Golpe lançará o Brasil num abismo
"O golpe não representa o fim da crise, nem econômica, menos ainda social e política, mas sua passagem a um nível mais profundo, mais crítico, mais violento e mais regressivo. Tudo o que o Brasil construiu de positivo neste século não pode ser jogado fora por um golpe", diz o colunista Emir Sader, prevendo que a eventual aprovação do impeachment não será boa nem para o interino Michel Temer; "O presidente golpista será personagem execrado por onde vá", afirma
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Um golpe nunca é solução, é problema. Ele rompe com os conflitos de classe de forma violenta e unilateral, impondo os interesses das minorias dominantes sobre o conjunto da sociedade. Joga gasolina na fogueira. Mas sua própria forma brusca e violenta de se impor, só aprofunda as contradições, gerando situações explosivas.
O golpe atualmente em curso no Brasil não sairia dessa regra. Caso logre se impor efetivamente, vai jogar o pais num abismo de proporções inéditas na nossa historia, gerando conflitos, instabilidades, violências, ingovernabilidade.
Uma economia em recessão, aprofundada pela crise política gerada e fomentada pela direita, terá, na aplicação do mais duro ajuste fiscal, um fator que a jogará numa espiral de regressão sem horizonte para sair. A crise econômica europeia, iniciada em 2008, é uma confirmação que ajuste posto em pratica em economia em recessão, só a aprofunda, sem equilibrar as contas públicas – até porque a arrecadação cai verticalmente e os gastos da previdência só aumentam -, perpetuando uma crise se proporções econômicas e sociais gigantescas, eliminando direitos, políticas sociais, empregos e poder aquisitivo dos salários.
Como resultado, o pais ficará imerso na maior crise da sua história. Porque agora o povo tem direitos que não tinha no momento do golpe de 1964 e dos governos neoliberais, nos anos 1990. O povo sabe a que tem direito, será muito mais difícil impor-lhe retrocessos.
Será um governo ilegítimo, repudiado pelo povo, que terá, inevitavelmente, que apelar sistematicamente para a repressão, da polícia e das Forças Armadas. Tratará de blindar aos governantes e aos parlamentares comprometidos com o golpe. O conflito social e politico está instaurado no centro da vida do pais.
A imagem do Brasil no exterior será a pior, desde o fim da ditadura militar. Rebaixado a agente subalterno dos EUA na região, será rejeitado e se verá reduzido à imagem de governo sem autonomia, sem soberania, conflitivo, ausente da política internacional.
O presidente golpista será personagem execrado por onde vá. Será a própria expressão do golpe: medíocre, comprometido com a corrupção, sem nada a dizer, fará o Brasil passar vergonha em todo o mundo.
Em um mundo tomado pela recessão, pelas guerras, o Brasil será relegado a um pais mais sem expressão, sem importância, lutando para sobreviver, imerso na mediocridade de uma casta política corrupta, com um governo que impõe sofrimentos a todo o povo, em função da maximização dos lucros dos bancos.
O pais será conhecido pela crise permanente, pela falta de legitimidade do seu governo, pela recessão e pelo desemprego, pelos conflitos sociais sem saída. O golpe terá levado o Brasil ao momento mais negativo da sua história. Como todo governo que impõe programas antipopulares, a eleição será o diabo para as elites dominantes, porque sabem que só tendem a perder e as coisas se reverterem. Por isso apelam a um sistema político cada vez menos democrático, cada vez mais autoritário.
As lutas populares ganharão expressão cada vez mais amplas, sem soluções por parte do governo. O povo tendo na figura do Lula, a imagem mesma dos avanços conquistados neste século, será perseguido e, ao mesmo tempo, transformado na imagem mesma da esperança, do melhor momento vivido por todos.
O golpe significará não apenas a ruptura da democracia que tivemos, mas também a submissão do povo e do pais ao mais antipopular dos governos. Deter o golpe é impedir que o Brasil volte à fama de pais mais desigual do mundo, de pais da violência descontrolada, das crises econômicas e da falta de democracia.
O golpe não representa o fim da crise, nem econômica, menos ainda social e política, mas sua passagem a um nível mais profundo, mais crítico, mais violento e mais regressivo. Tudo o que o Brasil construiu de positivo neste século não pode ser jogado fora por um golpe. É retomando os avanços e aprofundando-os que podemos corrigir os erros construir um pais menos desigual, mais solidário e soberano.
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