Governo Bolsonaro estimula discurso racista e pretos, pobres e periféricos são os alvos da escalada de violência
O combate ao racismo é inseparável da luta pelo fim do governo bolsonarista, escreve o colunista Milton Alves
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Escrevo estas linhas impactado pela matança de pretos nos últimos dias ocorridas no Rio de Janeiro. Na verdade, indignado e desejoso para que aconteça uma resposta à altura, não das autoridades, mas da população negra e trabalhadora, a maioria do país — um gesto enérgico e vigoroso de autodefesa para conter o massacre em curso.
É evidente que o governo Bolsonaro é um dos responsáveis pela escalada da matança de pretos, principalmente jovens, nos últimos anos. Uma das diretrizes que conforma o pensamento político e ideológico do atual governo, é a desconstrução sistemática da história de resistência secular da majoritária população negra, indígena e mestiça do Brasil para romper os grilhões da brutal discriminação racial e classista. Afinal, como cantou Elza Soares, “a carne negra é a carne mais barata do mercado”.
As execuções de Moïse Kabagambe, morto a pauladas no Rio de Janeiro por cobrar pagamentos atrasados do quiosque Tropicália, e de Durval Teófilo Filho, executado com três tiros na porta da sua casa em São Gonçalo (RJ) por um sargento da Marinha, são as mais recentes manifestações da escalada de violência contra os pretos no país.
A política de criminalização da pobreza, que tem um inegável corte racial, e a permissiva legislação do armamento individual, que facilita a obtenção de armas sem um efetivo controle, aumentaram as ocorrências de agressões armadas e a prática do morticínio.
Uma dinâmica que ganha a dimensão de genocídio, com o avanço das atividades de milícias somada ao habitual modus operandi, praticamente naturalizado, da violência das Polícias Militares (PMs) nos territórios das vastas áreas de periferias, que circundam os maiores centros urbanos do país, resultando em uma onda de matanças sem precedentes.
Escalada da barbárie
As mortes provocadas por armas de fogo já atingiram 70% dos homicídios no país, vitimando majoritariamente a população negra, 56% dos brasileiros. Levantamento do Instituto Sou da Paz aponta que dos 30 mil assassinatos por agressão armada em 2019, 78% foram contra pessoas negras.
O registros de dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) e do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) do Ministério da Saúde revelam que os homens negros são os maiores atingidos, representando 75% do total, contra 19% de homens não negros. As mulheres negras representam 4% e as mulheres não negras 2%.
O Sinan registra também que o número de óbitos entre crianças e adolescentes negras de 10 a 14 anos é duas vezes maior do que a de não negros, somando 61% e 31%, respectivamente.
Segundo o 14º Anuário Brasileiro, em 2019, os negros compunham 66,7% da população carcerária, enquanto a população não negra – considerados brancos, amarelos e indígenas, segundo a classificação adotada pelo IBGE – era composta de 33,3%. Isso significa que, para cada não negro preso no Brasil em 2019, dois negros foram presos.
A política econômica ultraneoliberal, radicalizada com o golpe de 2016, foi mais um fator de agravamento das condições de vida da população preta, mais desempregada e precarizada, o que reforça o aspecto dramático da racialização do mercado de trabalho.
Portanto, o combate ao racismo é inseparável da luta pelo fim do governo bolsonarista, responsável pelo desmonte das políticas públicas e de direitos humanos de proteção da população negra, das políticas de cotas raciais, da destruição da Fundação Palmares e da difusão de ideias e práticas racistas pela extrema direita governista.
Manifestações de protestos exigindo punição para os assassinos de Moïses aconteceram em diversas cidades do país neste fim de semana. É fogo nos racistas!
*Ativista social. Jornalista e escritor. Autor dos livros ‘A Política Além da Notícia e a Guerra Declarada Contra Lula e o PT’ (2019), de ‘A Saída é pela Esquerda’ (2020) e ‘Lava Jato, uma conspiração contra o Brasil’ (2021) – todos pela Kotter Editorial.
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