Golpe em curso e a falsa simetria

Jornalistas, como Lygia Maria da Folha de S. Paulo, querem vender a ideia de uma falsa simetria na comparação entre Bolsonaro e Lula. Chega!

Lula e Jair Bolsonaro
Lula e Jair Bolsonaro (Foto: Ricardo Stuckert | ABr)


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O golpe de Bolsonaro está muito bem construído, lançando dúvidas sobre um processo eleitoral que o elegeu e reelegeu por décadas. O discurso de deslegitimar outras instituições é idêntico ao fascismo, mas não se pode usar a palavra. O golpe está em curso, pois a única forma do ogro que habita o Palácio do Planalto lá se manter é interrompendo o processo eleitoral. A compra do Parlamento foi o primeiro e grande passo. À semelhança de 1964, a indiferença e apoio de muitos segmentos civis darão combustível para mais uma patacoada de ruptura institucional. A pergunta é até quando a mídia, a Justiça e o Parlamento continuarão em sua expectativa letárgica esperando a consumação das nuvens plúmbeas que já pairam sobre todos nós. Nesse sentido, não há que se comemorar a pífia adesão às manifestações golpistas contra o STF e em apoio ao despresidente. Só o fato delas existirem já é motivo de altíssima preocupação. Espero que não levemos outros 20 anos para colocar o país em ordem, como foi necessário após a ditadura militar.

Portanto, a adesão de MDB e PSDB ao bolsonarismo não deveria causar espanto ou ser vista como novidade, pois são legítimos “vendilhões da democracia”. A matéria bruta de que são feitos esses dois partidos é também calcada em figuras como Michel Temer, de um lado, e Aécio Neves, de outro. Arquitetos do golpe que retirou Dilma Rousseff do poder, apenas almejam o alimento de si próprios fomentando outros monstros. Vejam que ambos os partidos nunca fizeram oposição ao atual desgoverno, o que talvez tenha levado figuras históricas de seus quadros a saírem dessas agremiações, defenderem candidaturas à esquerda, ou mesmo se silenciarem.

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Jornalistas, como Lygia Maria da Folha de S. Paulo, querem vender a ideia de uma falsa simetria na comparação entre Bolsonaro e Lula. Chega! Ao nivelar as críticas que a imprensa recebe, Lygia torna a análise tão rasa quanto a parte dessas críticas que defendem a própria extinção da imprensa. Ou se declarem bolsonarentos de raiz e carteirinha - o que lhes é um direito democrático - ou silenciem para não posarem de falsos isentos. Pode-se não gostar de Lula e não votar nele, mas não se pode dizer que o ex-presidente possui qualquer semelhança com o ocupante atual do Palácio do Planalto.

Cabe um parêntese. É inquestionável o “valor inestimável da imprensa livre”, pois defende o último bastião em defesa da democracia. Último porque se ele cair, tudo de civilizatório já terá ruído. No entanto, é importante ressaltar que imprensa livre não significa imprensa isenta, pois deve denunciar todos os desmandos havidos, especialmente os que atentam contra a própria liberdade de expressão e contra a democracia. O profissionalismo jornalístico tem avançado, mas precisa dar-se um tempo para avaliar e explicar diferenças entre sistemas de controle e de regulação e censura.

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Por fim, vários analistas do momento político atual apontam a necessidade de união das correntes progressistas e democráticas, ainda que divergentes em muitas pautas e bandeiras, para enfraquecer o golpe em curso. A antes improvável chapa Lula-Alckmin traz algum sopro de história de conciliações, ou seja, política. Surpreende, no entanto, que Ciro Gomes não esteja nesse grupo. Sua arrogância, prepotência e seus ressentimentos são tão grandes assim a ponto de optar pelo fomento à barbárie? A história recente da viagem a Paris já cobra sua conta e será ainda mais implacável com ele no futuro.

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