Haddad e MPL fizeram despencar apoio a protestos contra aumento das passagens
Por que só um contingente tão microscópico de paulistanos adere a atos públicos que, em tese, interessam à maioria da população da cidade?
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Segundo a última estimativa populacional do IBGE, a capital paulista tem hoje 11.967.825 habitantes. É uma população imensa, quase o dobro da população do Paraguai, maior que a da Bolívia e quase igual à do Chile. Cerca de metade dessa população usa algum tipo de transporte público cotidianamente, sem contar quem usa eventualmente.
Confira, abaixo, imagens dos últimos atos do Movimento Passe Livre, em São Paulo, contra os aumentos das tarifas de ônibus e metrô.
Os números sobre o contingente de manifestantes nos vários atos que o MPL vem promovendo em São Paulo com vistas a obrigar Fernando Haddad e Geraldo Alckmin a revogarem o reajuste de 30 centavos no preço das passagens de ônibus e metrô, como em 2013, vai de 1 mil, na avaliação da PM, a 7 mil, na avaliação dos manifestantes.
Surge, então, a pergunta inevitável: por que só um contingente tão microscópico de paulistanos adere a atos públicos que, em tese, interessam à maioria da população da cidade?
A explicação mais fácil é a de que o uso que o MPL faz da tática black bloc (esse tipo de ação havia sumido e só retornou no primeiro ato contra o aumento das passagens, há poucos dias) esvaziou os protestos.
Ainda não há pesquisas de opinião recentes sobre como a população paulistana enxerga um método de protestar que causa tanto sofrimento sobretudo à população mais pobre, já que os atos do MPL ocorrem sempre no horário em que essas pessoas estão saindo do trabalho e acabam encontrando vias paralisadas e/ou linhas de ônibus e metrô interrompidas. Mas, seguramente, essas pesquisas virão e mostrarão forte repúdio a essa forma de protestar.
Porém, essa não é a única explicação para a desidratação galopante dos atos contra o aumento anual das passagens.
Apesar do inconveniente para a população, se houvesse um problema dramático para os paulistanos pagarem a passagem de ônibus, metrô ou trem certamente haveria um afluxo exponencialmente maior aos atos do MPL.
Contudo, políticas públicas do prefeito Fernando Haddad para o transporte público reduziram muito as dificuldades financeiras da população paulistana para se locomover pela cidade.
Um estudo recente e amplo divulgado pela administração Fernando Haddad revela que medidas o prefeito de São Paulo tomou, ao longo dos últimos três anos, para tornar quase irrelevante o custo do transporte público para os usuários, mas o grupo militante de esquerda Jornalistas Livres sintetizou as 10 principais medidas. Confira, abaixo, quais são
1 O reajuste para R$ 3,80 é ligeiramente menor que a inflação em 2014
O último reajuste da tarifa básica de transportes coletivos na capital foi em janeiro de 2015, quando passou a R$ 3,50. A nova tarifa aprovada para 2016 é R$ 3,80.
Se tomarmos só o período desde o último aumento (jan/2015 a jan/2016), verificaremos que a inflação foi acima de 10% e o reajuste aprovado é de 8,57%. Desse modo, o reajuste é ligeiramente menor do que a inflação no último ano. Para recompor a inflação, a tarifa deveria subir para perto de R$ 3,87.
2 A tarifa tem seguido a inflação, medida pela IPCA, nos últimos 11 anos
Se voltarmos para o início de 2005, quando a tarifa era R$ 2,00 e aplicarmos a inflação no período, chegaremos a R$ 3,75. Quase o mesmo valor aprovado agora. Podemos, dessa forma, afirmar que a tarifa tem seguido a inflação, medida pela IPCA, nos últimos 11 anos.
3 Usuários dos bilhetes temporais não terão reajuste
Os bilhetes temporais (mensal, semanal e 24 Horas) não foram reajustados em 2015 e não serão reajustados agora. Assim o valor para o cartão mensal, válido por 31 dias para metrô ou ônibus, permanecerá em R$ 140,00. O cartão que mensal que permite o uso tanto em trilhos como em ônibus continuará a ser vendido por R$ 230.
Um usuário que fizer 47 viagens de ônibus em um mês, tendo pago R$ 140, terá uma tarifa de R$ 3,00 por viagem. O mesmo valor que tem pago desde 2013.
A utilização dos bilhetes temporais mais que dobrou (116%) entre 2014 e 2015, de 114 mil para 250 mil, por essa vantagem.
4 O passe livre a estudantes da rede pública não terá alterações
Estudantes da rede pública e de baixa renda têm isenção integral da tarifa, bem como aqueles de famílias de baixa renda. Há 536 mil estudantes com direito à gratuidade. Outros estudantes têm isenção de 50%.
Em novembro de 2015, alunos com gratuidade fizeram 1,09 milhões de utilizações por dia. Contando-se todos os alunos foram 1,46 milhões.
5 Desempregados têm gratuidade por 90 dias
A partir de novembro de 2015, os desempregados, que tenham terminado de receber o Seguro-Desemprego, podem receber um bilhete único gratuito com validade de 90 dias. A Prefeitura estima em 500 mil utilizações por dia.
6 Passageiros pagantes recuaram quase 10% no ano
Em 2014 e 2015, o número de passageiros por dia ficou próximo de 9,7 milhões. Entretanto, se considerarmos somente os passageiros pagantes houve um recuo em 2015 de 9,5%.
As razões apontadas para a diminuição dos pagantes são o (i) passe livre dos estudantes, (ii) a ampliação da gratuidade para idosos a partir de 60 anos e (iii) a adesão aos bilhetes temporais.
7 O custo total do transporte subiu 8% em 2015
O custo operacional total do sistema de transportes foi de R$ 600 milhões no mês de dezembro de 2014 e subiu para R$ 646 milhões em dezembro de 2015. O percentual de aumento aqui verificado foi de aproximadamente 8%.
8 O subsídio da Prefeitura será de R$ 1,91 por passageiro pagante
Se dividirmos o custo total pelo número de passageiros que pagam pelo transporte o valor da tarifa deveria ser R$ 5,71. Em 2014 era de R$ 4,77. Como a nova tarifa será de R$ 3,80, haverá um subsídio de R$ 1,91 por passageiro pagante.
9 Um em cada cinco passageiros tem gratuidade
Os pagantes de tarifa integral representam 57% do total de viagens. Devemos ressalvar que aqui estão empregados formais que têm o vale-transporte, subsidiado pelos empregadores. Os pagantes que contam com algum tipo de desconto representam 25% das viagens e os não pagantes são 18%.
A Prefeitura afirma que “mais da metade dos usuários do sistema de transportes (53%) não será impactada pela mudança na tarifa unitária, porque são beneficiários de gratuidades, usam bilhetes temporais que não terão aumento ou são trabalhadores que já pagam o limite legal de 6% do salário para o vale transporte”.
10 Gasto da Prefeitura com subsídios subirá 12%
O subsídio da Prefeitura de São Paulo ao transporte público foi de R$ 1,7 bilhão em 2015 e está previsto para R$1,9 bilhão em 2016. Esse valores representam um acréscimo de 11,76% em 2016 sobre 2015.
Ao largo da questão real, o transporte público, porém, trava-se uma guerra política entre os partidos que se assenhoraram do MPL (PSOL e PSTU) e o governo municipal do PT e o estadual do PSDB. Os partidos de oposição tentam instrumentalizar a questão com vistas à eleição deste ano, enquanto que os partidos de situação tratam de denunciar o viés político das manifestações.
Nessa guerra política, Alckmin nega abusos da PM contra os manifestantes e justifica as ações da corporação por conta dos abusos do uso da tática black bloc pelo MPL. Nesse aspecto, dois vídeos recém-divulgados mostram os dois lados da moeda.
O grupo Jornalistas Livres divulgou um vídeo mostrando um PM “plantando” provas na mochila de um manifestante detido. Abaixo, o vídeo.
Em seguida, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo divulga vídeo que insinua que a prova foi “plantada” porque o manifestante que a PM teria incriminado havia atirado um coquetel molotov contra policiais e saído correndo, de modo que foram colocados de volta na mochila dele artefatos que teria jogado fora durante a fuga. Abaixo, o vídeo.
Agora, a Polícia Civil, comandada por Alckmin, promete investigar a relação entre o Movimento Passe Livre (MPL) e os black blocs. O secretário da Segurança Pública, Alexandre de Moraes, acusa o MPL de “acobertar” os mascarados.
O movimento, porém, afirma que a alegação “não faz sentido” e que faz parte da estratégia do Estado de criminalizá-lo. Contudo, não explica por que os black blocs só reapareceram quando o MPL voltou às ruas.
Seja como for, os abusos da PM são inegáveis. A incompetência da corporação é estarrecedora. Os abusos que pratica, aliás, são a grande esperança do MPL e seus tentáculos – foi assim que uma pequena manifestação em 2013 se transformou em manifestações gigantescas, graças à truculência da polícia de Alckmin, que revoltou gente que, até então, nem estava dando bola para a questão das tarifas.
Os PM’s atuam descontroladamente. Atiram bombas para todo lado. Não querem nem saber se quem está na mira é um passante ou um black blocker. Bate em mulheres, velhos e, se bobear, até em crianças. Comete arbitrariedades, humilha manifestantes. Com frequência, gratuitamente…
É o PSDB no Poder.
O saldo disso tudo, é o seguinte: o MPL comete abusos, a PM retribui com abusos e, no meio, a população fica refém dos interesses políticos de uns e de uma visão francamente fascista sobre como administrar a Segurança Pública.
Só quem merece elogios, em meio a tudo isso, é Fernando Haddad, que com serenidade, bom senso, espírito público e competência vem revolucionando a mobilidade urbana em São Paulo, tendo obtido vitórias imensas nesse setor, que se espera que a população reconheça quando for chamada a refletir sobre a cidade.
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