Gilberto Carvalho, Lula e a "elite branca"
Se a campanha da reeleição for incisiva contra as críticas injustas, e se souber refrescar a memória dos adultos e mostrar aos garotos o que era o Brasil até 2002, dificilmente o PSDB conseguirá tirar proveito dessa insatisfação de setores da sociedade
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A manifestação raivosa e literalmente obscena contra Dilma Rousseff na Arena Corinthians durante a cerimônia de abertura da Copa foi interpretada de formas diametralmente opostas pelo ministro da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, e pelo ex-presidente Lula.
Para o primeiro, o segundo errou ao avaliar que os insultos partiram da “elite branca”, que pôde pagar, em média, mil reais para assistir à cerimônia, confortavelmente instalada na “área VIP” do estádio.
A Folha de São Paulo, que faz oposição cerrada a Dilma, não perdeu tempo e estampou o diagnóstico de Carvalho em manchete principal de primeira página – a tese dele reforça a teoria da oposição midiática, de que Dilma “já perdeu”.
Segundo relatos esparsos de leitores que estiveram no local, porém, os insultos à presidente teriam partido do camarote do Itaú. Carvalho não discute. Acha que, assim mesmo, nos setores populares também há muita gente com raiva dela
O diagnóstico de Carvalho, que virou manchete na Folha, foi feito durante reunião entre ele e blogueiros, uma reunião à qual este que escreve não pôde comparecer por razões particulares.
Carvalho diagnosticou que as críticas da mídia ao governo Dilma, que as camadas mais altas da sociedade compraram há muito, começam a “escorrer” para as camadas mais baixas, razão pela qual julga que o ataque à presidente no “Itaquerão” não pode ser debitado só à tal “elite branca”.
A Folha de São Paulo correu para entrevistar Carvalho, prevendo que poderia obter mais munição contra Dilma. Na segunda-feira (23), publicou a entrevista.
Nessa entrevista, ele não só reafirmou sua discordância de Lula quanto à origem dos insultos a Dilma, mas aprofundou uma tese à qual Folha tratou de dar grande publicidade: “O PT erra no diagnóstico sobre a insatisfação com o governo”.
Um trecho da entrevista de Carvalho à Folha revela como ele se contaminou com essa teoria.
“(…) Quando chego em Curitiba (sic) e encontro um garçom falando que o PT é o mais corrupto da história. Quando vejo em Fortaleza meninos cobrando a questão da corrupção. Quando vi no metrô meninos entrando e puxando o coro do mesmo palavrão usado no estádio, não posso achar que é um fenômeno apenas na cabeça daquilo que está se chamando de elite branca (…)”
A Folha, espertamente, questionou Carvalho sobre a origem da teoria sobre a “elite branca”. Lembrou que “Foi Lula quem puxou esse discurso”. O ministro diz que “não quer polemizar com Lula” e que seu objetivo foi “alertar” – supostamente o PT e o próprio Lula – para o que chamou de “generalização da insatisfação”.
Carvalho é um dos ministros mais próximos a Dilma – trabalha em sala contígua à da presidente. É um quadro antigo do PT. Não se entende por que esse alerta teve que ser feito publicamente. Pareceu ingenuidade…
Seja como for, na terça-feira a Folha publica mais um trecho da entrevista com o ministro. Nesse trecho, ele relata encontro que manteve com um grupo de trinta black blocs – desde que esses espécimes começaram a promover vandalismo, Carvalho tem mantido interlocução com eles na esperança de enfiar algum juízo em suas cabeças vazias.
O ministro cometeu o mesmo erro que muitos que se aproximaram dessa turma ligada a partidos à esquerda do PT vêm cometendo, o erro de encarar a visão política dessa meninada como visão do povo.
Não é o caso de Carvalho, é preciso dizer. Ele sabe muito bem que esses protestos violentos são um grande erro. Mas muitos homens e mulheres maduros, já na quinta ou sexta década de vida, deixaram-se seduzir pela juventude e pelo idealismo boboca de pretensos revolucionários, garotos que não fazem a menor ideia do que é lutar de verdade contra a opressão e que se acham verdadeiros “Che Guevaras” por quebrarem algumas vitrines de lojas de carros e caixas-eletrônicos.
Porém, o que pode ter impressionado Carvalho certamente foi encontrar jovens pobres entre um movimento que teve origem nas universidades, onde professores ligados a partidos de extrema esquerda enfiaram esse lixo importado do Norte do planeta (a tática black bloc) na cabeça dos alunos. Assim, jovens pobres foram no embalo, atraídos pelo clima de rave (festas de estudantes) das “jornadas de junho”. E nada mais.
A partir da popularização dos protestos, ano passado, alguns líderes de movimentos sociais ligados aos mesmos partidos de esquerda viram oportunidade de colher frutos para suas legítimas demandas.
A visão de Carvalho se baseia nesse ambiente. A de Lula, em uma vida inteira e em sua origem entre a pobreza.
Aonde quero chegar: é um erro confundir com o povo esses movimentos da esquerda ultrarradical que admitem em seus protestos o que há de pior na ultradireita, contanto que neonazistas e outros energúmenos ajudem a provocar caos no trânsito e a quebrar tudo.
O povo mesmo, tem falado muito pouco. Quem é pobre e melhorou de vida, mas vive exposto aos ambientes da elite, acaba indo no embalo. Mas a maioria do povo nem chega perto da elite, seja nas universidades, seja nos locais em que pobres vão lhe prestar serviços.
Nas grandes cidades, a situação é pior. Sobretudo em Estados como São Paulo, onde a vida piorou muito devido aos governos do PSDB, que deixaram o transporte público chegar a uma situação de caos, que transformaram a escola e os hospitais públicos em lixo.
Nenhum governo federal conseguirá promover grandes melhoras em áreas que são da competência municipal e estadual.
Mas veja, leitor, a situação em São Paulo: Fernando Haddad está promovendo uma revolução nos transportes com os corredores de ônibus. Outras medidas simples serão tomadas. Apesar de o governo dele ter problemas para se comunicar, lá pelo quarto ano de governo a população paulistana sentirá a diferença.
Seja como for, há que fazer o povo entender que o governo federal comanda, precipuamente, a política econômica, estimula investimentos, empreende grandes projetos nacionais, mas a administração cotidiana da saúde, da educação, do transporte público é responsabilidade de prefeitos e governadores.
Contudo, essas manifestações tresloucadas acabaram empurrando para o governo federal – e, consequentemente, para o PT – uma culpa que até pode ser, também, do partido desse governo, mas que também é de todos os outros partidos.
Nos grandes centros urbanos como São Paulo, a vida tornou-se um inferno devido ao governo do Estado e aos governos municipais. Governos de todos os partidos. Premidos por grandes dívidas, Estados e municípios não conseguem enfrentar os problemas, que vão se avolumando.
Contudo, em uma coisa concordam Lula, Gilberto Carvalho e este blogueiro: a comunicação do governo Dilma é que permitiu que a mídia empurrasse para o governo federal uma responsabilidade que não é dele.
Tendo, porém, a concordar com Lula quanto à questão da “elite branca”. Ela e os pobres que influencia estão longe de ser o povo, estão longe de ser maioria. Mas claro que não será fácil Dilma vencer a eleição presidencial que se avizinha.
Contudo, se a campanha da reeleição for incisiva contra as críticas injustas, e se souber refrescar a memória dos adultos e mostrar aos garotos o que era o Brasil até 2002, dificilmente o PSDB conseguirá tirar proveito dessa insatisfação de setores da sociedade.
Nesse contexto, o sucesso da Copa e os excessos dos revolucionários de butique já estão abrindo os olhos de muita gente.
Esses cinquentões ou sessentões da academia ou do jornalismo que diziam orgulhosamente que apoiavam os protestos tresloucados contra a Copa, já estão fechando os bicos e fazendo cara de paisagem.
Esse caso específico da Copa está sendo subestimado pela direita truculenta e pela esquerda abilolada. O Brasil e o mundo já perceberam como têm havido exageros nas críticas ao governo Dilma. O efeito político disso ainda não pode ser mensurado, mas não será pequeno.
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