Golpe da ultradireita fortalece teto neoliberal de gasto e põe Lula na retranca

"Lula está sob ataque cerrado dos neoliberais, aparentemente, sem o apoio das Forças Armadas, cujos chefes, até agora, não respaldaram", diz César Fonseca

Jair Bolsonaro e Lula
Jair Bolsonaro e Lula (Foto: ABR | Reprodução)


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Por César Fonseca

O que de fato está por trás dos acontecimentos dramáticos expressos pela tentativa de golpe que o governo Lula sofreu em menos de uma semana de poder foi aviso dos ultras neoliberais para manter o status quo econômico em vigor com o teto de gasto aprovado pela emenda constitucional golpista 95 que derrubou governo Dilma a fim de abrir espaço para abertura geral da economia ao capital externo bem como desnacionalização econômica.

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Milhares de integrantes do exército mercenário financiado pelos neoliberais insatisfeitos com o ensaio lulista de tentar desmobilizar a política de arrocho fiscal bolsonarista promoveram guerra (des)colorida por procuração, objetivando continuidade das reformas tipo trabalhista, previdenciária e privatista, cujo resultado é sustentação da taxa de lucro do capital ameaçada pelo subconsumismo que Lula quer remover por meio de política distributiva de renda; o novo presidente, dessa maneira, criaria ambiente para restaurar social democracia derrubada pelo golpe de 2016 e reindustrializar o país.

A revolta conservadora, reacionária, neoliberal, financiada pelo grande capital industrial e financeiro oligopolizado, que resultou em quebra-quebra, na Esplanada dos Ministérios, dos prédios simbólicos da representatividade dos poderes republicanos, significou aviso à centro-esquerda, unida na Frente Ampla, vitoriosa na eleição de outubro, que os radicais de direita não aceitarão remoção do neoliberalismo que o bolsonarismo pauloguedesiano implantou à custa do desemprego, da fome, do caos financeiro representado pelos cortes de gastos sociais; mostraram-se – usando o exército mercenário – predispostos à luta para derrubar Lula, se preciso, e colocar Alckmin no seu lugar.

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CONIVÊNCIA DAS FORÇAS ARMADAS RENDEU-SE AO CAPITAL

Os representantes do capital sobreacumulado, promotor de desigualdade social, responsável pela paralisia econômica neoliberal, forma ideal para favorecer capital especulativo, rentista, criaram ambiente de rebelião e, como se viu, contaram com o apoio conivente das forças armadas; estas cruzaram os braços diante dos soldados do exército mercenário recrutados para se deslocarem a Brasília e ocuparem, facilmente, a capital; as forças da ordem cruzaram os braços: a PM, comandada pelo secretário de Segurança, Anderson Torres, ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, não fez, absolutamente, nada e o Exército, Marinha e Aeronáutica, forças, historicamente, serviçais da burguesia, consentiram, em aliança com o governador bolsonarista do DF, Ibaneis Rocha, o quebra-quebra. 

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O titular do Palácio do Buriti merece o título de principal operador do golpe ao colocar Anderson Torres na Secretaria de Segurança do DF, recrutando-o do Ministério da Justiça do ex-presidente fascista; mostrou, totalmente, sintonizado com as forças de segurança(PM e FFAA), para mantê-las a serviço da resistência contrária à nova ordem lulista; em seguida, viajou para os Estados Unidos para encontrar, na Flórida, com Bolsonaro, onde se articula para derrubar Lula, alinhado às forças de ultra-direita americana, que tem em suas fileiras os trumpistas, como Steve Banon, de histórico fascista, que tuitou aplauso aos golpistas na Esplanada pela tentativa de derrubarem Lula; a articulação entre Bolsonaro e seu ex-ministro da Justiça, hoje, secretário de segurança do GDF, tornara-se demasiadamente explícita para merecer o apoio de Banon, entusiasmado com a tarefa bolsonarista de tocar fogo no governo Lula; a brincadeira não foi longe, porque, hoje, o novo secretário de segurança do DF, Ricardo Capelli, solicitou à Procuradoria Geral da República prisão de Torres, operada, imediatamente, pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF.

CENÁRIO EXPLOSIVO

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Nesse cenário, politicamente, explosivo já estão presentes novas correlações de forças que podem ser vistas a olho nu; Lula está sob ataque cerrado dos neoliberais, aparentemente, sem o apoio das Forças Armadas, cujos chefes, até agora, não respaldaram, publicamente, o novo presidente; o ministro da defesa, Múcio Monteiro, mergulhou no ostracismo, dada a conivência com a movimentação golpista dos seus subordinados sobre os quais mostrou não ter verdadeira ascendência institucional, enquanto deixaram desguarnecidos os palácios dos três poderes, expostos à sanha dos golpistas; estes agiram, livremente, sem serem molestados visto que estavam sob um não-comando do secretário Torres, de segurança do DF.

Tal situação vendeu ao mercado financeiro que o governo, sem as rédeas reais do poder, ou seja, sem apoio das forças armadas, diante da rebelião neoliberal, ficou sem forças para promover, no curto prazo, o que prometeu em campanha eleitoral, ou seja, a remoção do teto neoliberal de gastos sociais, cuja manutenção inviabiliza governabilidade; a bolsa, eufórica com resistência golpista neoliberal à heterodoxia econômica pretendida por Lula, sobe e o dólar, amansado, temporariamente, cai; evidencia-se que permanece intacta a ordem neoliberal, que sustenta ajuste fiscal a ferro e fogo à custa do arrocho salarial; segue intacto, portanto, aprofundamento do subconsumismo que acelera desigualdade social e paralisa economia.

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CRISE DORME AO LADO

Não houve, por parte do presidente, no domingo histórico de tentativa de derrubada do seu governo, convocação, por ele, da população para comunicado de emergência nacional, de modo que a intervenção federal no DF soou, no calor da agitação política extraordinária, apenas, como decisão administrativa, mais parecendo com o roteiro de Gattopardo, de Lampedusa, de fazer uma reforma para que tudo continue como está.

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O poder de fogo eleitoral de Lula, insuficiente sem as armas da defesa militar, somado às abertas adversidades da Faria Lima, voz do mercado especulativo, ao mesmo tempo que não dispõe de maioria no Congresso, para fazer o que julga necessário, a fim de atender sua base social, configura fragilidades institucionais; o novo poder, diante do golpe neoliberal, fica em compasso de espera, para remover o teto de gastos sociais, como gostaria, especialmente, se não contar com vigorosa e rápida mobilização dos trabalhadores, no curto prazo, para fortalecer o novo presidente.

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