Greta Thumberg e o capitalismo dos Stakeholders

As crises cíclicas, como a de 2007, demonstram a milhões de pessoas que acreditavam nos mercados capitalistas e na banca capitalista como métodos evidentes para a resolução exitosa de problemas, o capitalismo de acionistas se especializa na criação de problemas, não em sua resolução, porque só tem compromisso com seus acionistas, dando de ombros para as externalidades de sua ação



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Num recente artigo Hélio Mattar, que é Diretor Presidente do Instituto Akatu (organização que trabalha pela conscientização e mobilização da sociedade para o consumo consciente, a partir de duas frentes de atuação: Educação e Comunicação), faz interessante paralelo entre o manifesto de Davos de 1973, o primeiro, e o deste ano. 

Segundo ele, Davos propõe importante mudança de perspectiva no propósito das companhias, que devem deixar de ser pautadas pelo capitalismo do acionista, para levar em conta o chamado capitalismo dos stakeholders, ou seja, todas as partes afetadas pela atividade empresarial: empregados, clientes, fornecedores, comunidades locais e sociedade em geral, pois “o propósito de uma companhia é engajar todos os seus stakeholders em uma criação de valor sustentável e compartilhada”, afinal a empresa serviria não apenas aos acionistas, mas a toda sociedade.

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O substantivo feminino EMPRESA procede etimologicamente do verbo latino in prehendo-endi-ensum, que significa descobrir, ver, perceber, dar-se conta de, capturar. E a expressão latina in prehensa comporta claramente a ideia de ação. Em suma, empresa é sinônimo de ação. Uma ação coletiva, um compartilhar necessário à produção e distribuição de riqueza, uma distribuição que será tão igualitária, justa e generosa quanto seja evoluída a sociedade, premiando, evidentemente, esforços e riscos.

Davos deu-se conta da necessidade de o capitalismo dar um passo à frente e compreender que não basta às companhias pagar impostos justos, exigir combate à corrupção e combate-la, defender direitos humanos e sustentabilidade em toda a sua cadeia produtiva e defender a concorrência leal? 

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Será que Davos compreendeu que as companhias são unidade de um sistema econômico cujos efeitos tem repercussão humana e que é socialmente relevante?

É possível que sim, afinal as crises sistêmicas são frequentes, contudo, vejo como oportunidade de aprofundar reflexão serena sobre a sustentabilidade do capitalismo movido a ganhos, crédito e consumo, pois como escreveu Bauman “governos e instituições aprenderam muito pouco da crise econômica recente: a resposta à quebra foi endividar-se ainda mais”.

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As crises cíclicas, como a de 2007, demonstram a milhões de pessoas que acreditavam nos mercados capitalistas e na banca capitalista como métodos evidentes para a resolução exitosa de problemas, o capitalismo de acionistas se especializa na criação de problemas, não em sua resolução, porque só tem compromisso com seus acionistas, dando de ombros para as externalidades de sua ação.

Ainda citando Bauman: “Assim como os sistemas dos números naturais do famoso teorema de Kurt Gödel, o capitalismo não pode ser ao mesmo tempo coerente e completo. Se é coerente com seus próprios princípios, surgem problemas que não pode abordar; e se trata de resolvê-los, não pode fazê-lo sem cair na falta de coerência com suas próprias premissas.”. Bauman se refere à acumulação e à exploração desmedida de riquezas e seus efeitos dramáticos. Daí a relevância da ideia do capitalismo dos stakeholders.

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Sem esse novo elemento o capitalismo é, na essência, um sistema parasitário e como todos os parasitas, pode prosperar durante algum tempo uma vez que encontra o organismo ainda não explorado do qual pode se alimentar, mas não pode fazê-lo sem prejudicar o hospedeiro nem sem destruir cedo ou tarde as condições de sua prosperidade ou até de sua própria sobrevivência.

E, nesse contexto, necessário citar os milhares de jovens, como Greta Thumberg, que ao redor do mundo saem às ruas denunciando a nossa incompetência geracional no manejo sustentável das riquezas do planeta. 

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Greta, que se tornou uma das principais vozes sobre assuntos climáticos ao cobrar que autoridades combatam o aquecimento global, chamou atenção ao ganhar lugar cativo em assembleias e encontros globais sobre o clima – e, principalmente, por fazer discursos incisivos para líderes internacionais e pode ter influenciado o manifesto de Davos e trazido à reflexão o conceito capitalismo dos stakeholders.

Fato é que há pesquisas dando conta que 60% dos consumidores afirmam que o papel das empresas não é apenas seguir o que as leis determinam, mas também contribuir para o desenvolvimento da sociedade e 55% acreditam que os governos devem exigir que as empresas trabalhem em prol de uma sociedade melhor, mesmo que isso implique em preços mais altos e menos empregos.

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