Hipocrisia na política

A verdade nem sempre é aquela que à primeira vista parece ser



✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.

Ao ler toda e qualquer denúncia, venha ela de onde for - quebra de sigilo telefônico feito pela PF, informações do Ministério Público, dossiês divulgados pela grande imprensa - o brasileiro, antes de acreditar piamente no que está sendo veiculado, deve parar e se perguntar: quem será o principal prejudicado com tal história? que interesses maiores poderão sofrer alterações se a denúncia, antes de se comprovar, passar a ser vista como fato real?

Normalmente, este comportamento funciona bem como regra. Num ano eleitoral, no entanto, ele deve ser levado ainda mais a sério. Num país onde o cidadão discute teses de Economia e Direito, está familiarizado com índices econômicos, regras de mercado e a uma massiva exposição de pontos de vista de magistrados na mídia, com certeza ele tem, também, condições de analisar fenômenos políticos em andamento.

O mais recente deles chega a estarrecer e envolve o futuro do mais rico e poderoso estado brasileiro nas próximas eleições. Somente um dia após a veiculação na TV das inserções semestrais do PT, apontando falhas na administração do PSDB, manchetes praticamente gêmeas são colocadas pela grande imprensa apontando denúncias contra o principal ator do vídeo, o pré-candidato do PT ao governo de São Paulo, o ex-ministro, Alexandre Padilha.

continua após o anúncio

Não por falta de denúncias de peso contra as administrações do PSDB no estado, como os casos do pagamento de propinas nas licitações do metrô, mas por ter escolhido a escassez de água no estado, tema que toca o cidadão de perto - o vídeo do PT causou imediata reação no ninho tucano estadual e em suas ramificações nas esferas federais.

O recado de Padilha foi curto e grosso. Caminhando sobre um cenário ao estilo do histórico romance Vidas Secas, de Graciliano Ramos, o ministro disse que enquanto o sistema da Cantareira está quase seco, Billings está repleto de água e na verdade o que falta é planejamento e um governo estadual à altura dos paulistas que seja rápido para resolver problemas e não em arrumar desculpas.

continua após o anúncio

Na reação tucana, com o já conhecido apoio da imprensa comercial, a semelhança das manchetes de O Globo e O Estado de São Paulo deveria constranger seus diretores que costumam postular a posição de defensores da ética nos meios de comunicação. A manchete de O Globo "Padilha indicou executivo para doleiro, apura PF"; somente se diferenciou da do Estadão, "Padilha indicou executivo para doleiro, aponta PF" pela escolha do verbo final.

No texto da matéria, pasmem, a mesma informação a de que a Polícia Federal detectou uma menção do deputado André Vargas sobre o Alexandre Padilha. Vargas teria dito ao doleiro Youssef que Padilha indicou um executivo para o Labogen, laboratório do doleiro usado, segundo denúncias para lavagem de dinheiro.

continua após o anúncio

Perguntas que não tem respostas no momento mas que não custa nada refletir a respeito: A Policia Federal estava fazendo escuta com a autorização de quem? Quem na corporação tinha interesse de passar essa informação para os grandes jornais? Informações são pinçadas de escutas telefônicas e guardadas para serem liberadas em momentos de interesse?

O que a população brasileira e a de São Paulo precisa saber é se as indústrias paulistas terão água para continuar produzindo. Todos devem tentar entender porque a SABESP e o governo do PSDB, há 20 anos no poder, não conseguiram fazer as obras necessárias para se evitar a situação de risco eminente de falta d 'água que se vive hoje na região metropolitana de São Paulo.

continua após o anúncio

Um estudo feito pelo próprio governo estadual, em 2008, e outro realizado pela USP, em 2009, apontaram a necessidade de se construir duas barragens, Pedreira e Duas Pontes, o que não aconteceu. O Sistema São Lourenço que deveria ter ficado pronto em 2012, só ficará pronto em 2018.

O que Padilha disse no vídeo, portanto, não foi uma crítica leviana. Apenas disse em palavras de fácil entendimento ao público o que aconteceu na verdade: o governo paulista não conseguiu criar alternativas à Cantareira porque não seguiu a recomendação de seus estudos, não fez obras e agora como não pode reconhecer seus erros, tenta jogar na lama o nome de quem diz a verdade.

continua após o anúncio

E necessário que o cidadão brasileiro e principalmente a juventude, que está votando pela primeira vez, veja como na política nem tudo é o que parece ser. Dois pesos e duas medidas são sempre usados dependendo dos atores em questão. O jornal O Globo, que recentemente pediu desculpas ao país por ter apoiado o golpe de 1964, e o Estadão, defensor histórico dos interesses das oligarquias, não se afastam da trajetória de sempre.

Por que é que questões que envolvem personagens da oposição ao governo federal são tratados de maneira impessoal, enquanto a defesa da CPI exclusiva para a Petrobras é feita veementemente em reportagens diárias.

continua após o anúncio

A oposição vai ao STF para garantir uma CPI exclusiva da Petrobras mas certamente vão trabalhar para tentar impedir a instalação no Congresso sobre o caso Alstom-Siemens, que jogou estilhaços na cúpula tucana, que já tem, inclusive, vários indiciamentos feitos em São Paulo.

No relatório final do inquérito, baseado em informações obtidas pelo Ministério Público da Suíça, o delegado Milton Fornazari Junior cita como evidência uma troca de mensagens de 1997 em que executivos da Alstom discutiriam o pagamento de vantagens para o PSDB, a Secretaria de Energia e o Tribunal de Contas.

continua após o anúncio

Na Suíça, a Alstom pagou à Justiça US$ 43,5 milhões para suspender o processo no qual era acusada de corrupção e lavagem de dinheiro no Brasil. No decorrer do processo, executivos confessaram ter distribuído propinas de US$ 6,5 milhões a gente da administração estadual de São Paulo, em troca de um contrato de US$ 45 milhões para a expansão do metro, entre 1998 e 2001, período em que Alkmin era vice governador.

Quando se trata dos escândalos do metrô de São Paulo a oposição diz que não pode haver CPI no Congresso porque esta é uma questão estadual. Só se esquecem de explicar o porquê.

E por que ? Porque não é verdade. O metrô de São Paulo recebe financiamento e investimentos federais, assim como as empresas envolvidas, a Alstom, a Siemens etc, têm relação com o governo federal. Portanto, não há razão para se considerar que esse seja um assunto estadual. É um assunto nacional.

E se fosse estadual, ai a coisa se complicaria porque a política do governo tucano paulista é impedir a abertura de CPIs. Na Assembleia Legislativa de São Paulo há uma fila de mais de 100 pedidos de CPIs esperando aprovação.

Trata-se então de pura hipocrisia. A contradição é clara. Só querem investigar realmente uma questão quando ela interessa ao viés eleitoral da oposição aos governos petistas.

Num país onde o Judiciário age com dois pesos e duas medidas, a imprensa age com dois pesos e duas medidas e o Legislativo atua da mesma forma, ou seja, instituições tão importantes agem de forma tendenciosa, podemos dizer que vivemos numa real democracia? E o que fazer para alcançar uma democracia plena? Refletir, buscar a verdade por traz dos fatos, e lutar por mudanças são apenas alguns dos passos a serem trilhados num caminho ainda bastante longo a percorrer.

iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

Este artigo não representa a opinião do Brasil 247 e é de responsabilidade do colunista.

Comentários

Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor, e não do 247

continua após o anúncio

Ao vivo na TV 247

Cortes 247