GSI foi o epicentro do ‘combo golpista’ de 8 de janeiro e sua extinção é uma demanda democrática

É impossível não enxergar as digitais do general Heleno no comando do processo golpista

Montagem: Augusto Heleno e o major José Eduarto Natale de Paula no Palácio do Planalto
Montagem: Augusto Heleno e o major José Eduarto Natale de Paula no Palácio do Planalto (Foto: ABR | Reprodução)


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O governo do presidente Lula, após os primeiros cem dias, enfrenta a sua mais grave crise política, provocada, mais uma vez, pelo golpismo bolsonarista, que conta com apoio de setores das Forças Armadas — especificamente de um núcleo de generais palacianos que serviram ao governo da extrema direita, derrotado nas urnas.

Um documento dado a conhecer pela jornalista Denise de Assis, em meados de dezembro de 2022, revelou as exigências e expectativas do setor bolsonarista da caserna e de militares de altas patentes no serviço ativo. O texto elaborado pelo Gabinete de Segurança Institucional (GSI), intitulado “Propostas Ao Governo Lula”, enumerava um verdadeiro roteiro de diretrizes e sugestões.

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Entre as diversas questões levantadas pelo texto, aparece, com destaque, o indicativo sobre o caráter e o papel do GSI: “Manutenção no Gabinete de Segurança Institucional (GSI) sob chefia de um general do Exército, pela sua complexidade e interoperabilidade com os outros órgãos de governo”. Além disso, a exigência da permanência da “Agência Brasileira Informação (Abin) subordinada ao GSI”.

O partido militar ainda formulou uma pérola de chantagem golpista para o novo governo: “Um deslocamento do Governo das Forças Armadas certamente levará a um ambiente de desconfiança e desunião, agravando o quadro existente e fortalecendo o bolsonarismo no meio militar”. Ou seja, um recado direto — abusivo e arrogante. O documento também elogiava a escolha do ministro da Defesa, José Múcio, o que é bastante revelador.

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Vale lembrar que as questões envolvendo os militares não compareceram ao debate das equipes de transição, indicando uma aparente tentativa do governo Lula de não mexer em vespeiro. Enfim, a velha tática da conciliação com os militares.

Enquanto isso, no mês de dezembro, os militares encastelados no GSI conspiravam contra a posse do governo Lula, incentivando as ações golpistas em curso como a baderna em Brasília no dia da diplomação, o implante de explosivos nas cercanias do aeroporto do DF, os acampamentos nos quartéis militares e, principalmente, maquinando para impedir a consolidação do governo eleito democraticamente pela maioria da população brasileira — o que culminou com a intentona bolsonarista do dia 8 de janeiro contra as sedes dos três poderes.

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Neste sentido, é impossível não enxergar as digitais do general Heleno no comando do processo golpista, agindo de forma combinada com o ex-ministro Anderson Torres, o rábula do projeto de golpe, setores das PMs estaduais e do Distrito Federal e um conjunto de empresários, que financiaram as caravanas para Brasília.

O GSI, portanto, foi epicentro do combo golpista planejado pelos generais bolsonaristas da reserva e da ativa, e sob inspiração e comando político ativo do ex-presidente Jair Bolsonaro e de seu grupo político. É uma conclusão inevitável e lógica de todo o processo.

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A difusão das imagens por uma emissora de TV (a CNN) apenas confirmaram as suspeitas sobre o papel do GSI, aparelhado por militares bolsonaristas, e o despreparo do general Gonçalves Dias, o então ministro-chefe do órgão, que foi incapaz de ordenar a evacuação da sede do governo e prender os criminosos. Se é verdade que G. Dias, como é mais conhecido, não foi um cúmplice do intento golpista, tampouco sua conduta foi adequada para o momento, que exigia uma ação repressiva enérgica contra os bandidos bolsonaristas civis e militares.

CPMI e a extinção do GSIuma demanda democrática

A nomeação de Ricardo Capelli, que foi o interventor em Brasília após a tentativa golpista, é um primeiro passo para apurar o envolvimento do setor castrense, definindo claramente os responsáveis pelos crimes de 8 de janeiro e dos acampamentos nas portas dos quartéis. Além de investigar e punir os empresários financiadores do projeto de golpe contra a posse de Lula.

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Na futura CPMI, a ação dos parlamentares da base governista deve priorizar, logo no início dos trabalhos, a convocação dos generais bolsonaristas e do ex-presidente Jair Bolsonaro, com isso, esvaziando a tentativa da extrema direita parlamentar de dividir a responsabilidades do 8 de janeiro com os apoiadores do governo Lula, uma falsa narrativa que tenta confundir e semear dúvidas entre a população.

A disputa política na CPMI indica que vai ser concentrada na questão da definição das responsabilidades.

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No momento, o futuro do GSI é uma questão política importante. Trata-se de enfrentar um braço da tutela militar. Um aparato político que serve aos interesses dos generais da extrema direita para interferir e controlar a agenda política do governo civil.

A partidarização das Forças Armadas pela extrema direita é um fato presente na atual conjuntura do país, é uma condição inescapável do governo popular de Lula desarmar as armadilhas dos generais contra o poder eleito.

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O GSI é um trambolho antidemocrático, uma herança do nefasto SNI, age ainda com uma mentalidade persecutória contra os movimentos sociais e populares, tidos como inimigos internos nos velhos manuais do Exército. Um instrumento de arapongagem e sabotador da democracia. Não há remédio para um cranco tão pernicioso.

A extinção do GSI é uma medida profilática para defender e resguardar o país da sanha golpista dos militares da extrema direita e das ameaças do fascismo. É a oportunidade, em nome e por determinação do governo democrático, de Ricardo Capelli entrar para a história como o "coveiro" do Gabinete de Segurança Institucional.

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