Golpes na América Latina seguem receitas como as de bolo

A colunista Denise Assis, do Jornalistas pela Democracia, explica, com base no livro "Guerras Híbridas", como se dão os golpes na América Latina; o mais recente deles na Bolívia. "Não há como ignorar a eficiência da fórmula. Evo não caiu! Foi caído. Evo não fugiu! Preservou a própria vida e a dos seus compatriotas", escreve



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Por Denise Assis, para o Jornalistas pela Democracia

Não é a primeira vez que escrevo sobre o conteúdo do livro “Guerras Híbridas”, de Andrew koribko. E, talvez, não será a última. Isto porque esse livro, para quem vive ao Sul do Equador - uma parte do hemisfério sempre sob vigilância e mira dos intervencionistas - deveria ser o nosso manual de consulta sempre que um abalo político sacudisse o nosso cenário. Desta forma, evitaríamos comentários tais como escreve, hoje, um colunista. De uma forma enxuta, para não dizer reducionista, ele descreve assim, o golpe ocorrido na Bolívia: “Evo Morales caiu – e fugiu".

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Não, caro colunista. Tivesse você o trabalho de consultar “Guerras Híbridas”, e constataria que na página 125 está descrito e muito bem descrito, como o golpe foi engendrado por lá. Há uma receita como aquelas que vovó usava para fazer bolos. Se, não, vejamos:

“Uma revolução colorida só pode ser oficialmente iniciada após um ‘acontecimento’.Esse acontecimento deve ser controverso e polarizador (ou ao menos retratado dessa maneira) e liberar toda a energia acumulada do movimento. O movimento manifesta-se fisicamente da maneira mais pública possível. O acontecimento é o ‘chamado a público’ do movimento e o gatilho da revolução colorida".

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Para os que até esse trecho não conseguiram estabelecer vínculos com os fatos recentesda Bolívia, aí vão mais argumentos contidos no livro:

“O movimento só é capaz de capitalizar com o acontecimento se houver praticado umacampanha de informação de sucesso.” Eis aí o pulo do gato. Aliar um “acontecimento” a uma campanha bem urdida pela mídia é fundamental, a fim de convencer à população da necessidade de que o golpe aconteça.

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Exemplos de “acontecimentos” que podem deflagar a revolução colorida:” fraudeeleitoral; prisão de um líder de oposição; aprovação ou veto de uma lei controversa; sanção do governo contra a oposição ou imposição de lei marcial; declaração do envolvimento ou envolvimento em uma guerra impopular.” Como podem observar, o primeiro item cai como uma luva na situação da Bolívia e, só para não perder a oportunidade de relembrar, a segunda é exatamente a que vivenciamos com a prisão do Lula.

O que importa na descrição acima, segundo o nosso manual “Guerras Híbridas”, é como esses acontecimentos “são percebidos, retratados e narrados para o público em geral. Alegações e não provas, dos itens acima são o que mais importa para criar o catalisador para um acontecimento. Deve-se ter sempre em mente que o movimento pode provocar qualquer desses acontecimentos (ou a falsa percepção de que eles ocorreram)".

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Mas para que tudo dê certo, é imprescindível a presença do “povo”, em apoio à revolução colorida. Simpatizantes devem tomar as ruas para demonstrar física e publicamente o seu apoio à revolução com atos de ocupação e manifestações de protestos, se estabelecendo em locais simbólicos “para ter um quartel general visível ao público”. Em muitos casos, a praça central da capital. “A ocupação deve parecer espontânea e palcos e acampamentos montados na área ocupada (...) e um pequeno grupo de membros do núcleo geralmente se faz sempre presente em campo para comandar as atividades. (Como esquecer o MBL acampado na paulista, recebendo quentinhas da FIESP?)”.

O dinheiro é a espinha dorsal de toda a revolução colorida. “Ele transforma as ideias do movimento social em ação tangível (infraestrutura física e oferece um “ninho” para o cultivo da ideologia. (...) A infraestrutura financeira injetará dinheiro continuamente para suas empreitadas. O financiamento permite que a revolução colorida se firme na sociedade e dissemine suas ideias para todos os lados e a todo o tempo”.

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O receituário é extenso, mas só pelos poucos itens aqui descritos já dá para perceber que não há como ignorar a eficiência da fórmula. Parece óbvio? Depois de vermos esse filme por aqui, como duvidar que dá certo?

Evo não caiu! Foi caído. Evo não fugiu! Preservou a própria vida e a dos seus compatriotas, contra a sanha assassina dos golpistas, que já fez mais de vinte mortos no país. Entendeu, senhor colunista, ou quer que desenhe?

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