Golpe de estado interessa aos militares?

"Não interessa aos militares dar mais poder a um ex-capitão que nas palavras do general Ernesto Geisel era 'um mau soldado' porque aí ninguém o segura, nem os generais", escreve Alex Solnik, do Jornalistas pela Democracia. "A não ser que eles se vejam ameaçados por uma eventual perda de poder de Bolsonaro, o que mais interessa aos militares é manter o status-quo"

Luiz Eduardo Ramos, General Heleno, General Braga Netto e Jair Bolsonaro
Luiz Eduardo Ramos, General Heleno, General Braga Netto e Jair Bolsonaro (Foto: Presidência)


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Por Alex Solnik, do Jornalistas pela Democracia

Desgraça pouca é bobagem.

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Não sei quem é o filósofo popular autor dessa máxima, se nasceu de um samba ou de uma discussão de futebol, mas ela cabe como uma luva nas circunstâncias atuais do país.

Como se não bastasse a pior epidemia dos últimos 100 anos, as agruras do confinamento, a perspectiva de uma recessão do tamanho da epidemia, vem o presidente Bolsonaro trazer mais um componente trágico à conjuntura: a ameaça de um golpe de estado.

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Como, no entanto, nenhum golpe dessa magnitude se dá sem a total colaboração das Forças Armadas – além do apoio da imprensa, dos governadores e da opinião pública - a pergunta que me faço é: interessa aos militares dar um golpe de estado aqui e agora?

Respondo que não.

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Um golpe se viabiliza quando um grupo quer derrubar outro do poder e ficar em seu lugar ou como, no caso do Estado Novo, quando quer dar mais poder a quem já tem.

Não acho que se dê alguma dessas condições na atual conjuntura.

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Os militares não precisam tomar o poder, já estão nele. Voltaram ao poder, depois de 35 anos, sem dar um tiro, sem colocar tanques nas ruas, sem agredir a constituição, sem derrubar o regime democrático.

Estão instalados nos mais reluzentes ministérios, dão a palavra final nas mais importantes decisões do governo; oficiais, às centenas, estão alojados em cargos de muita relevância e muito boa remuneração.

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E têm um presidente que os trata de forma diferenciada, são o grupo mais privilegiado, são mais fortes que qualquer partido político dentro do governo. Estão por cima da carne seca.

O que ganhariam com um golpe de estado?

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Os generais já aprenderam, depois da aventura que durou de 1964 a 1985 que tomar o poder à força e depois mantê-lo, também à força, além de trazer um enorme desgaste à imagem das Forças Armadas, que acabam se envolvendo em atos hediondos, como torturas e assassinatos políticos, que são inerentes a um regime de força, trazem a política para dentro dos quarteis e, com isso, formam-se grupos que brigam entre si, com o que os militares perdem o que têm de mais precioso: a unidade e a coesão.   

O golpe de 64 não trouxe nenhum benefício aos militares - muito ao contrário, ganharam a pecha de violadores das leis, assassinos e usurpadores - e muito menos ao país, pois o legado que deixaram foi o atraso tecnológico, a educação pública destruída e o desastre econômico que só foi superado dez anos depois.

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Entendo, também, que não interessa aos militares dar mais poder a um ex-capitão que nas palavras do general Ernesto Geisel era “um mau soldado” porque aí ninguém o segura, nem os generais.

A não ser que eles se vejam ameaçados por uma eventual perda de poder de Bolsonaro, o que mais interessa aos militares é manter o status-quo.  

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