Globo admite cilada, mas defende porteiro

"Em que pese a contradição entre a gravação e o registro na planilha de entrada do condomínio e os dois depoimentos do porteiro à polícia, Kamel ainda fica com a versão do porteiro, no que tem toda a razão: por que cargas d’água o porteiro, que não sabia quem era o visitante, trocaria o número 66 pelo 58 na planilha do dia 14 de fevereiro de 2018?", escreve o jornalista Alex Solnik



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Por Alex Solnik, para o Jornalistas pela Democracia 

Em longa nota que circula na emissora e que revela os bastidores de uma das reportagens mais explosivas do ano, Ali Kamel, chefe de jornalismo da Globo admite ter levado um chapéu de Bolsonaro no caso do porteiro.

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Ele afirma que, a 29 de outubro último, o Jornal Nacional entrevistou, antes de a reportagem ir ao ar, o advogado do presidente, Frederico Wassef, que, mesmo sabendo que seu cliente tinha uma gravação mostrando contato da portaria com a casa número 66, endereço de Ronnie Lessa, e não com a de número 58, de Jair Bolsonaro, omitiu a informação.

Segundo Kamel, a intenção foi expor a Globo e justificar a ameaça de cancelar a concessão do canal.

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O outro indício da cilada, de acordo com a nota, foi o contato misterioso de um emissário da família Bolsonaro com o Jornalismo da Globo, em Brasília, enquanto, no Rio, rolava investigação jornalística acerca do caso da portaria.

Esse personagem, cuja identidade é preservada por Kamel “procurou nossa emissora em Brasília para dizer que ia estourar uma grande bomba, pois a investigação do Caso Marielle esbarrara num personagem com foro privilegiado e que, por esse motivo, o caso tinha sido levado ao STF para que se decidisse se a investigação poderia ou não prosseguir”.

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“Dias depois, a mesma fonte perguntava: a matéria não vai sair?”, conta Kamel.

Desconfiado, mandou checar as informações obtidas pelo Jornalismo do Rio – que iniciara a reportagem ao ter acesso à planilha de visitantes do condomínio - e apurar a informação de que o caso batera no STF.

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Somente depois de tudo confirmado, inclusive acerca do STF, mandou a reportagem para o ar.

Alertado pelo advogado, Bolsonaro estava de prontidão às 03h00 do dia 30, na Arábia Saudita e respondeu às acusações logo após a divulgação pelo Jornal Nacional. Em vez de se defender, atacou o Jornalismo da Globo com agressividade jamais vista num presidente da República brasileiro e ameaçou cassar a concessão da emissora. 

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Anteontem, ao afirmar que mandara o filho Carlos apreender as gravações da portaria, mesmo sem dizer quando, “para que ninguém adultere”, Bolsonaro confessou obstrução de Justiça e corroborou a desconfiança de Kamel de que a Globo tinha sido vítima de uma armadilha, pois, caso contrário, o advogado do presidente teria revelado a existência da gravação ao ser entrevistado pelo Jornal Nacional.

Em que pese a contradição entre a gravação – periciada, estranhamente, em apenas duas horas e meia pelo MP do Rio no dia 30 de outubro – e o registro na planilha de entrada do condomínio e os dois depoimentos do porteiro à polícia, que indicam a casa 58 como destino do visitante, Kamel ainda fica com a versão do porteiro, no que tem toda a razão: por que cargas d’água o porteiro, que não sabia quem era o visitante, trocaria o número 66 pelo 58 na planilha do dia 14 de fevereiro de 2018?

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Ou, nas palavras de Kamel sobre a reportagem:

“Tudo nela era verdadeiro: o livro da portaria, a existência dos depoimentos do porteiro. (..) É importante frisar que nenhuma de nossas fontes vislumbrava a hipótese de o telefonema não ter sido dado para a casa 58. A dúvida era somente sobre quem atendeu”.  

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Se as informações do Jornal Nacional são verdadeiras – segundo a emissora – conclui-se que pairam dúvidas acerca da gravação da portaria apresentada por Carlos.  

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