Honra militar

Quando a chefia-de-Estado exercer de fato o comando supremo, a democracia brasileira aposentará suas pernas bambas, escreve Manuel Domingos Neto

General Paulo Sérgio
General Paulo Sérgio (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil | Marcos Corrêa/PR)


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Manuel Domingos Neto, 247 - As Forças Armadas brasileiras são incapazes de negar o uso do mar e do ar ao pérfido poderoso. Não podem dissuadir bloqueios ao comércio exterior brasileiro.

Se a disputa pela hegemonia na ordem mundial descambar para tiroteios na África e no Mediterrâneo, não podem impedir que Washington estabeleça uma cabeça de ponte no Nordeste. 

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Não lograriam evitar sabotagem cibernética que deixe a sociedade brasileira sem água, luz, combustível e comunicação. Sequer seus comandantes conversariam entre si seguros de não serem bisbilhotados.

Caso o Brasil não se alinhe aos objetivos do Pentágono, as Forças Armadas não teriam como garantir deslocamentos de tropas no território nacional: a manutenção de aviões e barcos seria interrompida.

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Em resumo, pelas armas, o Brasil não sustenta política externa soberana. 

Nada disso angustia os generais brasileiros. Anúncios de uma conflagração mundial não lhes tiram o sono. Como ocupam seus cérebros, além da modorrenta gestão de pesada burocracia? 

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O castro impôs um presidente fantoche, como o próprio reconheceu, agradecendo publicamente ao comandante do Exército, em suas palavras, “responsável” por sua ascensão ao cargo. Envolveu-se em seu governo genocida e empenhou-se, sem sucesso, em reelegê-lo. Estimula a contestação ao sufrágio do presidente Lula. Ao tergiversar sobre a confiabilidade das urnas eletrônicas, desrespeita a deliberação do povo. 

Seus comandantes não sentem a honra ferida ao serem tratados como golpistas por grupelhos orquestrados nas portas de quartéis. Agem como políticos refratários ao jogo democrático. Obstinados em contingenciar o próximo governo, afundam-se na perda de valores. 

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Honra militar é definida pelo cumprimento rigoroso da obrigação contraída com a sociedade. É difícil pedir honradez a quem não tem noção clara de suas obrigações. Quem vive em distúrbio de personalidade, assumindo-se militar, político ou policial, não fixa valores que balizem comportamentos. 

Os comandantes sabem que não podem negar a vitória de Lula. Mas, detentores da força, são péssimos políticos, destes acostumados a impor desígnios a qualquer custo. 

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Como policiais, o fracasso é rotundo: é hedionda a segurança pública brasileira. A Lei e a Ordem que insistem em garantir está engessada desde o tempo colonial: aos negros e pobres, sobra a violência. 

Lula será em breve comandante supremo das Forças Armadas. Seu talento político é inconteste. Sua capacidade de comando será testada. Comandar é estabelecer missões, determinar prazos e meios, exigir cumprimento de ordens, punir quando necessário, exaltar quando for o caso. Dobrar-se, nunca!

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Não basta dizer ao militar que volte ao quartel. Voltar para fazer o quê? A missão que lhe compete é se preparar para dissuadir ou abater estrangeiro vilipendiador. 

Se os comandantes levarem a sério essa missão, não disporão de tempo para agir como policiais, políticos, guardas florestais, cavadores de poços no semiárido, construtores de pontes e estradas, agentes de fronteira, fabricantes de remédios, assistentes sociais, fiscais de sistema eleitoral... Poderão, finalmente, encontrar o sentido objetivo da honradez.

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Ao longo da história brasileira, os chefes-de-Estado não se prepararam para comandar fileiras. Assim, alimentaram degradações institucionais. 

Quando a chefia-de-Estado exercer de fato o comando supremo, a democracia brasileira aposentará suas pernas bambas: preocupados com o estrangeiro cobiçoso, generais não tuitarão ordens à Suprema Corte. A soberania do povo prevalecerá. Chefes de Estado que desagradem às fileiras não serão desapeados de forma vil. Campeões de voto não serão suicidados, exilados ou encarcerados por manobras solertes. 

Quando prevalecer a honradez militar, poderemos, enfim, ver contente a mãe gentil.

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