Golpe inaugura nova etapa de crise ainda maior

Esse governo direitista, reacionário, defensor das mesmas ideias retrógradas que nunca fizeram o Brasil crescer e ser mais igual, não resistirá. A única saída será então novas eleições, teste no qual os atores do governo Temer dificilmente passarão

Esse governo direitista, reacionário, defensor das mesmas ideias retrógradas que nunca fizeram o Brasil crescer e ser mais igual, não resistirá. A única saída será então novas eleições, teste no qual os atores do governo Temer dificilmente passarão
Esse governo direitista, reacionário, defensor das mesmas ideias retrógradas que nunca fizeram o Brasil crescer e ser mais igual, não resistirá. A única saída será então novas eleições, teste no qual os atores do governo Temer dificilmente passarão (Foto: Chico Vigilante)


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 Temer afirma  agora querer pacificar o que antes ajudou a dividir. Em sua carta mi mi mi escrita a Dilma em 2015 ele disse: a senhora não confia no PMDB hoje e não confiará no PMDB amanhã.

Era pra confiar? A verdade é que o resultado da primeira fase do impeachment no Senado longe de aplacar a crise, abre uma outra muito maior.

Quinta, 12 de maio, fui à Praça dos Três Poderes e assisti quando a presidenta  Dilma, após seu afastamento inicial no processo de impeachment, saiu do Palácio do Planalto  e veio para os braços do povo. Uma situação que já poderíamos  ter feito acontecer  há mais tempo, mas nunca é tarde para se fazer.

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Fiquei alí sentindo aquele vazio, e pela minha cabeça foi passando lentamente tudo que vivi na minha vida política de tantos anos.

Como num filme me lembrei das primeiras greves dos trabalhadores em 1979, quando eu ainda muito jovem coordenei a greve dos vigilantes aqui no DF; se acenderam em mim os dias da   luta pela anistia ampla geral e irrestrita;

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Me vi de novo nas ruas na campanha mais linda que levantou este Brasil de norte a sul, e da qual fui um dos coordenadores aqui, já militando no Partido dos Trabalhadores, a Diretas Já, que se iniciou com o PT e com a iniciativa do senador alagoano Teotônio Vilela.

No dia que a emenda das Diretas Já foi derrotada eu estava na frente do Congresso Nacional. Em abril de 1984, devido a uma manobra de políticos aliados ao regime, 112 deputados não compareceram ao plenário para votar e a emenda foi rejeitada por não alcançar o número mínimo de votos para a sua aprovação.

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Naquele dia os trabalhadores deram segurança ao Parlamento, por meio de um abraço ao Congresso Nacional, quando provocadores infiltrados queriam invadir e depredar o prédio para justificar o fechamento do Legislativo pelo regime.

O general Newton Cruz dando chibatadas nos carros e ordenando que se jogassem bombas de gás lacrimogêneo na multidão, nos obrigou a correr da polícia, passar pelo Buraco do Tatu cheio de gás – aquela passagem estreita e baixa que tem ao lado do Itamaraty dando acesso à rua paralela à Esplanada.

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Todos nós chorando, não só pelo gás mas também pela derrota das Diretas Já, a perda de uma importante batalha em nossa luta pelos direitos democráticos.

Me lembrei de 1989, momento de grande emoção em minha vida, o ato mais bonito da campanha pela presidência do operário Luis Inácio Lula da Silva, da qual também fui coordenador no DF : o comício de encerramento aqui em Brasília, quando milhares e milhares de pessoas tomaram conta da Esplanada.

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Me veio a memória também uma derrota fragorosa que sofremos em 1996, quando apesar do Plano Cruzado, que congelou preços de produtos e salários por um ano na tentativa de combater a inflação, o PMDB elegeu 23 dos 24 governadores do país. O Brasil estava anestesiado.

Depois veio o Plano Cruzado II, uma verdadeira traição, uma liquidação do país. Houve desabastecimento de vários produtos, surgimento de mercado negro, queda nas exportações, aumento de importações e esgotamento de nossas reservas cambiais.

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Com o tempo o trabalhador acordou e começou a tomar consciência da situação política e social do país.

Me recordei da emoção que foi na primeira eleição de Lula. Passamos a noite na Esplanada comemorando com pessoas do Brasil inteiro que vieram especialmente para a sua posse. Depois me lembrei da emoção maior ainda na segunda eleição do Lula.

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Essa alegria se repetiu com Dilma, a primeira mulher eleita presidenta do Brasil. Segunda eleição, uma eleição suada, difícil, disputada palmo a palmo. E agora, o golpe.

Fui um dos primeiros a denunciar que havia um golpe em marcha neste país, há mais de um ano.

Quando escrevi Refletir é Preciso, em abril de 2015, A Direita brasileira prepara o Xeque Mate, e Agosto: uma prova de fogo pra o Brasil, em agosto de 2015, todos publicados no Brasil247, ninguém dizia que um golpe era o objetivo final da oposição, da direita brasileira, do grande empresariado e seus aliados na mídia e na Justiça.

A mídia comercial familiar que cresceu no tempo da ditadura ganhando dinheiro para se aliar as arbitrariedades, quer agora com a internet recuperar terreno no campo financeiro.

Nos governos democráticos de Lula e Dilma eles não conseguiram levar tanto dinheiro e ai começaram a atacar. Além disso, a grande mídia brasileira tem lado definido, o lado das elites, da Casa Grande, do capital financeiro internacional.

O que mais dói é sermos taxados de corruptos, sendo que fomos nós o governo que mais tratou de investigar a corrupção no Brasil.

Foi durante nossos governos que se montou uma estrutura para dar liberdade e equipar a Polícia Federal para que agisse no combate à corrupção fazendo as investigações que tinham que ser feitas.

E agora, quando estávamos chegando nos poderosos de verdade, nos que roubam desde sempre, em qualquer governo que participem, há décadas, que sempre tramaram contra a democracia, eles armam e dão o golpe, exatamente para fugir destas investigações.

O golpe, no entanto, não é só para isso. Vai além. O golpe é para tirar direitos trabalhistas adquiridos pelos trabalhadores. O golpe é para mudar radicalmente a política de crescimento com distribuição de renda, de empoderamento das minorias, dos negros, de acesso as universidades das populações de baixa renda.

Em resumo, o golpe foi consumado para fazer o Brasil girar de acordo com os interesses das elites.

Isso é fácil de ser constatado com o conjunto de figuras golpistas que vemos no novo ministério Temer. Todos conhecidos por suas posições reacionárias e entreguistas.

O Serra por exemplo, ex ministro de FHC, defensor da entrega de nosso pré sal, indicado para o Itamarary, obviamente defenderá na pasta não os nossos interesses mas os das grandes empresas petrolíferas.

Alguns serviram à ditadura, como no caso de Romero Jucá, com farto histórico de pendências judiciais - de compra de votos a desvio de verbas públicas. 

Formalmente investigado pelo STF em denúncias no âmbito das operações da PF, Lava Jato e Zelotes, por executivos da Andrade Gutierrez e a UTC Engenharia, segundo os quais Jucá teria recebido cifras na casa dos milhões para interferir a favor das empresas em contratos da Eletronorte e Eletronuclear; e por recebimento de propinas para trabalhar pela aprovação de emendas de interesse do setor automotivo.

Qualquer brasileiro interessado em testar a honestidade da lista ministerial de Temer basta dar uma busca na internet. A maioria deles não passa num teste preliminar da Ficha Suja.

É muito trágico a situação pela qual passa o país hoje. Colocar na cadeira de Aloísio Mercadante, um professor de renome, um representante dos donos das faculdades privadas do país como o democrata Mendonça Filho representa um imenso retrocesso.

Se olharmos para o ministério Temer não vemos uma mulher, não vemos um negro. Mais uma prova de que derrubaram Dilma também pelo machismo e pelo sectarismo racial.

Aquelas mulheres que foram ao histerismo apoiando o impeachment na Câmara, com seus cabelos escovados, falando em nome de Deus e da família, Temer demonstrou não acreditar na capacidade de nenhuma delas para assumir um ministério.

Eu me pergunto hoje, o que estarão pensando agora aqueles que serviram de marionetes para a Fiesp, após todas as denúncias contra Temer, Renan, Jucá e a cassação de Cunha ?

Creio que já estão percebendo que não agiram bem porque não apareceram nas ruas para comemorar nesta quinta. Na avenida Paulista tinha meia dúzia de coxinhas após o resultado do impeachment no Senado.

Viram a esparrela na qual se meteram. Enquanto estamos de cabeça erguida, ocupando todos os espaços e dizendo as verdades, a maioria deles está escondida, envergonhada.

O grupo Globo e a grande mídia já não dominam corações e mentes. Hoje as redes sociais dão instantaneamente o que está acontecendo.  

Na minha terra, o Maranhão, se dizia que jornal no dia seguinte só serve para enrolar peixe. Hoje não serve para mais nada porque a notícia que eles trazem todo mundo já tomou conhecimento antes. Portanto, eles não vão mais nos enganar. 

Na manhã  de quinta ao sair do Palácio do Planalto Dilma recebeu flores e a solidariedade de uma multidão consciente  do golpe de morte desferido contra nossa jovem democracia.  

Em seu discurso aos brasileiros e brasileiras em todos os cantos do país ela resumiu a situação que enfrentaremos a partir de agora: “ as forças da injustiça e da traição estão soltas por aí, mas estou pronta para resistir. Lutei minha vida inteira pela democracia e continuarei lutando e acredito que temos que fazer isso juntos”.

Antes de ser deputado, sou um ser político, um ser social e sei que só na democracia os trabalhadores ganham. Em todo este processo eu não arredei o pé das ruas quando foi necessário para demonstrar meu repúdio ao golpe.

Portanto, os golpistas que se preparem. Não vamos lhes conceder trégua um só  minuto sequer daqui em diante. Vamos ocupar cada palmo deste país.

Não tenho dúvidas de que quando mandarem o pacotaço mexendo com o direito e o bolso dos trabalhadores o Brasil vai pegar fogo.

Esse governo direitista, reacionário, defensor das mesmas ideias retrógradas que nunca fizeram o Brasil crescer e ser mais igual, não resistirá. A única saída será então novas eleições, teste no qual  os atores do governo Temer dificilmente passarão.

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