Guerra da Folha contra Bolsonaro vai até a página 2

"Devido ao apoio cego ao ultraneoliberalismo irresponsável de Paulo Guedes, Globo e Folha, no máximo, respondem aos ataques com um morde e assopra, limitando-se a denunciar as seguidas ameaças de Bolsonaro à democracia, sua proverbial grosseria e falta de educação, bem como os males causados ao país pela filhocracia no poder", escreve o jornalista Bepe Damasco sobre o ataque de Jair Bolsonaro à Folha de S. Paulo

Jair Bolsonaro e Folha de S.Paulo
Jair Bolsonaro e Folha de S.Paulo (Foto: Reprodução)


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“Jair Bolsonaro não entende nem nunca entenderá os limites que a República impõe ao exercício da presidência. Trata-se de uma personalidade que combina leviandade e autoritarismo.”

Este é apenas o primeiro parágrafo do editorial do jornal Folha de São Paulo do último dia 29. Sob o título “Fantasia de imperador: Bolsonaro é incapaz de compreender a impessoalidade da administração republicana”, o jornal paulista, sem dúvida, bate duro na postura e na forma antidemocrática e totalitária como Bolsonaro trata as questões de governo.

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No entanto, parece-me equivocada a conclusão de que a Folha se pintou, finalmente, para a guerra contra Bolsonaro.

E importante ressalvar que a Folha tem feito um esforço para aproximar sua linha editorial de sua fase de ouro, que se deu durante a luta pela redemocratização do país, nos estertores da ditadura militar, e nisso não se compara com o Globo.

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Mas o problema para o oligopólio midiático é que a vingança da história, no que se refere a Bolsonaro, veio bem mais cedo que se imaginava.

A avenida que se abriu para a passagem do fascismo bolsonarista contou com a pavimentação da imprensa. Da desmoralização da política ao jornalismo de guerra contra o governo Dilma, do apoio ao golpe de 2016 ao papel destacado na caçada e prisão de Lula, Globo, Folha, Estadão, Veja e congêneres não pouparam esforços para tonar viável eleitoralmente um deputado patético, do baixíssimo clero.

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Vem a campanha eleitoral de 2018 e a mídia não vê nada demais no racismo de Bolsonaro, na sua apologia ao estupro e à tortura, na sua promessa de exterminar adversários políticos. Também naturalizou sua negativa de comparecer aos debates, classificando como mera “tática eleitoral” uma afronta aos valores republicanos.

E ainda não teve a coragem de jogar luz sobre o episódio para lá de estranho da facada, justamente porque  sabe que implicaria no desmoronamento do governo, levando de roldão o programa de Guedes. Valia e vale tudo para derrotar o PT, até mesmo disseminar a tese desonesta, mentirosa e canalha de que o partido é uma ameaça à democracia tanto quando Bolsonaro.

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O presidente xinga a Globo, ameaça cassar sua concessão, cancela as assinaturas da Folha nos órgãos de governo e boicota as empresas que anunciam no jornal. Mas a reação dos dois veículos, além de tímida, escancara um sabujismo típico dos que têm o rabo preso. E, no caso, o rabo preso tem tudo a ver com a economia.

Devido ao apoio cego ao ultraneoliberalismo irresponsável de Paulo Guedes, Globo e Folha, no máximo, respondem aos ataques com um morde e assopra, limitando-se a denunciar as seguidas ameaças de Bolsonaro à democracia, sua proverbial grosseria e falta de educação, bem como os males causados ao país pela filhocracia no poder.

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Porta-voz do sistema financeiro e das grandes corporações, o oligopólio midiático concebe um país para, no máximo, 30 milhões de pessoas.

Então, como enfrentar Bolsonaro à altura se ele premia o mercado com uma reforma da previdência que faz a festa dos fundos privados de previdência, controlados pelos bancos?

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Como responder as ofensas com artilharia pesada, se o governo está vendendo a preços de xepa de feira o patrimônio nacional e a riqueza estratégica da nação, que é o pré-sal, e beneficiando com isso os grandes anunciantes dos grupos Folha e Globo?

A moderação desses jornalões também pode ser explicada pela marcha batida de Bolsonaro para acabar com os direitos sociais previstos na Constituição de 1988, destinando cada vez mais recursos do erário para pagar os papéis da dívida pública em poder do sistema financeiro, senhor da imprensa brasileira.

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