Guerra híbrida segue: parlamentarismo verde oliva

"A Bolsonaro restaram as ameaças, sem capacidade de colocá-las em prática. Nem a reabertura apressada do comércio, menos ainda a substituição do ministro da saúde. Está isolado, com todos contra ele, como confessou o general Villas Boas. Fica reduzido à impotência", escreve o sociólogo Emir Sader

Luiz Henrique Mandetta e Jair Bolsonaro
Luiz Henrique Mandetta e Jair Bolsonaro (Foto: Agência Brasil)


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A nova estratégia da direita é a perversão por dentro da democracia liberal, contando com a mídia e o Judiciário como peças fundamentais. É um golpe que assume forma institucional, mas que destrói a democracia por dentro, montando outra institucionalidade, blindada, para impedir o retorno da esquerda ao governo. Leva o nome de guerra híbrida.

O primeiro movimento dessa guerra híbrida no Brasil foi o golpe contra a Dilma, que assumiu a forma de um impeachment, sem nenhum fundamento legal, mas contando com a conivência, o silêncio cúmplice do Judiciário. Estava rompida a democracia, como forma de tirar o PT do governo e retomar o modelo neoliberal. Derrota quatro vezes consecutivas de forma democrática pelas eleições, a direita apelo para o atalho do golpe.

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O segundo movimento foi a prisão, a condenação do Lula sem nenhuma prova e a proibição da sua candidatura, favorita para ganhar no primeiro turno as eleições presidenciais de 2018. Se impedia o retorno do PT ao governo pela via da eleições, impedindo o Lula de ser candidato.

O terceiro movimento foi a montagem monstruosa via whatsapp da operação que impediu, de forma absolutamente ilegal, a Fernando Haddad de ser eleito presidente. A direita promoveu a eleição de Bolsonaro à presidência, de forma fajuta.

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Uma vez que Bolsonaro se revelou ser bom candidato - para a operação eleitoral montada -, mas mau presidente, era necessário resolver o problema da governabilidade. O próprio Bolsonaro foi se cercando cada vez mais de militares – da ativa e da reserva -, como pessoal do seu governo, conforme o pessoal que ela tinha, foi se revelando incapaz ou entrou em conflito com ele.

As FFAA, ao invés de cumprir suas funções constitucionais de garantir a soberania nacional, se havia transformado em alternativa de reserva de poder para a direita, conforme os partidos tradicionais da direita entrassem em crise, como aconteceu em 1964 e por mais de duas décadas depois.

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No governo Bolsonaro os militares participam desde o começo, ocupando cargos cada vez mais próximos da presidência, e compactuando com tudo o que o governo faz, da radicalização do modelo neoliberal à privatização do patrimônio público, incluído centralmente os ataques à Petrobras. Ficaram aguardando o enfraquecimento do governo, para cercar Bolsonaro, colocar limites a certos excessos dele e, finalmente, construir um cerco institucional.

Houve quem falasse de um parlamentarismo branco, que estaria sendo imposto pelo Congresso, mas o que se avizinha é um parlamentarismo verde oliva, com uma espécie de primeiro ministro, o general Braga Neto, que assume as vezes de coordenador dos ministros e, especialmente, ocupando-se da política de saúde, para impedir qualquer loucura da parte de Bolsonaro.

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Já haveria uma coordenação militar em torno dele, que esvazia institucionalmente o peso de Bolsonaro. Uma coordenação que já atua, como no caso de impedir a destituição do ministro da saúde, além de tratar de neutralizar os danos causados nas relações com a China, pelas desastrosas declarações dos filhos de Bolsonaro e de outros ministros folclóricos do governo.

A Bolsonaro restaram as ameaças, sem capacidade de colocá-las em prática. Nem a reabertura apressada do comércio, menos ainda a substituição do ministro da saúde. Está isolado, com todos contra ele, como confessou o general Villas Boas. Fica reduzido à impotência. Resta saber como ele e seus filhos vão reagir.

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A guerra híbrida chega assim a uma nova etapa - a da blindagem do governo, preparando-se para construir uma operação que tratará de evitar que o PT vença as eleições presidenciais de 2022. Esse o próximo objetivo da guerra hibrida.

Mas não jogam sozinhos, há outras forças no campo e suas próprias contradições. A manutenção do modelo neoliberal, ainda mais em meio a uma economia com forte recessão já no final deste ano, permitirá grandes mobilizações populares, na defesa dos interesses de todos, antes de tudo dos empregos. O governo será tentado a endurecer mais, desatando processos de repressão aberta, para tentar derrotas as mobilizações populares.

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E a esquerda conta com o fortalecimento do Estado, do setor público, do SUS, das universidades e centros públicos de pesquisa, dos sentimentos de solidariedade com os mais desvalidos. para propor que a reconstrução da nossa sociedade só pode se dar com o protagonismo da esfera pública, fortalecendo e não enfraquecendo a democracia e a participação popular.

Será um período de grandes disputas políticas e ideológicas, que definirão os horizontes do Brasil por várias décadas. A redemocratização passa pela derrota dessa militarização do governo e pela restauração e eleições democráticas. 

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