruvinel

O governador afastado do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, bem como sua vice Celina Leão são peças importantes no xadrez da tentativa de golpe do dia 8. Nesta sexta-feira, 13, ao prestar depoimento,  ele fez papel de sonso: denunciou uma sabotagem das forças de segurança que teriam se aliado aos golpistas e facilitado a insurreição terrorista. Mas há lacunas na versão do governador e faltam explicações para a conduta de sua vice. Ele precisa continuar sendo investigado, e ela também.

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São fortes as suspeitas de que Ibaneis estava fora de Brasília e que sua vice bolsonarista ocupava efetivamente o governo. Segundo o ministro da Justiça, Flávio Dino, ela apareceu em seu gabinete, acompanhada do chefe da casa civil do GDF, Gustavo Rocha, por volta das 4hs30min, logo depois de decretada a intervenção federal na área de segurança do Distrito Federal.

Quando Dino fez esta revelação na entrevista à TV247 na quinta-feira, 12, perguntamos o que ela foi fazer lá. "Não sei", foi a resposta dele.

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Naquele momento, a situação ainda não estava controlada, embora a reação do governo federal já estivesse em curso, com a decretação da intervenção federal.  Examinemos aqui a conduta de cada um.

Sobre a "inocência" de Ibaneis, vale ressaltar que, ao longo da manhã de domingo,  ao contrário do que ele disse no depoimento, não teve contato direto com o ministro da Justiça. Dino recebeu informações do GDF dizendo que estava tudo bem, tudo sob controle, mas não através do próprio Ibaneis.

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A conta do governador no Twitter não teve qualquer atividade depois das 16hs14min do dia 6, sexta-feira, quando ele escreve sobre uma visita que havia feito à cidade satélite de Samambaia. Depois disso, Ibaneis só reaparece na rede social às 17hs08min do domingo do golpe. Nesta altura, o pior já havia passado e ele diz candidamente o seguinte:

Ibaneis Rocha

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@IbaneisOficial

Determinei a exoneração do Secretário de Segurança DF, ao mesmo tempo em que coloquei todo o efetivo das forças de segurança nas ruas, com determinação de prender e punir os responsáveis. Também solicitei apoio do governo federal e coloco o GDF à disposição do mesmo.

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Ele nem cita o nome de Anderson Torres, que estava no exterior. Naquela hora o interventor federal Ricardo Capelli já havia assumido o comando das forças de segurança da capital. Se alguém pôs as tropas na rua, foi ele. E, o mais engraçado, Ibaneis diz ter pedido o apoio do governo federal, quando este é que estava sendo atacado, juntamente com o STF e o Congresso.

Em seguida, Ibaneis faz outra postagem:

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@IbaneisOficial

Estou em Brasília monitorando as manifestações e tomando todas as providências para conter a baderna antidemocrática na Esplanada dos Ministérios.

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Por que o governador precisou dizer que estava em Brasília? Muita gente acha que ele estava fora da capital, tal como fez no 7 de setembro de 2021, quando as hordas bolsonaristas ocuparam a Esplanada e romperam o cordão policial que protegia a Praça dos 3 Poderes, ameaçando invadir o STF. Naquela noite a conduta da polícia de Ibaneis também foi estranha. O então presidente do STF, Luiz Fux, abortou o risco de invasão exigindo que a PM de Ibaneis controlasse a situação ou ele editaria um pedido de GLO (Garantia da Lei e da Ordem) para que o Exército assumisse a defesa do STF.

O silêncio de Ibaneis no Twitter, entre a tarde de sexta-feira e a tarde de domingo, reforça a ideia de que ele estava fora da capital num dia de crise anunciada. Estar fora é sempre um álibi.  Anderson Torres também plantou ou ajudou a plantar a bomba e correu para os EUA. Se Ibaneis estava fora, foi por isso que sua vice, Celina Leão, foi quem apareceu no Ministério da Justiça. E se ela estava no cargo, tem muito a explicar sobre a conduta da PM do DF, que protegeu os golpistas ao invés de garantir a segurança do espaço federal, como manda a Constituição.

Que mistério tem Celina?

Celina Leão é uma bolsonarista de quatro costados, ligadíssima à ex-primeira dama Michelle Bolsonaro e à senadora eleita pelo DF Damares Alves, ex-ministra do núcleo mais ideológico do bolsonarismo. Na campanha eleitoral de 2022 ele esteve na linha de frente do grupo "Mulheres com Bolsonaro". Estava com Damares na reunião com evangélicos em que a ex-ministro afirmou existirem crianças brasileiras tendo os dentes da frente arrancados por gangues pedófilas para fazerem sexo oral, uma dos lances mais cretinos da campanha, destinado a angariar votos de evangélicos e a criar pânico moral.

No domingo do golpe, ela só apareceu em sua principal rede social, o Twitter, às 18hs06min, quando tudo estava controlado, para dizer o seguinte: "Democracia não é a invasão e dilapidação do patrimônio público !!  Inadmissível a invasão aos poderes da república."

Mas antes disso, o que ela foi fazer no gabinete do ministro Flavio Dino?

Se o governador estava em Brasília, era ele quem devia dar explicações ao governo federal. Quem poderia comandar as forças de segurança era ele, mas elas só entraram de fato em ação depois da nomeação do interventor Capelli.

Há uma hipótese no ar: tanto ela como Ibaneis estavam no barco do golpe. Ele ficou sumido o dia todo e ela foi ao gabinete de Dino sondar a situação. Lá tomou conhecimento da intervenção, viu Capelli descer para assumir o comando das tropas. E a partir de então, vendo o golpe derrotado, ela e o governador trataram de salvar a pele, com postagens de condenação e o discurso de traição exibido por Ibaneis ainda ontem, em seu depoimento.

Celina tratou de inocentar o governador declarando que o comandante da PM é que alterou o plano de segurança aprovado por Ibaneis.

Que papel teve Gustavo?

Gustavo Rocha foi Secretário de Assuntos Jurídicos da Casa Civil e depois ministro dos Direitos Humanos no governo de Michel Temer, cargos que teria recebido em retribuição aos serviços que prestou a Temer durante a trama golpista que levou ao impeachment de Dilma Rousseff.

Após a eleição de Bolsonaro em 2018, quando Ibaneis também se elegeu governador do Distrito Federal, Temer conseguiu abrigar o aliado no GDF, onde acabou assumindo a Casa Civil depois de passar por um cargo menor.

Na trama do golpe de domingo passado ele teria novamente sido um colaborador importante. Não por acaso foi quem acompanhou Celina na estranha visita que ele fez ao gabinete de Dino, no calor dos acontecimentos.

Políticos de Brasília garantem: a versão do Ibaneis enganado pelo chefe da PM será desmascarada. E ainda veremos que os três estavam atolados no planejamento do golpe fracassado. 

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