Hipocrisia na política
A verdade nem sempre é aquela que à primeira vista parece ser
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Ao ler toda e qualquer denúncia, venha ela de onde for - quebra de sigilo telefônico feito pela PF, informações do Ministério Público, dossiês divulgados pela grande imprensa - o brasileiro, antes de acreditar piamente no que está sendo veiculado, deve parar e se perguntar: quem será o principal prejudicado com tal história? que interesses maiores poderão sofrer alterações se a denúncia, antes de se comprovar, passar a ser vista como fato real?
Normalmente, este comportamento funciona bem como regra. Num ano eleitoral, no entanto, ele deve ser levado ainda mais a sério. Num país onde o cidadão discute teses de Economia e Direito, está familiarizado com índices econômicos, regras de mercado e a uma massiva exposição de pontos de vista de magistrados na mídia, com certeza ele tem, também, condições de analisar fenômenos políticos em andamento.
O mais recente deles chega a estarrecer e envolve o futuro do mais rico e poderoso estado brasileiro nas próximas eleições. Somente um dia após a veiculação na TV das inserções semestrais do PT, apontando falhas na administração do PSDB, manchetes praticamente gêmeas são colocadas pela grande imprensa apontando denúncias contra o principal ator do vídeo, o pré-candidato do PT ao governo de São Paulo, o ex-ministro, Alexandre Padilha.
Não por falta de denúncias de peso contra as administrações do PSDB no estado, como os casos do pagamento de propinas nas licitações do metrô, mas por ter escolhido a escassez de água no estado, tema que toca o cidadão de perto - o vídeo do PT causou imediata reação no ninho tucano estadual e em suas ramificações nas esferas federais.
O recado de Padilha foi curto e grosso. Caminhando sobre um cenário ao estilo do histórico romance Vidas Secas, de Graciliano Ramos, o ministro disse que enquanto o sistema da Cantareira está quase seco, Billings está repleto de água e na verdade o que falta é planejamento e um governo estadual à altura dos paulistas que seja rápido para resolver problemas e não em arrumar desculpas.
Na reação tucana, com o já conhecido apoio da imprensa comercial, a semelhança das manchetes de O Globo e O Estado de São Paulo deveria constranger seus diretores que costumam postular a posição de defensores da ética nos meios de comunicação. A manchete de O Globo "Padilha indicou executivo para doleiro, apura PF"; somente se diferenciou da do Estadão, "Padilha indicou executivo para doleiro, aponta PF" pela escolha do verbo final.
No texto da matéria, pasmem, a mesma informação a de que a Polícia Federal detectou uma menção do deputado André Vargas sobre o Alexandre Padilha. Vargas teria dito ao doleiro Youssef que Padilha indicou um executivo para o Labogen, laboratório do doleiro usado, segundo denúncias para lavagem de dinheiro.
Perguntas que não tem respostas no momento mas que não custa nada refletir a respeito: A Policia Federal estava fazendo escuta com a autorização de quem? Quem na corporação tinha interesse de passar essa informação para os grandes jornais? Informações são pinçadas de escutas telefônicas e guardadas para serem liberadas em momentos de interesse?
O que a população brasileira e a de São Paulo precisa saber é se as indústrias paulistas terão água para continuar produzindo. Todos devem tentar entender porque a SABESP e o governo do PSDB, há 20 anos no poder, não conseguiram fazer as obras necessárias para se evitar a situação de risco eminente de falta d 'água que se vive hoje na região metropolitana de São Paulo.
Um estudo feito pelo próprio governo estadual, em 2008, e outro realizado pela USP, em 2009, apontaram a necessidade de se construir duas barragens, Pedreira e Duas Pontes, o que não aconteceu. O Sistema São Lourenço que deveria ter ficado pronto em 2012, só ficará pronto em 2018.
O que Padilha disse no vídeo, portanto, não foi uma crítica leviana. Apenas disse em palavras de fácil entendimento ao público o que aconteceu na verdade: o governo paulista não conseguiu criar alternativas à Cantareira porque não seguiu a recomendação de seus estudos, não fez obras e agora como não pode reconhecer seus erros, tenta jogar na lama o nome de quem diz a verdade.
E necessário que o cidadão brasileiro e principalmente a juventude, que está votando pela primeira vez, veja como na política nem tudo é o que parece ser. Dois pesos e duas medidas são sempre usados dependendo dos atores em questão. O jornal O Globo, que recentemente pediu desculpas ao país por ter apoiado o golpe de 1964, e o Estadão, defensor histórico dos interesses das oligarquias, não se afastam da trajetória de sempre.
Por que é que questões que envolvem personagens da oposição ao governo federal são tratados de maneira impessoal, enquanto a defesa da CPI exclusiva para a Petrobras é feita veementemente em reportagens diárias.
A oposição vai ao STF para garantir uma CPI exclusiva da Petrobras mas certamente vão trabalhar para tentar impedir a instalação no Congresso sobre o caso Alstom-Siemens, que jogou estilhaços na cúpula tucana, que já tem, inclusive, vários indiciamentos feitos em São Paulo.
No relatório final do inquérito, baseado em informações obtidas pelo Ministério Público da Suíça, o delegado Milton Fornazari Junior cita como evidência uma troca de mensagens de 1997 em que executivos da Alstom discutiriam o pagamento de vantagens para o PSDB, a Secretaria de Energia e o Tribunal de Contas.
Na Suíça, a Alstom pagou à Justiça US$ 43,5 milhões para suspender o processo no qual era acusada de corrupção e lavagem de dinheiro no Brasil. No decorrer do processo, executivos confessaram ter distribuído propinas de US$ 6,5 milhões a gente da administração estadual de São Paulo, em troca de um contrato de US$ 45 milhões para a expansão do metro, entre 1998 e 2001, período em que Alkmin era vice governador.
Quando se trata dos escândalos do metrô de São Paulo a oposição diz que não pode haver CPI no Congresso porque esta é uma questão estadual. Só se esquecem de explicar o porquê.
E por que ? Porque não é verdade. O metrô de São Paulo recebe financiamento e investimentos federais, assim como as empresas envolvidas, a Alstom, a Siemens etc, têm relação com o governo federal. Portanto, não há razão para se considerar que esse seja um assunto estadual. É um assunto nacional.
E se fosse estadual, ai a coisa se complicaria porque a política do governo tucano paulista é impedir a abertura de CPIs. Na Assembleia Legislativa de São Paulo há uma fila de mais de 100 pedidos de CPIs esperando aprovação.
Trata-se então de pura hipocrisia. A contradição é clara. Só querem investigar realmente uma questão quando ela interessa ao viés eleitoral da oposição aos governos petistas.
Num país onde o Judiciário age com dois pesos e duas medidas, a imprensa age com dois pesos e duas medidas e o Legislativo atua da mesma forma, ou seja, instituições tão importantes agem de forma tendenciosa, podemos dizer que vivemos numa real democracia? E o que fazer para alcançar uma democracia plena? Refletir, buscar a verdade por traz dos fatos, e lutar por mudanças são apenas alguns dos passos a serem trilhados num caminho ainda bastante longo a percorrer.
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