Heleno manda; Bolsonaro é refém dos generais
"Não passaram despercebidos aos observadores mais atentos os últimos movimentos do general Heleno claramente inspirados na ditadura militar de 64, da qual é um dos saudosistas do atual governo, a começar do presidente da República", diz Alex Solnik, do Jornalistas pela Democracia; ele acrescenta que o general "empoderou a Abin"; "Heleno não precisa derrubar Bolsonaro para ser o manda-chuva, tal como Golbery também não precisou derrubar Figueiredo. Ele vai passar a mandar na sombra, enquanto Bolsonaro continuará sentado na cadeira, no papel de marionete. E de refém dos generais"
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Por Alex Solnik, colunista do 247 e membro do Jornalistas pela Democracia
Não passaram despercebidos aos observadores mais atentos os últimos movimentos do general Heleno claramente inspirados na ditadura militar de 64, da qual é um dos saudosistas do atual governo, ao lado do presidente da República.
Ele empoderou a Abin: agora a agência de espionagem política pode classificar qualquer documento ou informação como ultrassecreta; e a colocou para espionar os bispos da CNBB, quebrando uma das principais disposições da constituição, que proíbe perseguição política. Inaugurou a temporada de caça a comunistas.
A Abin não era tão prestigiada desde os tempos da ditadura, quando se chamava SNI. Embora fosse desejável que não ficasse sob holofotes, o general a trouxe para a ribalta.
Herdeiro do SNI de Golbery, Heleno está assumindo o papel que aquele general teve no governo Figueiredo. Tal como a rainha da Inglaterra, Figueiredo reinava, mas não governava. Quem governava era Golbery.
O seu poder derivava do seu poderoso arquivo. Ele tinha a ficha completa – do ponto de vista político, policial e financeiro – de todos os suspeitos de fazerem oposição (ou não) ao governo. Estudantes, políticos, empresários, artistas, os cambau. Podia chantagear quem quisesse.
O déficit de democracia desse governo é diretamente proporcional ao fortalecimento da Abin, cuja atuação era imperceptível desde a redemocratização. E é o instrumento mais poderoso de um estado policial.
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Há uma evidente situação de vácuo de poder. Bolsonaro tende a ficar cada vez mais encurralado por causa de suas ligações com Queiróz. Tende a perder autoridade com o avanço das investigações. Não vai cair, mas nem precisa.
Já se percebe que o poder está sendo disputado por Heleno e Mourão. Só que Mourão é um general sem tropas. Não tem como comandar nada. Quem tem é Heleno. E já está comandando.
Colocou no INCRA um general que vai tratar o MST a pontapé. O que poderá gerar mais violência no campo e sabe-se lá mais o que. O campo vai virar um caldeirão.
Mandou vigiar a CNBB e está tentando interferir no Sínodo sobre a Amazônia organizado pelo Vaticano por temer que no evento ocorram críticas ao Brasil.
Críticas vão ocorrer agora, com a notícia da espionagem. Nenhum governo democrático faz isso. E quando faz, cai. O Brasil vai moldando a sua imagem de regime autoritário a passos largos.
PS: Heleno não precisa derrubar Bolsonaro para ser o manda-chuva, tal como Golbery também não precisou derrubar Figueiredo. Ele vai passar a mandar na sombra, enquanto Bolsonaro continuará sentado na cadeira, no papel de marionete. E de refém dos generais.
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