Guerras ontem e hoje

"Os ingleses da I Guerra revividos com cores e som em "Eles Não Envelhecerão" e as tensões iniciais da Guerra da Ucrânia em "Klondike"

(Foto: Courtesy of Warner Bros. Picture)


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As cores e os sons da I Guerra

Por 19,90 reais a plataforma Apple TV lhe oferece a oportunidade de visitar a I Guerra Mundial em cores e minuciosamente sonorizada. Eles Não Envelhecerão (They Shall Not Grow Old) é uma façanha tecnológica admirável. Sob o comando de Peter Jackson (O Senhor dos Anéis), uma tropa de técnicos restaurou, colorizou, corrigiu o ritmo e sonorizou filmagens e fotografias da I Guerra. Fez isso de tal forma que tudo parece ter sido captado, digamos, na década de 1940 e editado, como de fato foi, em 2018.

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Ao mesmo tempo, um pequeno batalhão de pesquisadores coletou gravações de testemunhos em áudio de dezenas de ex-soldados e ex-oficiais que descrevem os horrores, o orgulho e eventualmente a euforia que viveram no alistamento, na preparação e nas batalhas do front francês. Quando voltaram, eram outros homens, apartados de uma sociedade civil incapaz de dimensionar aquilo por que tinham passado.

Uma habilidosa concatenação de imagens e falas em voice over expõe detalhes horripilantes, como a falsificação das idades de jovens de 15 a 17 anos para serem mandados para o front; ou a normalização da morte nas trincheiras. A presença de uma câmera no palco da guerra era ainda uma novidade, diante da qual os soldados se sentiam instados a sorrir – mesmo em meio à carnificina, o que constrói um dualismo de bruta ironia.

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Aquele era um modelo de guerra muito mais sujo e rudimentar do que as "guerras limpas" de hoje. O filme enfatiza isso, de certa forma restituindo o valor de espetáculo que as cenas originais de 1914-1919 perderam com o tempo. Mas este é um espetáculo doloroso e devastador, que fica longe de enaltecer o conflito. As imagens frequentes de corpos dilacerados e os pormenores da vida no inferno da guerra não animam ninguém a jogar a primeira bomba.  

>> Eles Não Envelhecerão está na Apple TV.

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O trailer:

https://www.youtube.com/watch?v=-NL0738OWgY 

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Os girassóis da Ucrânia

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Klondike

O que torna Klondike – A Guerra da Ucrânia (Klondike) um filme de guerra particularmente angustiante não é o "espetáculo" do conflito, mas a sua virtual ausência, substituída por um exasperante jogo de tensões. Testemunhamos, sim, duas explosões, vemos os destroços do avião da Malaysia Airlines que caiu na região de Donetsk em 2014 e uma súbita cena de execução de três homens. Nada disso, porém, causa tanto incômodo quanto a aflição de Irka (Oksana Cherkashyna) com sua gravidez e sua teimosia em não abandonar a casa enquanto seu vilarejo vai sendo ocupado pelas facções separatistas.

Em 2014 a Guerra da Ucrânia apenas começava, com os russos apertando o cerco sobre o Donbass e o ódio crescendo entre nacionalistas ucranianos e separatistas pró-Rússia. No campo minado entre os dois lados está o marido de Irka, Tolik (Sergey Shadrin), pressionado de um lado pela mulher para ser fiel à Ucrânia e de outro por amigos para que se junte aos rebeldes. 

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A diretora Maryna Er Gorbach se afasta pouco do epicentro, a moradia do casal que tem uma parede derrubada por bombas. Esse enorme buraco na sala é uma metáfora da violação provocada pela guerra na vida das pessoas comuns. Mesmo assim, Irka insiste em ficar ali, muito próximo à fronteira da Rússia, tentando remendar os destroços à espera de um filho que representa o futuro incerto. Seu irmão nacionalista também quer retirá-la, mas acaba se transformando no pivô de um desfecho trágico. 

O filme não menciona os russos, preferindo concentrar a rivalidade entre os próprios conterrâneos ucranianos. Mas a forma como retrata os separatistas alheios a qualquer vestígio de humanidade indica de que lado se posiciona. Trata-se de uma produção legitimamente ucraniana, apoiada pela Turquia, pátria do marido da diretora, o também cineasta Mehmet Bahadi Er. 

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Klondike não é um filme agradável sob qualquer aspecto. Embora a câmera descreva as ações em geral com movimentos longos, lentos e imperturbáveis, o que está dentro do quadro é quase sempre desolador, opressivo, quando não flagrantemente desconfortável. As dores do parto de Irka se aproximam de uma certa obscenidade do sofrimento. Podemos não ver a guerra em seus primeiros estágios, mas a imagem de cadáveres em meio a um campo de girassóis mortos pode ser mais dolorosa que um bombardeio espetacular.

>> Klondike – A Guerra na Ucrânia está no Now e na Belas Artes à la Carte

O trailer:

https://www.youtube.com/watch?v=3U49voMu3As

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