Globo tem culpa na agressão a Caco Barcellos

"Ao trazer de volta o debate sobre a agressão sofrida por Caco Barcellos há três semanas, programa Altas Horas confirma importância que a TV Globo atribui ao caso", escreve Paulo Moreira Leite. Na opinião do articulista, a vergonhosa selvageria contra um dos grandes jornalistas brasileiros, autor de reportagens que são exemplo de dignidade profissional, não pode ser analisada sem que se recorde as palavras de Joseph Pulitzer, um dos patronos do jornalismo mundial. Para Pulitzer, "uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formara com o tempo um publico vil como ela mesma"

"Ao trazer de volta o debate sobre a agressão sofrida por Caco Barcellos há três semanas, programa Altas Horas confirma importância que a TV Globo atribui ao caso", escreve Paulo Moreira Leite. Na opinião do articulista, a vergonhosa selvageria contra um dos grandes jornalistas brasileiros, autor de reportagens que são exemplo de dignidade profissional, não pode ser analisada sem que se recorde as palavras de Joseph Pulitzer, um dos patronos do jornalismo mundial. Para Pulitzer, "uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formara com o tempo um publico vil como ela mesma"
"Ao trazer de volta o debate sobre a agressão sofrida por Caco Barcellos há três semanas, programa Altas Horas confirma importância que a TV Globo atribui ao caso", escreve Paulo Moreira Leite. Na opinião do articulista, a vergonhosa selvageria contra um dos grandes jornalistas brasileiros, autor de reportagens que são exemplo de dignidade profissional, não pode ser analisada sem que se recorde as palavras de Joseph Pulitzer, um dos patronos do jornalismo mundial. Para Pulitzer, "uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formara com o tempo um publico vil como ela mesma" (Foto: Paulo Moreira Leite)


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Um dos patronos do moderno jornalismo, Joseph Pulitzer (1847-1911) entrou para a história da indústria de comunicações de massa dos Estados Unidos não apenas como um empresário bem sucedido. Também foi uma voz preocupada com o papel social da profissão, deixando um pensamento válido até os dias de hoje, um século depois de sua morte:

- Com o tempo uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil como ela mesma.

Impossível deixar de pensar neste ensinamento básico diante do esforço da TV Globo para fazer a defesa pública de Caco Barcellos, um dos grandes repórteres brasileiros.

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Autor de reportagens memoráveis em mais de 40 anos de profissão, Caco construiu um método de trabalho que chama a atenção pelo caráter humanista de suas histórias. Todos seus personagens são tratados com atenção e dignidade, sem distinção de fortuna, gênero ou raça. Há uma mensagem permanente nesta opção.  Ao tratar todos de forma igual num país tão diferenciado pela renda e pelas oportunidades, o trabalho de Caco ajuda os brasileiros a refletir sobre a natureza profundamente desigual da sociedade em que vivem. Isso faz dele um profissional exemplar que, muito merecidamente, é tratado como um dos grandes mestres em atividade no jornalismo brasileiro.

É preciso lembrar a advertência de Pulitzer sobre a cultura produzida por "uma imprensa cínica, mercenária e corrupta" diante da absurda agressão que Caco Barcellos sofreu quando fazia a cobertura de um protesto de funcionários públicos no Rio de Janeiro. Foi xingado e convidado a se afastar. Já longe da manifestações, um cone branco e cor de laranja, usado como sinalizador de trânsito, atingiu sua cabeça. Foi um ato condenável e injusto.

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O assunto entrou na pauta do Altas Horas, deste fim de semana, o que demonstra a importância que a Globo atribui ao caso, pois a agressão ocorreu em 16 de novembro. Examinando os fatos com algum distanciamento, um esforço me parece óbvio. Alvo permanente de protestos -- merecidíssimos -- contra sua cobertura política, a emissora não quer perder a chance de colocar-se atrás de um profissional de reputação acima de qualquer suspeita.

A selvageria contra um grande jornalista confirma -- dolorosamente -- a capacidade do mau jornalismo formar um "publico tão vil" como ele mesmo, como advertiu Pulitzer. A agressão a Caco não se dirigiu a um indivíduo e nada teve de pessoal. Só mostra que o repúdio de uma parcela de brasileiros ao jornalismo da Globo pode atingir até  profissionais que lutam, dia após dia,  para preservar os compromissos sociais da profissão.

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A violência que atingiu Caco é a mesma que já criou cenas semelhantes, com outros personagens. Estou falando da  agressão a Guido Mantega no Einstein, da ofensa a ministros do Supremo cujos votos são alvo de ironia por parte de comentaristas parciais, das vaias e xingamentos frequentes em aeroportos e outros locais públicos contra personalidades pré-condenadas sem provas de culpa ou responsabilidade. Os episódios são inúmeros e é difícil deixar de associar esse comportamento a cobertura não apenas tendenciosa, mas desrespeitosa, agressiva, contra personagens que costumam ser tratados como adversários políticos e mesmo inimigos.

Com seu jornalismo parcial e tendencioso, a Globo transformou-se numa escola de  intolerância, que ensina a falta de respeito pelo outro e o pouco caso pelas opiniões divergentes. Protagonista da "encenação" que derrubou Dilma, como disse o ministro Joaquim Barbosa, pratica um jornalismo no qual a conveniência política tem prioridade sobre a notícia e a informação de qualidade. Num universo onde a exclusão dos dissidentes é uma forma de marginalização política, não há lugar para a diversidade, o equilíbrio, o outro lado, apenas para o pensamento único e seus aliados.

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Nada a estranhar que ocorram agressões lamentáveis -- bastaria levar a sério o ensinamento de Pulitzer.

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