Halloween é o cacete!

Que tal os cursos de inglês e as escolas privadas incluírem festas com nossos duendes nos seus calendários escolares? Vamos fazer uma troca? Levem os duendes brasileiros para as escolas dos Estados Unidos

Que tal os cursos de inglês e as escolas privadas incluírem festas com nossos duendes nos seus calendários escolares? Vamos fazer uma troca? Levem os duendes brasileiros para as escolas dos Estados Unidos
Que tal os cursos de inglês e as escolas privadas incluírem festas com nossos duendes nos seus calendários escolares? Vamos fazer uma troca? Levem os duendes brasileiros para as escolas dos Estados Unidos (Foto: Laurez Cerqueira)


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Só Saci salva!
Saci é meu pastor, nada me faltará.
Já ví um. De vez em quando ele aparece.

Em frente à janela do meu escritório tem um arvoredo. Enquanto olhava, um tanto absorto de preguiça, a chuva que caia lavando a longa seca de Brasília, vi um vulto rodopiando num redemoinho por detrás das árvores, de uma para outra. Girava muito rápido. Estiquei o olhar para ver direito.

Meio arredio, foi chegando, chegando, e vupt pela janela. Era o Saci com seu gorro vermelho e cachimbo na boca.

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O susto foi grande. A única exigência que fiz foi que ele deixasse o cachimbo num cantinho da janela do lado de fora. Detesto cheiro de fumo. Tenho acessos de espirros.

Tive uma manhã divertida. Mas alguns momentos fortes de reflexão, porque Saci não é só brincadeira. Tem dia que ele vem com cada conversa que deixa a gente embaraçado.

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Dizem coisas simples, mas profundas, que têm a simplicidade apenas como porta de entrada.

Quando se entra nelas, é aquele universo! A gente fica pequenininho feito um grão de areia. Depois, quando se toma pé, fica grande, dono da situação.

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Rolou o maior "papo-cabeça".

Todos as vezes que a gente se encontra ele me pede para ajudar na preservação das florestas, dos rios, dos lagos, dos mares, do ar, de tudo que é vivo.

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Diz ele que sem isso morrerá, junto com os nosso duendes. Mula-Sem-Cabeça, Curupira, Boi Tatá, Mãe Dágua, Bicho Coleira e muitos outros, em extinção.

Extinção cultural, que é a mais terrível porque acaba até com as raízes do registro da nossa existência, disse o Saci.

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Se não fosse Monteiro Lobato, teríamos sido extintos.

A colonização no Brasil é tão estúpida que os cursos de inglês trouxeram para cá a festa Halloween, dos Estados Unidos, e as escolas estão adotando a festa no calendário oficial, em vez da nossa festa.

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Que tal os cursos de inglês e as escolas privadas incluírem festas com nossos duendes nos seus calendários escolares? Vamos fazer uma troca? Levem os duendes brasileiros para as escolas dos Estados Unidos.

Se incluírem festas de nossos duendes nos calendários escolares das nossas escolas, venho de gorro vermelho, claro, única roupa que tenho.

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Tem essa polêmica do nu aí, encabeçada por pessoas obscurantistas, mas nunca usei roupa e vou assim mesmo, como sempre fui.

Ah! Prometo deixar o cachimbo na floresta. Pega mal né?

Notou que as casas brasileiras estão cada vez mais parecidas com as de Miami? Os jardins estão cheios de Sete Anões, Branca de Neve, e outros estrangeiros, como se os duendes brasileiros não existissem.

Na conversa comprida, senti que o Saci estava um pouco ressentido e preocupado.

Por serem colonizados por brancos europeus, parece que os brasileiros, salve excessões, não gostam da gente, dos gnomos daqui.

Devem nos achar inferiores por sermos dos povos indígenas, dos povos africanos. Deve ser isso.

O Saci está preocupado com o Brasil, um dos países, considerado por ele, dos mais ricos do mundo em recursos naturais.

Foi duro e direto. Nossa maior ameaça são os capitalistas. Eles se apropriam da natureza, transformam as terras, as florestas, as águas, os animais, tudo que existe em mercadorias. As pessoas, também, e em consumidores.

As empresas, donas de tudo isso, além de envenenar terras, águas e frutos, são tão gigantescas que negociam ações nas maiores bolsas de valores do mundo.

Os lucros astronômicos que amealham na venda de tudo que tem no reino da natureza, e com a exploração dos trabalhadores, viram bancos e o dinheiro do lucro se multiplica com taxas de juros cada vez mais escorchantes, numa escalada sem fim de acumulação de capital.

Capital especulativo, que ergue e destrói coisas belas, como disse Caetano Veloso, está gerando cada vez mais pobreza, mais guerras, destruição da natureza, e desgraça mundo a fora.

Eu preciso falar assim, do elementar. Não falo para os intelectuais. Eles não precisam.

Falo para quem não sabe do elementar, que não pensa nas mazelas do capitalismo, das ameaças a nós duendes e à humanidade.

O capitalismo está transformando o planeta num inferno.

O mais grave é que os capitalistas inventaram máquinas poderosas de propaganda que enfiam a lógica deles na cabeça das pessoas dia e noite nas TVs, radio, jornais, revistas e internet, sem que elas se dêem conta.

Essa lógica está em toda parte, eles precisam da aceitação passiva das pessoas de que é assim mesmo, que "o capitalismo é a essência da natureza", como dizem eles.

O capitalismo de plataforma está se instalando, o fim da sociedade salarial também, assim como a automação se multiplicando com a impressora 3D, a devastação das terras por máquinas agrícolas sem volante, controladas por satélite.

Estão raspando as vegetações naturais sem dó, para plantação de monoculturas transgênicas.

Tudo isso vendidos como o suprassumo da "modernidade". O Brasil virando um país de freelacer.

O obscurantismo fará a gestão dos indesejáveis, como diz o jovem juiz de direito Rubens R R Casara, em seu livro Estado Pós-Democrático.

E mais, sabe aqueles heróicos ambientalistas que formaram brigadas para apagar o fogo ateado no Parque Nacional da Chapadas dos Veadeiros? Eles fizeram bonito. Mas ecologismo é muito mais. Eles deviam participar do debate pelo fim do capitalismo, do Estado de excessão que se instalou no Brasil para proteger os mega negócios dos conglomerados internacionais.

Seria ótimo se o mesmo heroísmo fosse canalizado para erguer uma sociedade socialista, democrática, ambientalmente sustentável.

Ouvi tudo isso do Saci, sentado na poltrona, pasmado, sem dar um pio.

A conversa foi comprida. Se for contar tudo que o Saci me disse no nosso encontro, no meu escritório, a eternidade vira um minuto, o dia vira noite, até o galo cantar.

Outro dia a gente emenda a prosa.

Viva o Saci!
Só Saci Salva!

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