Heleno enfeza a farda de Caxias, na CPI do 8/1
Se dizendo fidelíssimo a Bolsonaro até hoje, deixou escapar, aqui e ali, uma admiração platônica – para não dizer proctológica – pelo capitão
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O depoimento do “generinho” Augusto Heleno, na manhã de hoje, na CPI do 8/1, revelou a completa degradação do Exército Brasileiro, na medida em que aquele que é considerado um dos mais influentes na caserna se apresentou como uma espécie de Sancho Pança do quixotesco Jair Bolsonaro. Heleno tentou mostrar um perfil sensato e realista, diante das atitudes fantasiosas, para não dizer, dementes, do seu ex-amo. Aliás e como bom aio, o “generinho” lançou mão de todos os jargões consagrados pela falta de caráter e honradez para subestimar os atos golpistas. Então, com frases como “tirado de contexto”, “totalmente infundado”, “não era minha intenção”, “houve uma falha de fiscalização”, “espero que não tenha intimidado ninguém”, “isso é assunto sigiloso”, “mas eu não me lembro” e “eu lamento” tentou minimizar a infâmia na base da boa e velha desonra, desdizendo, hoje, aquilo que vem afirmando há décadas – desde quando era ajudante de ordens, ou seja, moleque de recados de Sílvio Frota, ministro do governo de Ernesto Geisel e que tentou golpear o presidente à época.
Se dizendo fidelíssimo a Bolsonaro até hoje, deixou escapar, aqui e ali, uma admiração platônica – para não dizer proctológica – pelo capitão, o que é uma coisa estranha à hierarquia militar. Por muito, mas muito menos do que o “generinho” fez, nesta manhã, eu perdi toda e qualquer admiração pelo meu próprio pai e, caso eu fosse filho, neto ou sobrinho de Heleno, mudaria até de nome, para evitar ser associado com alguém cujo caráter faz curvas, descreve parábolas e elipses. Quem já leu um único livro de história do Brasil, viu o “generinho” enxovalhar, deslustrar, amarfanhar a farda de Caxias e Osório, de Deodoro, que perdeu três irmãos na Guerra do Paraguai.
Depois de hoje, Heleno só se salva, mesmo perante os quartéis, se apresentar uma perícia médica constatando sua senilidade. Porque um homem capaz não pode se apresentar de forma tão depreciada, tão infamada. Acostumado a dar murros em mesas, a tratar jornalistas como soldados rasos, na base do grito, a histeria do “generinho” – lembrando que histeria vem do grego “ὑστέρα” e significa útero – deu lugar a uma fala mansa, defensiva, serena e em que a memória se negava a alcançar sua participação nos atos golpistas. “Eu vi tudo pela televisão”, disse Heleno, negando qualquer tipo de contributo ao episódio de 8 de janeiro, como Pedro, quando indagado pelos centuriões, negou Jesus. Um fracalhão...
“Ordeira e disciplinada”
Heleno estudou a vida inteira em escolas militares, gratuitamente, com dinheiro do contribuinte, e recebe um soldo (seus ganhos chegaram a R$ 54 mil mensais, durante o governo de Bolsonaro e, portanto, acima do teto constitucional, e devem ter retornado a R$ 23 mil) que faz inveja a muitos médicos, salva-vidas e defensores públicos. “Eu conheci os acampamentos por fotografias, mas era um lugar sadio, de muitas orações. Mas eu não sei como era a organização para alimentação e assistência, porque haviam muitas mulheres e muitas crianças. Uma manifestação ordeira e disciplinada”, disse o “generinho”, como se tanto os acampamentos quanto as invasões fossem ao acaso, uma casualidade.
Aqui, Heleno, que também é apelidado de Quasimodo, em virtude da semelhança física com o corcunda de Notre-Dame, parece fazer mais jus a esta alcunha do que à de Sancho Pança. No seu caso, a surdez, que em Quasimodo advém do badalar dos sinos da igreja, decorre de uma lesão espiritual e não auditiva; enquanto a paixão pela cigana Esmeralda se reproduz no fascínio, no apego e, quiçá, na chama, no desejo, no ardor, na volúpia e lascívia que não esconde por Bolsonaro. Mais que um paciente freudiano, que apresenta um grave quadro psiquiátrico, o “generinho” é uma figura sem noção, para usar um termo bastante atual, que chegou a agradecer um elogio sarcástico de um de seus indagadores, que o parabenizou por, supostamente, ter segurado o ímpeto golpista do ex-presidente de fechar o Supremo Tribunal Federal (STF) e prender seus ministros, o que viabilizaria sua permanência no poder, mesmo após ser derrotado nas eleições.
Quando apertado, escorregou; sobre as urnas eletrônicas, não teve saída e disse que precisam “evoluir”; sobre sua famosa resposta negativa à pergunta de um correligionário, se “ladrão sobre a rampa?”, disse que era uma frase que não se reportava ao presidente Lula – insultando a inteligência de todos, com a resposta digna de um rato. Na verdade, Heleno mostrou que todo o investimento público feito na sua instrução e na sua carreira foi e segue sendo dinheiro público jogado fora. Com sua postura dissimulada, ignominiosa e anêmica em termos morais, talvez esteja mais para o personagem Rocinante do que, propriamente, para Sancho Pança.
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