Hipóteses em torno da saída de Guedes por causa da Previdência
"Com Guedes fora, o que acontecerá com o Brasil? O Brasil real, o Brasil das pessoas comuns, o Brasil dos empresários produtivos e dos políticos honestos não sentirá qualquer mudança"
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Então Paulo Guedes vai se mudar definitivamente para os Estados Unidos se sua reforma da Previdência não passar no Congresso. Será uma tremenda frustração pessoal. Lá fora ele não terá um brinquedo de 207 milhões de habitantes para seu experimento neoliberal radical. A vida lhe parecerá monótona. Continuará ganhando muito dinheiro como sempre, mas não terá o trilhão de reais com que queria brindar a si mesmo e a seus amigos banqueiros no processo de liquidação da Previdência pública pela previdência de capitalização.
Com Guedes fora, o que acontecerá com o Brasil? O Brasil real, o Brasil das pessoas comuns, o Brasil dos empresários produtivos e dos políticos honestos não sentirá qualquer mudança. Os ocupados no mercado de trabalho continuarão ocupados, os desocupados também, as empresas continuarão funcionando – embora, claro, no ritmo lento que lhes foi imposto pela ausência de uma política econômica do governo no período Guedes. Mas a bolsa vai oscilar e cair. Como qualquer cassino, seguirá os palpites do momento, sem relação com a realidade.
A sociedade sentirá o alívio imediato da retirada de suas costas do peso mais violento do neoliberalismo ultra-ideológico. Calma, porém. O que fará Bolsonaro, caso ele próprio venha a sobreviver à derrota da reforma? Confessadamente ignorante em economia, ele transferiu a Guedes a responsabilidade absoluta de concepção e gestão econômica, com super-poderes ministeriais. Ambos vieram para destruir, não para construir. O que fará sem o seu destruidor-mor diante de expectativas da sociedade de mudanças na política econômica pós-Guedes?
O ministro que ameaça sair teve uma clara noção de ocupação do poder, embora não tenha sabido exatamente o que fazer com ele. Colocou em postos-chave do governo uma panelinha de economistas medíocres, a maioria oriunda de Chicago, com absoluta afinidade com sua ideologia ultra-liberal. Se ele sair de cena, algum deles pode ocupar o posto. Porém, não terá a fidelidade absoluta de Bolsonaro. Terá que inventar algum objetivo destrutivo tão bom quanto a Previdência, correndo o risco de confrontar a sociedade, como tem sido no caso dela.
Bolsonaro pode escolher um substituto de Guedes menos radical e mais comprometido com o desenvolvimento? Duvido. O Presidente dá todos os sinais de que não sabe absolutamente nada sobre neoliberalismo, mas é movido por um instinto provocador que não suportaria uma política econômica de compromisso. Seria como negar a si mesmo com sua profissão de fé liberal intuitiva, primitiva e cega. Há também a hipótese de que todos os apontados por Guedes o acompanhem na saída. Desse caos, em último caso, pode sair um novo governo.
Para Guedes, pessoalmente, a fuga para os Estados Unidos, sua segunda pátria, ou primeira, pode resultar proveitosa de um certo ponto de vista. Ele ficará longe do braço longo do Ministério Público que pode concluir a qualquer hora o inquérito sobre a fraude que patrocinou contra fundos de pensão de estatais no Brasil. Como homem público não deixará saudades. À margem da tentativa de destruição da Previdência não tomou uma única iniciativa econômica construtiva, sobretudo no campo da recuperação da economia e do emprego.
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