Golpe em prestações

"Para evitar o 'pior' (o distritão), votou-se um 'acordo' que resultará na volta das coligações proporcionais. Um retrocesso, em nome de evitar um desastre", escreve Valter Pomar

Análise da PEC do voto impresso pelo plenário da Câmara
Análise da PEC do voto impresso pelo plenário da Câmara (Foto: Divulgação)


✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.

Para quem gosta, os últimos dias foram inesquecíveis. 

Primeiro, a votação da PEC do “voto impresso”: 229 votos favoráveis, 218 contrários e uma abstenção. 

continua após o anúncio

Ou seja: a maioria da Câmara apoia a tese, inclusive parlamentares do PSB e do PDT. 

Apesar de majoritária, a PEC não alcançou maioria absoluta (308 votos) e foi arquivada.

continua após o anúncio

Impedimos mais um retrocesso, o que é motivo de comemoração. 

Mas o "sangue lusitano" que corre em algumas veias estimula o lirismo e teve gente comemorando a “vitória da democracia”. 

continua após o anúncio

O entusiasmo rapidamente virou pânico, quando o presidente – que deveria levar o título de imperador alterno – colocou para votar o “distritão”.

Na operação, Arthur Lira recebeu a ajuda preciosa – a que preço? - de gente da esquerda, que votou a favor da proposta na comissão encarregada, que aprovou um relatório em que havia de tudo: distritão, volta das coligações proporcionais e até eleição múltipla para presidente da República.

continua após o anúncio

O entusiasmo da antevéspera se tornou o pânico da noite: afinal, a aprovação do “distritão” alteraria estruturalmente o sistema político eleitoral brasileiro. 

Por "alteração estrutural" entenda-se: o que já é muito ruim – um congresso dominado por homens brancos ricos – se tornaria ainda pior, uma vez que o distritão reduziria drasticamente a representação proporcional das “minorias” (nome inadequado que muitas vezes serve para designar maiorias que não conseguem representação adequada por causa das "regras do jogo").

continua após o anúncio

Há controvérsias sobre o que aconteceu na noite de 11 de agosto. 

Mas fomos dormir com o desfecho que alguns já previam: para evitar o “pior” (o distritão), votou-se um “acordo” que resultará na volta das coligações proporcionais. 

continua após o anúncio

Um retrocesso, em nome de evitar um desastre.

Na opinião de alguns, este era o resultado pretendido desde o início: voto em papel, desfile militar, distritão teriam sido apenas “cortina de fumaça”. 

continua após o anúncio

Na opinião de outros, o risco era real. 

Vai saber qual a verdade...

Mas tem algo que é certamente mentira: o que aconteceu não foi de forma alguma algo que possa ser apresentado como uma vitória da “democracia” ou do “Estado de direito” (o Santo Graal da esquerda liberal). 

O que aconteceu foi, isto sim, uma vitória do “estado da direita”, que desde 2016 está nos fazendo andar para trás, do ponto de vista econômico, social, cultural e político.

Dourar a pílula não adianta nada. 

A dinâmica da luta de classes nos últimos anos tem sido esta: a direita ataca com tudo, em favor de seu programa máximo. 

A esquerda, para evitar o que parece ser uma derrota total, recua. 

O ataque da direita é detido. 

A esquerda comemora, pois “podia ser pior”. 

E podia mesmo.

Mas a questão é: o copo está meio vazio ou meio cheio? Foi uma vitória parcial ou uma derrota parcial?

Quando olhamos o processo de conjunto, percebe-se que está em curso um “golpe em prestações”. 

Claro que as prestações não são suaves para todo mundo: alguns reduzem a compra do mês, outros passam fome, alguns perdem parte do salário, outros perdem os empregos, alguns perdem os direitos, outros perdem a vida.

Podia ser pior? Podia. 

Mas não há porque cantar vitória. 

Pois nesse ritmo, o porvir será muito atrás da linha de partida, já que estamos indo em direção ao passado. 

O que ajuda a entender por quais motivos parte da esquerda confunde 2022 com 2002, sem perceber que essa "estrada do tempo" desemboca no quartel: no primeiro quartel do século 20.

E o pior é que tem gente da esquerda que comemora.

iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

Este artigo não representa a opinião do Brasil 247 e é de responsabilidade do colunista.

Comentários

Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor, e não do 247

continua após o anúncio

Ao vivo na TV 247

Cortes 247