Grandes fortunas continuam imunes e ausentes do esforço para socorrer o país

Na batalha do que chamam de “guerra contra o vírus”, não é justo que pobres e desalentados, os que mais sofrerão com a crise da pandemia, sejam chamados a pagar a conta, enquanto bilionários continuam escondidos sem serem vistos nem cobrados

(Foto: Reuters)


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As autoridades monetárias, lideradas pelo ministro da Fazenda Paulo Guedes, continuam pensando com a cabeça de antes da crise. Até agora, das medidas anunciados e dos bilhões que seriam alocados na economia, tornaram-se realidades apenas o abono emergencial de R$ 600,00 (corona voucher); a antecipação de 13º salário e a Medida Provisória para redução de salários, valores próximos a R$ 208 bilhões ou 2,6% do PIB. O restante são promessas de créditos para endividamentos de Estados e empresas, todas ainda pendentes de medidas para se tornarem realidade.

O economista Kenneth Rogoff, ex-chefe do FMI, em recente entrevista no jornal O Globo disse que “os governos precisam fazer tudo o que for necessário para diminuir os efeitos do coronavírus... É hora de atacar o problema, deixando a questão do endividamento para um plano secundário”.  Infelizmente, esse não o pensamento do Ministério da Fazenda, que continua achando que o Estado não deve ser o agente a socorrer o povo com injeção de recursos necessários para empresas, pequenos negócios e proteção de empregos.

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A comparação das medidas adotadas no Brasil com outros países também revela o distanciamento ente orçamentos destinados ao socorro da nossa economia até o momento. A Alemanha anunciou mais 20% do PIB. Os Estados Unidos anunciaram 12% do PIB e já acenam que poderão dobrar o orçamento para socorrer a economia daquele país. Na Inglaterra são 17% do PIB, percentuais que revelam estar distante da realidade os 2,6% gastos pelo Brasil até agora. 

O sistema financeiro, no entanto, foi socorrido com rapidez. Uma decisão do Bacen colocou à disposição dos bancos até R$ 1,2 trilhão para garantir o “equilíbrio do sistema”. Sistema onde os três principais bancos que dominam o setor privado lucraram em 2019 R$ 81,6 bilhões e mais de R$ 264 bilhões entre 2016 e 2019. Os mesmos bancos que se recusam a conceder a contrapartida de créditos para pequenos empresários de 15% do pacote anunciado de R$ 40 bilhões para financiamento de folha de pagamento.  Eles seguem à risca a máxima que diz que “banqueiro ganha sempre” ao se recusarem a colocar em risco R$ 6 bilhões dos lucros obtidos. Valor irrisório, se comparado o histórico de lucros do sistema. 

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No Brasil, 1% da população ganha mais de 30% de toda a renda nacional. Se consideramos os 10% da parte de cima, eles concentram 45% da renda do país. É nesse grupo seleto que estão os senhores que aparecem a cada ano entre os mais ricos do mundo. 

Na lista da Forbes, o brasileiro mais rico tem patrimônio de R$ 104,7 bilhões, o segundo tem R$ 95 bilhões, o terceiro aparece com R$ 44 bilhões, o quarto tem na carteira R$ 43 bilhões e o quinto outros R$ 37 bilhões. Ou seja, eles são parte do grupo do 1% que concentra mais de 50% de toda a riqueza do país, valor superior a R$ 8 trilhões, isto considerando que temos R$ 16 trilhões de riqueza acumulada. 

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Como o nosso sistema tributário foi planejado para favorecer os que mais têm, eles consideram justo pagarem impostos menores que o assalariado. Enquanto cada mortal comum paga 27,5% de Imposto de Renda, esse pessoal paga em média 4% a 5% de tributos, pois nos ganhos deles mais de 80% vêm de rendas com dividendos. Dividendos sobre os quais não há pagamento impostos. 

A realidade mostra que já é passada a hora de discutir taxação de grandes fortunas, pois não é correto que assalariados continuem pagando as mesmas taxas de tributos que bilionários. Detentores de grandes fortunas não gostam de pagar impostos e permanecem quietos, como se nada estivesse acontecendo. Mas o tempo é de cobrar deles a parcela da conta para socorrer o país.

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Na batalha do que chamam de “guerra contra o vírus”, não é justo que pobres e desalentados, os que mais sofrerão com a crise da pandemia, sejam chamados a pagar a conta, enquanto bilionários continuam escondidos sem serem vistos nem cobrados. 

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