Historiadora denuncia nossa falta de cultura democrática

A democracia brasileira sobrevive em risco permanente por não a termos aculturada

(Foto: Senado Federal)


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A democracia brasileira sobrevive em risco permanente por não a termos aculturada. A vitória de Lula em 2022 foi um passo importante para a garantia temporária da democracia, mas o passivo reacionário que veio à tona com Jair Bolsonaro está vivo, já que a sociedade brasileira possui raízes hierárquicas e escravistas fincadas a uma profundidade quilométrica. 

A constatação é da historiadora Heloísa Starling. A professora da UFMG e ganhadora do Prêmio Jabuti pelo livro “Brasil: Uma Biografia”, que escreveu junto com Lilia Schwarcz, conversou com a coluna sobre a democracia brasileira e os golpes - e tentativas - a que é sazonalmente submetida.

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“A democracia no Brasil, até 2018, havia caído algumas vezes por força de golpes de Estado. A novidade que enfrentamos nestes últimos anos é o fato de termos um presidente legitimamente eleito que tentou um processo de destruição da democracia por dentro - isso era inédito na História do Brasil. E ele disse que ia fazer isso”, avalia Starling. 

Já existe literatura internacional e brasileira explicando as novas formas de solapar a democracia. Por aqui, Marcos Nobre o faz em “Os Limites da Democracia no Brasil”. Também Sérgio Abranches, em o “O Tempo dos Governantes Incidentais”. E há Fábio Victor, com seu “Poder Camuflado”.

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Enfim, sabe-se como a democracia brasileira pode morrer hoje - e ela quase morreu. Mas, como pode renascer? Segundo Heloísa Starling, é necessário elaborar uma agenda de construção de uma cultura democrática que venha a eliminar a famigerada polarização.

“Uma polarização está se ossificando na sociedade brasileira. Isso é perigosíssimo para a democracia. A construção de uma cultura democrática é fundamental para quebrar essa ossificação”, diz a historiadora.

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O reacionarismo enraizado de que fala Starling é nítido e se expressa cotidianamente pela negação do outro, disfarçada de antipetismo já há algum tempo. Sim, o repúdio de certa elite ao Partido dos Trabalhadores virou guarda-chuva para diversos tipos de segregação. O reacionário estrebucha diante da Lei de Cotas porque seu filho não consegue entrar na faculdade - cotas seriam coisa de gente do PT. Mulheres ganham vez e voz, mas o sujeito não pode expor abertamente sua indignação machista, então ataca o PT por falta de algo que melhor simbolize a equidade de gênero no cenário político-partidário. 

“Há um fundo recessivo que se movimenta muito pelos afetos tristes, como o ódio, a ausência de compaixão. Na pandemia, eu me recuso a usar máscara? Como assim? É porque eu não tenho a referência do outro”, exemplifica a professora.

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De golpe em golpe, de ameaça em ameaça, a democracia brasileira segue oscilante, ora tendo de conviver com negacionismos e ódios. Não há renovação de lideranças políticas, por enquanto só existem algumas figuras promissoras. Não ocorre no Brasil um processo sistemático de formação de quadros partidários, tampouco debate público, este substituído por discussões acerca de interesses de grupos ou facções.

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