Há 75 anos, a resistência italiana derrotava o fascismo

Diferentemente do processo de unificação nacional e de modernização estatal italiano, na segunda metade do século XIX (o Risorgimento), a Resistenza não se caracterizou por ser aquilo que Gramsci designou como sendo uma “revolução passiva”, mas sim uma “revolução ativa”, fundada num amplo arco de forças políticas democráticas



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O ano era 1943 e a ditadura fascista começava a ser derrotada numa Itália bastante destruída. Após os primeiros reveses sofridos pelas potências do Eixo e o desembarque das forças aliadas na Sicília, o mesmíssimo rei que havia apoiado a tirania fascista durante mais de duas décadas, convivendo com os camicie nere desde a Marcha sobre Roma de 1922, ensaia um rodopio político com o intuito de tentar fazer sobreviver a monarquia italiana diante da virada do cenário bélico na Segunda Guerra Mundial.

Então, no dia 25 de julho, Vittorio Emanuele III lidera um golpe contra Benito Mussolini, coloca-o na prisão e põe no seu lugar o marechal Pietro Badoglio para dirigir uma espécie de governo fascista sem Mussolini. Porém, em 8 de setembro, Badoglio assina o armistício com os países aliados, para a ira completa dos alemães, que invadem o território italiano, libertam o Duce e ajudam-no a criar a República Social Italiana, na cidade de Saló, na região nortista da Lombardia. Imediatamente, o rei e o marechal refugiam-se em Brindisi e fundam um novo reino que se estende até Montecassino.

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Nesse exato momento, numa Roma ocupada pelos nazistas, uma série de forças políticas antifascistas reúnem-se para criar o Comitê de Libertação Nacional (CLN). Era o início dessa que foi uma das mais fascinantes histórias de luta contra a opressão no curso do século XX: a história da Resistência antifascista italiana.

Mesmo não havendo um consenso sobre as características fundamentais do novo Estado a ser construído sobre os escombros do regime ditatorial, liberais, católicos, socialistas, comunistas, entre outras forças políticas, uniram-se em torno de um denominador comum – a necessidade de combater o inimigo comum representado pelo fascismo.

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Do verão de 1943 à primavera de 1945, calcula-se que cerca de 300 mil partigiani tenham participado da luta armada contra nazistas e fascistas em solo italiano, em combates duríssimos, cidade após cidade, na direção do norte do país. Diferentemente de Roma, uma a uma, as cidades do norte italiano são libertadas de forma insurrecional pelos partigiani, até que, em 25 de abril, o Comitê de Libertação Nacional da Alta Itália, com sede em Milão, proclama a insurreição geral em todos os territórios ainda ocupados por nazistas e fascistas, com a seguinte palavra de ordem: “Render-se ou Morrer!”

No dia seguinte, na primeira página do L’Unità (famoso jornal dos comunistas italianos) de Milão, duas fotos aparecem estampadas: a primeira, de Antonio Gramsci no seu leito de morte; a segunda, de Palmiro Togliatti sorrindo. O sofrimento do grande líder e intelectual comunista italiano morto nos cárceres fascistas havia sido finalmente vingado.

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Dois dias depois, em 28 de abril, Mussolini e sua amante foram executados por um grupo partigiano e, em seguida, expostos pendurados na praça Loreto, em Milão. Era o fim do fascismo!

Diferentemente do processo de unificação nacional e de modernização estatal italiano, na segunda metade do século XIX (o Risorgimento), a Resistenza não se caracterizou por ser aquilo que Gramsci designou como sendo uma “revolução passiva”, mas sim uma “revolução ativa”, fundada num amplo arco de forças políticas democráticas.

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Talvez não seja exagerado afirmar que, passados 75 anos, a unidade das forças políticas democráticas que resultou no 25 de abril de 1945 dos partigiani italianos ainda tenha algo a ensinar a nós que lutamos contra o fascismo em solo brasileiro, nesse distópico ano de 2020, para além do seu belíssimo Bella ciao.

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