Governo Bolsonaro investe contra o Guia Alimentar para a População Brasileira e o conceito de alimentação saudável

Ao tratar como vilão alimentar o ultraprocessado, o Guia Alimentar para a População Brasileira, desde o primeiro momento em que foi apresentado à comunidade científica internacional, desagradou profundamente os grandes conglomerados produtores de alimentos ultraprocessados



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Não satisfeito com a sua famigerada política (anti) ambiental, o Governo Bolsonaro, agora por intermédio da ministra da Agricultura, Pecuária e Abatimento (Mapa), Tereza Cristina, também conhecida como musa do veneno, investe pesado contra a segurança alimentar do brasileiro.

Baseada em uma Nota Técnica do seu ministério, Tereza Cristina pretende enviar um ofício ao ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, solicitando a urgente revisão do ​ Guia Alimentar para a População Brasileira - publicação editada pelo Ministério da Saúde em novembro de 2014 -, principalmente no que se refere à redução de alimentos ultraprocessados.

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Para sua elaboração, o Guia se baseou na classificação de alimentos NOVA, desenvolvida pelo Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da Universidade de São Paulo (Nupens/USP), que divide os alimentos em quatro categorias: (1) Alimentos naturais ou minimamente processados; (2) Azeites, óleos, sal e açúcar; (3) Alimentos processados; (4) Alimentos ultraprocessados. E aí, o Guia não poderia ser mais explícito: “Evite os alimentos ultraprocessados”. 

Esta classificação, inovadora, hoje é reconhecida mundialmente.

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Na nota técnica, o Mapa avalia a NOVA como "confusa, incoerente, que impede ampliar a autonomia das escolhas alimentares". 

"A recomendação mais forte nesse momento é a imediata retirada das menções a classificação NOVA no atual guia alimentar e das menções equivocadas, preconceituosas e pseudocientíficas sobre os produtos de origem animal", diz trecho da Nota Técnica.

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A nota ainda pede uma revisão de todo o Guia, com a participação de "setores especializados na ciência dos alimentos".

Segundo Tereza Cristina, ainda de acordo com a tal Nota Técnica, “​ ...atualmente o Guia brasileiro é considerado um dos piores do mundo”. 

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“Piores”, de acordo com quem, cara pálida? E com base em que critérios?

“Assim não pensam organismos técnicos das Nações Unidas, como a FAO, a OMS e o Unicef, que consideram o Guia brasileiro um exemplo a ser seguido. Assim não pensam os ministérios da Saúde do Canadá, da França, do Uruguai, do Peru e do Equador, que têm seus guias alimentares e suas políticas de alimentação e nutrição inspirados no Brasil. Finalmente, assim não pensam os autores de um rigoroso estudo publicado em 2019 pela revista ​ Frontiers in Sustainable Food Systems​ , que elegeu o guia alimentar brasileiro como o que melhor atendia a critérios previamente estipulados quanto à promoção da saúde humana, do meio ambiente, da economia e da vida política e sociocultural”, diz a Nota Oficial emitida pelo Nupens contrapondo a Nota Técnica do Mapa.

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Segundo, ainda, o Nupens, a tal Nota Técnica “omite os mais de 400 estudos científicos indexados na base PubMed que utilizaram a classificação NOVA e o conceito de alimentos ultraprocessados. Omite as cinco revisões sistemáticas, além de uma revisão narrativa, que demonstraram a associação inequívoca do consumo desses alimentos com o risco de doenças crônicas de grande importância epidemiológica no Brasil e na maior parte dos países, como obesidade, diabetes, doenças cardiovasculares e acidentes vasculares cerebrais”.

O Guia é, ao contrário do que diz a Nota Técnica do Mapa, considerado um dos mais avançados do mundo.

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O ataque ao Guia é dirigido, implicitamente, mas principalmente, ao Nupens, que, em sua Nota Oficial diz que “conforme assinalado no preâmbulo da publicação pela Coordenação Geral de Alimentação e Nutrição do Ministério da Saúde, “​ ...o Guia Alimentar para a População Brasileira se constitui como instrumento para apoiar e incentivar práticas alimentares saudáveis no âmbito individual e coletivo, bem como para subsidiar políticas, programas e ações que visem a incentivar, apoiar, proteger e promover a saúde e a segurança alimentar e nutricional da população”.

Para se contrapor à recomendação do Guia Alimentar de evitar o consumo de alimentos ultraprocessados, a Nota Técnica diz que “​..existem alimentos processados que contribuem com uma ampla variedade de nutrientes em todos os níveis de processamento”.

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Alimentos processados, ok; alimento ultraprocessado, não tá ok.

Alimento?

O que está por trás disso é o seguinte: ao tratar como vilão alimentar o ultraprocessado, a NOVA, desde o primeiro momento em que foi apresentada à comunidade científica internacional, desagradou profundamente os grandes conglomerados produtores de alimentos ultraprocessados. E é aí que o bicho pega. O pior, ou melhor, é que a classificação NOVA passou a ser adotada em vários países, que acreditam nos malefícios de uma dieta baseada em “alimentos” ultraprocessados, já que populações inteiras estão, por exemplo, se tornando obesas por causa do uso abusivo do ultraprocessado, que tem muito pouco de alimento e muito de química.

Quando celebridades com Rita Lobo e Bela Gil miram suas colheres de pau contra os ultraprocessados, aí a coisa complica.

Em suma, o governo não quer apenas acabar com o Guia, quer acabar com um conceito – o da alimentação saudável -, o que é muito mais o perigoso e danoso, já que é ideológico.

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