Hipócritas, não sabem o que é ajuda humanitária de verdade?
Qualquer aluno do 1º ano de Economia em qualquer faculdade sabe que a melhor ajuda humanitária que se dê a uma nação é o investimento em infraestrutura e o fomento para ações econômicas como o setor produtivo, agrícola, de turismo ou de serviços
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Qualquer aluno do 1º ano de Economia em qualquer faculdade sabe que a melhor ajuda humanitária que se dê a uma nação é o investimento em infraestrutura e o fomento para ações econômicas como o setor produtivo, agrícola, de turismo ou de serviços. Qualquer aluno de Relações Internacionais sabe que a geopolítica prioritária dos Estados Unidos da América sempre foi e será a forma de obtenção de mais petróleo para suas indústrias, seja pressionando politicamente (como fez no Brasil nos últimos 4 anos), seja patrocinando guerras (como faz com o Estado Islâmico na Síria). E qualquer aluno iniciante de Ciência Política também é sabedor que o jogo de marketing que se faz ao desconstruir a legitimidade de um país soberano não passa de um contra-marketing a destruir no imaginário das populações o respeito à democracia, portanto, a seus sistemas políticos.
Em síntese: paremos de ser marionetes ridículas que repetem a mídia e entendamos melhor o que acontece de fato na Venezuela, nesse momento.
Essa patética "ajuda humanitária" que insistem os EUA e o Brasil (atualmente uma miúda colônia dos gringos), não passa de uma desculpa para invadir a Venezuela, tirar do poder o seu presidente (Nicolás Maduro) e erguer à presidência daquele país um subordinado da Casa Branca (o deputado Juan Guaidó), assim facilitando o "roubo legalizado" do petróleo daquele povo soberano.
A fingida "ajuda humanitária" desse momento serve como a mesma desculpa (noutro corpus) usada pelo então presidente George W. Bush, em 2003, quando inventou que havia armas de destruição em massa no Iraque a fim de justificar a invasão àquele país, hoje terra arrasada, completamente destruído, estando seu povo a viver como mendigos, com presidentes-assessores de Washington D.C., apenas para mais uma vez roubar o petróleo pertencente a outra nação soberana.
(Explicando melhor.)
Tenho um vizinho venezuelano que, embora sinta saudades de sua pátria, ao se casar com uma brasileira, escolheu nosso País para viver. É este amigo[1] que me conta como funciona o fluxo do petróleo que é tão objeto de cobiça dos estadunidenses. Segundo narra este venezuelano, o petróleo de seu país está numa região estrategicamente bem localizada. Para se ter uma ideia, enquanto o petróleo que sai dos países árabes para os EUA (Iraque, Arábia Saudita, Kuwait, Líbia etc.), leva pouco mais de 45 dias de navio até as américas; navios saindo dos portos de Maracaibo, Guanta e Puerto Cabello (na Venezuela), no máximo em 6 (seis) dias estarão desembarcados na terra do Tio Sam.
Imaginem os riscos ambientais de um transporte de quase 50 (cinquenta) dias nas embarcações cheias de óleo bruto. Se houver qualquer vazamento, a vida no oceano fica comprometida (crime ambiental sem precedentes), além do custo de logística serem altíssimos, o que impõe um seguro com valor imenso. Sendo assim, o petróleo do país sul-americano é baratíssimo para a nação mais poderosa do mundo, quando comparado com os custos para levar petróleo do Golfo Pérsico até Golfo do México.
A Venezuela [já] possui a maior reserva de petróleo do mundo, com 17,9% do óleo disponível no planeta (conforme fonte de confirmação, reportagem da Revista Exame, datada de 24/01/19, e referendada pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo - OPEP). Porém, com as sanções econômicas impostas pelas grandes potências e que influenciam no preço do barril do petróleo, a maior commodities daquele país bolivariano está em baixa. E se é esse hidrocarboneto que capitaliza os ingressos de moeda estrangeira para movimentar a economia nacional, portanto, capaz de gerar riqueza a toda a nação, a Venezuela é vítima da OPEP e demais países ricos que, pela ganância, impõem sacrifícios ao povo[2].
(Porém...)
Se estamos mesmo preocupados com que o povo venezuelano receba "ajuda humanitária", não torçamos e briguemos para que nosso líder da nação, o presidente Bolsonaro, nem os presidentes de outros países, levem "comidinha" em caminhões para a Venezuela. Isso não somente é pouco para tanta gente, como não resolve o problema a médio e longo prazo. Portanto, exijamos de nosso presidente que seja grande e chame os outros países a constituírem um Fundo de Apoio à Venezuela. Um empréstimo a juros baixíssimos, em cuja exigência do recurso seja o investimento concreto na geração de emprego e renda para aquela população.
Se se juntam alguns países para assinar um acordo de cooperação internacional com vistas a investir alguns bilhões no setor produtivo (indústria, comércio e agricultura), no turismo[3] da Venezuela, em sua infraestrutura, em poucos anos veremos resultados plausíveis de uma sociedade recuperada e um povo novamente realizado.
Apresento ainda algo mais simples para se investir quando se quer mesmo cuidar de seres humanos: Tecnologia Social, isto é, em projetos como:
1. A tríade da alimentação: nos moldes da experiência brasileira, o Programa Nacional da Agricultura Familiar (PRONAF), junto com o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e com o Programa Nacional da Alimentação Escolar, portanto, o fomento aos pequenos produtores de alimentos, cuja venda, estimulada pelos governos locais, se daria ao abastecimento dos supermercados, e o excedente o próprio governo usaria para distribuir às famílias de baixa renda em cadastros condicionados à frequência escolar. Ou ainda: para garantir esses produtos mais saudáveis na merenda escolar das crianças;
2. As cooperativas de produção: fomentar a organização de produtores, a exemplo, cooperativa leiteira, ou cooperativa de fabricantes de móveis, ou outros tantos nichos de mercado em cuja produção sistematize a comercialização, o valor agregado etc.; e
3. A Economia Solidária: um sistema, grosso modo, de produção de capital a partir de institutos de microcrédito para o qual se preste a estimular pequenas fábricas (exemplos: fabricação de doce, sabão, produtos derivados, peças em manufatura, agroindústria, pescados, arte e artesanato etc.), isto é, indivíduos, famílias, ou cooperativas que possuam conhecimento em algum ramo e estejam dispostos a agregar valor a seus produtos, investindo em novas tecnologias de alcance próximo, maquinário, pessoal especializado, insumos e matéria-prima.
É importante lembrar que uma das premissas da Economia Solidária é fazer dos nichos, o quanto possível, instrumentos interconectados, ou seja, o intercâmbio das culturas e produtos. À exemplo: o produtor do milho, recebe o crédito para investimento, e vende o milho para a agroindústria de produtos derivados, que por sua vez, adquire as embalagens de outra fábrica que tenha recebido algum fomento de microcrédito ou de financiamento estatal dentro do paradigma da tecnologia social, e os produtos do milho são vendidos em estabelecimentos de um modo geral, ou em feiras e mercados agregados também ao sistema. Portanto, falamos de um círculo virtuoso da economia e do capital.
(Em síntese...)
Poderíamos escrever páginas e mais páginas de sistemas de Tecnologia Social que ajudariam efetivamente, vamos repetir: de forma eficiente e eficaz, países como a Venezuela, que necessitam da urgência de circulação do moeda saudável e estímulo à renda, ao consumo sustentável e, sobretudo, à alimentação plena, além de repactuar seus modais de desenvolvimento social, econômico, tecnológico e ambiental. Não o faremos porque o motivo deste texto é instigar outro paradigma de "ajuda humanitária" e certos de que, um Fundo de Apoio organizado pelos BRICS, inclusive pelo Banco do BRICS [4], uma estrutura de investimento no desenvolvimento global, pela União Europeia e pelos EUA. Não sendo a criação de algo como esse Fundo que sugiro, de princípios de caráter justo, solidário, humano, podemos esquecer essa tal "ajuda humanitária" proposta pelo EUA e garantir a certeza da desculpa da invasão (guerra) e de roubo institucional do petróleo daquele povo latino-americano.
(Na verdade...)
O mundo não possui vários países em crise humanitária – que precise deste tipo de ajuda "tabajara" que Donald Trump e Jair Bolsonaro (este último, submisso do primeiro) oferecem. O que prepondera nesse mundo é a crise de humanidade. A ganância dos grandes empresários do mundo, a corrida por mais e mais lucro, o consumo evasivo das pessoas que gera obrigação de mais produtos (em grande medida, inúteis), enfim, o mundo está em crise sim, mas é uma crise ética, uma crise civilizatória.
Precisamos nos reconstruir enquanto humanos. Somente assim poderemos de fato ajudar a Venezuela e tantas outras nações que sofrem com os excessos e selvagerias do atual capitalismo global.
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[1] José Rafael Rojas Lemus.
[2] É verdade que a sociedade venezuelana sofre demais hoje. Há um forte desabastecimento. Esse povo termina por ficar sem os bens e serviços básicos à sobrevivência humana, tais como alimentos, medicamentos, saneamento, saúde e educação de qualidade. Todavia, nada justifica a crueza dos países ricos explorarem a Venezuela dessa forma que querem.
[3] É importante lembrar que a Venezuela, país com grande extensão costeira vinculada a uma das mais belas regiões do planeta, o chamado Caribe. Além disso, as belezas de suas florestas, as maiores cachoeiras do mundo, as cidades históricas, a gastronomia, enfim, tudo na Venezuela respira turismo que, sendo investido intensamente, gerará emprego e renda às populações. (Exemplo: as Cataratas Ángel, que têm 979 metros de altura, e escorrem do Rio Churúm, no Parque Nacional Canaima; e suas praias paradisíacas e ilhas inigualáveis como a Isla de Margarita, no Parque Nacional de Mochima, em Cumaná.)
[4] Instituição financeira criada em 2014 pelo Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul com vista a investir no desenvolvimento e na infraestrutura de países em desenvolvimento.
Saiba mais em: http://brics.itamaraty.gov.br/pt-br/novo-banco-de-desenvolvimento.
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