Higienizar nossas mentes é fundamental

Autocorrosão: o rancor que lhe consome

(Foto: Alexandre Severino)


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Por Rogério Puerta

Ninguém dá conta. A gente às vezes força a barra, se esforça, carrega fardos adicionais, nossos ombros pesam, mas teimosos nos assumimos guerreiros e guerreiras, a labuta diária, esforço contínuo, enfrentar mais um dia, mais um leão a matar.

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Um lutador de MMA, por óbvio bolsonarista, apregoa que a melhor forma de não se estressar muito com a absurda rotina de treinos, dietas, terapias pré-luta, é pensar nos períodos em que seja possível relaxar um pouco, desobedecer algo da disciplina, espraiar minimamente que seja: o chamado "Dia do lixo" semanal.

Tal quebra de rotina draconiana, ultradisciplinada, de sacrifícios e desejos alimentares reprimidos, seria a fórmula informal, empírica, apregoada por alguns lutadores para poder aguentar anos e anos de esforços colossais e dedicação a um esporte de altíssimo rendimento.

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Então no tal dia do lixo semanal se comeria o que tiver desejo, as vontades reprimidas, aquela pizza de calabresa, alguns copos de refrigerante, e por aí vai. Uns médicos discordam, porém outros dizem que, para um atleta de altíssima queima calórica regular e massa muscular disponível, o dia do lixo pode não ser tão danoso se não houver exagero, se, mesmo dentro do lixo, for um lixo moderado. Algo assim.

Você está estressado, seja na profissão, seja ao acompanhar de perto o embate emocional, físico até mesmo, que se trava em termos de política-partidária ultimamente. Necessário descarregar a tensão.

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Meio triste ter de admitir, admitir que sua referência nem é de alguém nacional, mas é fato, você bem se lembra de que, há anos, o ex-presidente estadunidense Bill Clinton, ao se ver envolvido com aquela estória toda com a estagiária da Casa Branca, o sexo oral que não era sexo, aquela coisa toda, você bem se lembra que o ex-presidente, em depoimento contundente, disse na época que para conseguir governar, para dar expediente enquanto mandatário máximo daquele país estranhoso, que ele simplesmente evitava taxativamente qualquer notícia sobre o caso de assédio sexual, evitava olhar ou ouvir, mesmo se fosse notícia considerada importantíssima, urgente, revolucionária, bombástica, um furo de reportagem, tal e tal.

Evitava saber de novidades pois confiava que o caso estava em boas mãos de seus advogados e em encaminhamentos corretos e protocolares da justiça dos EUA. Então assim conseguia dar expediente regular enquanto presidente, suas gigantescas responsabilidades de um presidente de país ultracapitalista com claros vieses imperialistas.

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Você não tem por hábito divagar, se abstrair a ponto de uma desconexão temporal, material, corpórea, sair um pouco do corpo, quase literalmente, se permitir a alguma espécie de viagem astral. Desapegar-se do peso da carne, o fardo do dia a dia, algo como flertar com a bela poética de uma insustentável leveza do ser. 

Não é seu hábito divagar e viver ilusões, mas às vezes isto é extremamente benfazejo para a mente, e então diretamente salutar também ao corpo, organismo, metabolismo em geral. Todos sabemos, é muito bom ouvir boas músicas, ver bons filmes, apreciar as curiosidades e instigações da cultura, da arte em geral. Faz bem para a cabeça, por instantes esquecemos o peso material de nosso corpo.

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Então que seja, se lance, sem medo, para alguns sempre há uma ponta de medo. Ao planejar viagem de carro com amigos imagina-se um acidente, a quebra da biela do sistema mecânico de sabe-se lá o quê. Pense positivo, o que não significa prescindir de precauções.

Pessimismo é autoalimentável, não vá querer imaginar que o carro ao qual você sairá de viagem no feriado prolongado com os melhores amigos, o seu carro, irá colidir de frente com uma vaca em plena luz do dia na divisa com Minas Gerais, e seu melhor amigo desde a infância, sentado no banco do copiloto, esqueceu-se de afivelar o cinto de segurança, bate a cabeça com força no para-brisa a ponto de um traumatismo craniano. Não dá, aí é pessimismo demais. Tudo envolve risco, todos nossos planejamentos nos trazem alguma pitada qualquer de receio, medo, precaução portanto.

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"Por que não pensei antes em ir pra praia?". Você se pergunta. Ocorre que, quando estamos estressados, esgotados, o mundo às vezes se fecha, nossa visão periférica escurece, há uma ligeira paralisia, teimamos em não enxergar horizontes além, cenários bem menos anuviados. Muitas vezes teimamos e cismamos com a própria condição negativa, nos afundamos e nos prendemos a tal infeliz condição.

Tanto rancor, raiva, e sua vertente extrema: o ódio. Ódio cego: não há quem aguente, mesmo aqueles que vivem sob permanente tensão. Um vingador tomado de raiva, querendo retribuir à sociedade todo o mal que dela absorveu, um delinquente sempre nervoso, raivoso, estressado, sempre querendo o mal pois foi o mal que sofreu e aprendeu ao longo da infância e adolescência.

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Ódio é autocorrosivo. Atesta-se. Também você bem sabe isto, nem precisa ficar sempre lembrando. Uma hora explode, uma bomba-relógio, há gente que está sempre pronta para a briga, abdômen rígido, cenho franzido, mandíbula apertada com os músculos acionados. Há gente que parece sempre odiar a quem não ame. Uma paixão, sentimentos opostos extremos, em geral a paixão é composta de dosagens de amor e ódio, daí crime passional.

Estes rancorosos que nunca aceitam o que lhes contradiga sempre sofrerão, mais e mais, acumularão rancor, mais e mais, raiva, ódio, mais e mais, e então se situarão a um passo ao ódio cego. Em consequência o colapso e a autocorrosão, o intenso sofrer.

Dar um tempo. Nem precisa ferir o orgulho, a honra, inventa-se algo, mente-se pra si próprio, um pouco só que seja. Assuma que está de prontidão para a batalha, mas por outro lado relaxa um pouco, deixa um pouco de lado a guarita, baixa a guarda, faz de conta que não será nenhuma infração militar, e que um comandante supremo generalíssimo ordenou expressamente que você assim aja, sem dar maiores explicações.

Ordenou-lhe: subordinado, deixe a guarita, baixe a guarda, alivie o peso do escudo em seu antebraço, desarme-se, feche os olhos e esqueça-se, entregue-se, também esqueça o mundo ao redor por um único dia, por breves momentos que sejam. Isto ou o colapso, isto ou a implosão.

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