Geração de Março
Que as palavras do poeta Geraldo Maia sirvam como alerta para que as novas gerações não ousem flertar jamais com a intolerância e o arbítrio
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Numa singela homenagem e reverência a todos os "golpeados" pelo arbítrio de 1964, republico aqui poema antológico do poeta Geraldo Maia, uma das vozes que se "alevantou" contra a ditadura, em meio ao movimento da poesia marginal na Bahia.
Reproduzo ou "transcrio" abaixo, "de memória", este que é um de seus mais emblemáticos poemas. Portanto, posso ter sido "infiel" a algum verso ou palavra, mas, creio, a essência do texto e da mensagem restam preservados. Geraldo, velho companheiro de antigas e diversas batalhas, certamente há de me perdoar por eventuais erros e/ou omissões cometidos.
Que as palavras do poeta sirvam como alerta para que as novas gerações não ousem flertar jamais com a intolerância e o arbítrio. E que tenham ao menos uma vaga noção de tudo que foi, literalmente, enfrentado naquela ocasião.
Para que conheçamos e apreendamos a nossa história.
Para que possamos evitar erros cometidos no passado.
GERAÇÃO DE MARÇO
Nós somos a geração de março.
Trazemos amarras nos passos
e fechaduras solitárias nos olhos.
Nós somos a geração de agora.
Não sabemos o dia em que estamos
à mercê de nossa demora.
Somos a geração híbrida
(de laboratório).
Vivemos nos corredores
entre horários afiados
e o descanso das sepulturas.
Nós somos a geração estúpida.
Ficamos sempre em dívida
com a nossa dúvida.
E nada contestamos.
Brindamos nas mesas dos bares
as boas notas tiradas nas aulas de covardia.
Somos a geração sem voz.
Sem olhos.
E sem história.
Somos cordeiros dopados.
Somos o consenso do medo.
Somos o corte do grito.
Somos o som do arbítrio.
Somos a lousa fria do "NÃO!".
A gestação prolongada da exceção.
Somos sócios da indiferença.
Somos a chave da violência.
Somos as peças dos tecnocratas.
Somos as cordas e correntes da repressão.
Somos a partilha hereditária da corrupção.
Somos fabricados em série
nas escolas e universidades.
E vendidos no mercado
Ao preço da usura.
Somos, sim, funcionários da tortura.
Frutos do absurdo que são todas as ditaduras.
Nós somos uma geração de "inocentes" culpados.
E ainda seremos culpados
pela próxima geração.
Se consentirmos ser
enquanto trocam os termos
que a liberdade nunca ditou.
Se consentirmos estar
ao lado do corpo abatido
naturalmente
como "apenas" um corpo abatido.
Somos culpados.
Em máxima culpa.
Porque maximizamos as desculpas
e minimizamos o fazer!
Nós somos a geração castrada.
Comemos pão com cocada
"rotidoquecumustarda".
Fumamos a "palha da braba",
cheiramos o "pó das estradas"
nas reuniões marrr giiii naaaaiiiisssss...
Nós somos a raiz do mal
o radical doente,
mas...
Apesar de
em nós
essa loucura,
somos, de repente,
a cura!
A Cura!
A CURA!!!
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