Generais só dão golpe contra “ameaça comunista”

Para o jornalista Alex Solnik, Jair Bolsonaro não vai atrair militares para um golpe de estado sob o argumento de que voto eletrônico é fraude ou que é perseguido pelo STF de Barroso e Moraes

Jair Bolsonaro acompanha desfile de tanques em Brasília
Jair Bolsonaro acompanha desfile de tanques em Brasília (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)


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Por Alex Solnik 

Bolsonaro não vai atrair militares para um golpe de estado  com o pretexto de que voto eletrônico é fraude ou que é perseguido pelo STF de Barroso e Moraes. Ou que vão perder suas sinecuras se seu governo acabar.

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Ele precisa arranjar um pretexto melhor.

Em 1937, vinte anos depois da revolução comunista na Rússia, Getúlio Vargas convenceu seus generais a embarcarem na aventura golpista com a descoberta do “Plano Cohen”.

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Claro que os próprios generais sabiam que o documento era falso (fora confeccionado pelo capitão Olympio Mourão Filho), mas todos os jornais deram de manchete a notícia ameaçadora e os deputados, em coro, pediram para Getúlio decretar estado de guerra.

Do estado de guerra para o Estado Novo foi um pulo. O país topou dar poderes totais a Getúlio (totalitarismo que chama?) para seu governo protegê-lo da “ameaça comunista”. O fascismo era a resposta política ao comunismo, como ocorreu na Itália e, mais tarde, na Alemanha, com o nazismo.

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Assim, fazia sentido a ideia de que uma ditadura de extrema-direita protegeria melhor o Brasil da “ameaça comunista” do que a democracia, pois a democracia, ao contrário do fascismo, tolera o proselitismo comunista. 

Em 1964, políticos anti-comunistas e americanófilos, liderados pelo governador do Rio de Janeiro, Carlos Lacerda, de oposição ao governo João Goulart, envenenaram o país, e os militares, com a tese de que o presidente planejava ser o novo Fidel Castro.

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Em pouco tempo, com apoio da imprensa, do embaixador dos Estados Unidos  e até da Igreja Católica, criou-se o clima de “ameaça comunista”.

O Exército, então, entrou na parada.  Goulart foi afastado, como os anti-comunistas queriam. Mas a alegria durou pouco. Lacerda virou desafeto dos golpistas um ano depois do golpe.

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Em 1937 a “ameaça comunista”´podia assustar muita gente no Brasil. Em 1964, cinco anos depois da revolução cubana, também. Em 2021 é mais difícil. 

A União Soviética acabou há 32 anos e, com ela, o Komintern, órgão do Kremlin encarregado de disseminar o comunismo mundo afora. Os países comunistas que resistem não exportam suas revoluções.

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Os generais do Alto Comando do Exército sabem disso. “Ameaça comunista” não cola mais. E sem ameaça comunista não tem porque golpear a democracia. 

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