Generais querem fazer política, atacar a esquerda, mas não aceitam a democracia e o Estado de Direito
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Por Davis Sena Filho
Aventureiros que são e com tradição histórica de intervir no processo eleitoral e político-partidário do País eternamente escravocrata, os militares brasileiros jamais aceitaram cumprir "apenas" com o que determina a Constituição de 1988, no que concerne às obrigações e responsabilidades dos militares, notadamente os oficiais de alto escalão, que compõem as forças armadas mais elitistas, preconceituosas, sectárias e politicamente arrivistas do mundo ocidental.
A verdade é que os oficiais que governam as corporações militares se comportam como se estivessem sempre em modo "golpista" mesmo em tempos democráticos, de maneira a só aceitar no poder central presidentes de direita e agora de extrema direita, cuja geração de generais, a pior e a mais incompetente de todos os tempos, tomou conta do poder central, de forma oportunista, quando percebeu que o tenente Jair Bolsonaro, aposentado como capitão, além de ser um dos piores oficiais em todos os sentidos da história do Exército, teria chance de ser eleito presidente da República.
Realidade esta somente possível com a prisão de seu principal concorrente, Luiz Inácio Lula da Silva, por intermédio de um juizeco capcioso, sem-vergonha e autor de incontáveis crimes para que Lula não pudesse vencer as eleições de 2018. Os militares sabem disso? Claro que sabem, pois não são idiotas e sim espertos. Eles são apenas de direita e odiaram, como toda a classe média branca e os ricos deste País azarado, infeliz e fracassado, ver a pequena ascensão dos pobres e a influência diplomática do Brasil em termos mundiais.
Alguma novidade sobre o comportamento dos fardados? Evidente que não! Afinal a guarda pretoriana da burguesia e do mercado de capitais quer, na verdade, o Brasil a reboque dos interesses econômicos e geopolíticos dos Estados Unidos, pois desejam que o País seja apenas simplório e eterno fazendão continental, como também querem a mesma coisa os capitalistas de fancaria do Brasil.
A verdade é que os militares, com poucas exceções, jamais foram nacionalistas e desenvolvimentistas, a termos como provas reais e históricas o ódio que sentiram e sentem com todas as forças pelos políticos com tais perfis, a exemplo de Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, João Goulart, Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. O que esses presidentes tinham em comum, apesar das diferenças entre eles? Eram populares, nacionalistas, trabalhistas ou de esquerda. Eram, sobretudo, lideranças nacionalistas, que defendiam a soberania do País e sua independência tecnológica, comercial, industrial e de interesses próprios, a exemplo da geopolítica, a terem como base também a formação de blocos econômicos e até militares.
Todos os presidentes nacionalistas, trabalhistas ou de esquerda pagaram muito caro por causa de seus projetos de País e programas de governo, que incluíam o povo no orçamento da União. Tratam-se de valências que os militares e a burguesia nativa não tem e nunca tiveram, porque se negam, definitivamente, a pensar o Brasil.
Todos os mandatários progressistas foram depostos pelo status quo burguês no decorrer da história, com a exceção de Lula, que, antes de concorrer às eleições de 2018, foi injustamente preso por um juiz delinquente e seu bando de malfeitores da Lava Jato. Logo após a vitória eleitoral do fascista Bolsonaro, o Marreco de Maringá, vulgo Sérgio Moro, ocupou o cargo de ministro da Justiça. Um verdadeiro escândalo, assim como uma bofetada na cara daqueles que tem pelo menos dois neurônios para raciocinar e perceber o golpe do golpe, porque já se compreende que para eleger o candidato que tem o apelido de Bozo foram necessários dois golpes contra o PT e seus milhões de eleitores, que são brasileiros, a seguir: deposição de Dilma e cárcere de Lula.
Volto a repetir e relembrar. Todos os presidentes progressistas sofreram muito nas mãos do establishment, do qual fazem parte as forças armadas brasileiras e latino-americanas, que cometem intervenções criminosas na política e na democracia, e, com efeito, rasgam as constituições garantidoras de direitos e, por sua vez, tratam o Estado Democrático de Direito a pontapés. Nada deixa mais indignados os militares de almas reacionárias do que os movimentos sociais, sindicatos, associações de estudantes, ongs e minorias, dentre outras organizações da sociedade civil.
E é por causa de suas escolas e doutrinações que essa gente fardada trata a sociedade civil organizada e seus diversos segmentos e setores como inimigos internos, como fizeram nos idos da ditadura militar e o fazem agora em pleno governo militarista e de extrema direita liderado pelo extremista Jair Bolsonaro, que é tratado pela comunidade internacional como pária, além de algo bizarro e tosco.
A verdade é que os militares tem lado, militam no campo da direita e da extrema direita e são, como asseverei, elitistas e sectários, assim como estão sempre dispostos a fazer campanhas insidiosas, a exemplo dos atuais generais entreguistas que militam, vergonhosamente, nas redes sociais, mesmo a serem da ativa, a se contraporem a seus regulamentos e estatutos, pois se sentem impunes tais quais ao grande empresariado, os policiais, juízes e procuradores quando incorrem em erros graves e ilegalidades. Afrontam seus regulamentos e fica tudo por isso mesmo no País da bagunça e brutalmente injusto e desigual. É na bagunça e na desorganização (deliberadas) que as "elites" ganham mais dinheiro... E é o que acontece por meio do desgoverno militarista de Bolsonaro.
Dessa forma e a simbolizá-los como um dos patrocinadores da volta ao poder dos militares após 30 anos da promulgação da Constituição Cidadã, aponta-se para o general radical de direita Eduardo Villas Bôas, que ameaçou até o STF e o TSE quando do julgamento de Lula quanto às eleições presidenciais e sua soltura da masmorra de Curitiba. Lula foi sequestrado pelo estado brasileiro, que um dia terá de dar satisfação e pagar a conta, porque a história já condenou a quadrilha da Lava Jato e todos aqueles que a circundavam.
Porém, a cúpula militar apostou antes no golpe praticado pelos golpistas do Congresso, vulgo Centrão, que derrubou do poder a presidente honesta Dilma Rousseff, assim como os militares perceberam, juntamente com o status quo civil, que a equação não fechava, quando passaram a apoiar imediatamente o encarceramento covarde e injusto de Lula. Afinal, golpear Dilma sem prender o Lula não seria possível dar continuidade ao governo do usurpador e traidor Michel Temer, aquele marginal que liderou um golpe de estado e deu início ao desmonte do Estado nacional.
E não ficou por aí, o sujeito Amigo da Onça praticamente extinguiu as leis trabalhistas, além de inúmeros outros direitos e garantia dos trabalhadores, a dar início também à extinção de quase todos os programas de inclusão social existentes no Brasil e garantidos pelo Estado. Não é à toa que, posteriormente, Jair Bolsonaro afirmou que iria tomar o Estado do povo brasileiro. O disse várias vezes, inclusive nos EUA para seu chefe imediato, o direitista e ultraliberal Donald Trump, que depois perdeu as eleições e tomou um inesquecível pontapé no traseiro por parte do povo norte-americano.
E Bolsonaro, com o apoio dos militares privatistas(?), está a caminhar em direção ao desmonte do Estado, em um País que tem dezenas de milhões de pobres e que retornou ao mapa da fome. O que mais me incomoda é a cumplicidade dos militares com esse estado de coisas, como se eles fossem filhos de berços ricos ou esplêndidos, quando a verdade é que são oriundos da classe média e muitos deles vieram das camadas sociais mais baixas.
Um verdadeiro acinte e desfaçatez terem essa visão preconceituosa e elitista do mundo, quando na verdade são de classe média, prestadores de concursos quando jovens e, com o tempo, até atingirem o generalato, tornam-se servidores públicos pagos regiamente pelo contribuinte, mas arrogantes, prepotentes e de pensamentos e condutas coloniais perante a população e a sociedade organizada. Chega a ser um deboche! É isto mesmo, cara pálida, o Brasil tem generais da ativa partidários e privatistas. É mole ou quer mais?
Comportam-se como se fossem a reserva moral do País, bem como querem passar a impressão que são sábios e inteligentes, porque muitos desses milicos que viveram a vida toda dentro de uma redoma de cristal, juntamente com seus exercícios de guerra para fazerem alguma coisa produtiva em suas vidas, reportam-se à sociedade civil em todas suas áreas e segmentos, desde as mais simples às mais complexas, como se fossem os verdadeiros suprassumos da humanidade. E estão longe disso.
É o fim da picada. E por quê? Porque a realidade é que os militares causam grande desconfiança de parte grande e diversificada à população e seus incontáveis segmentos, não somente porque deixaram o poder maior da República de maneira desmoralizada e a causar repulsa à sociedade pelos 21 anos de ditadura, sendo que agora estão a aparelhar o Estado nacional, como o fazem agora no desgoverno do presidente fascista, Jair Bolsonaro, com cerca de oito mil militares a ocuparem cargos civis no Governo Federal. Nem na ditadura se viu isso.
Entretanto, não será mais possível aos militares quando saírem do poder acusar com propósito de denúncia os mandatários progressistas quando assumirem o poder, afinal nunca os governos do PT e os governos anteriores colocaram tantos militares em milhares de cargos, em um verdadeiro e inquestionável aparelhamento do Estado nacional. Uma boquinha e tanto, sem, contudo, um único projeto de País para o povo brasileiro, mas sim para os ricos e os muitos ricos, porque, sem sombra de dúvida, os militares de Bolsonaro governam para os ricos. Basta ver o que o ministro da Economia Paulo Guedes faz. Ponto!
Alguém pode perguntar ao articulista: "Davis, os militares são tão partidários e ideológicos assim?" Respondo: Certamente. Sem dúvida. Tratam-se das forças armadas sem guerras há muito tempo. Então a diversão é encher o saco da sociedade civil e interferir em assuntos que não lhes dizem respeito, conforme a Constituição — a Lei!
Os militares querem mandar, pois devem considerar a vida militar enfadonha, um verdadeiro chá de tédio e monotonia, após anos de exercícios militares, muitas festas e concessões de medalhas e diplomas entre eles. Deve ser isso e, consequentemente, resolvem participar da vida política do País, mas de modo a intervir no processo democrático e até eleitoral, como ocorreu no ano de 2018, bem como ano do golpe contra Dilma Roussef em 2016, além de irem em peso aos "protestos" contra a corrupção ou seja lá o que for.
Os militares são contra a corrupção, mas são integrantes, aos milhares, do governo Bolsonaro. É mole ou quer mais? São contra a corrupção, mas dependem do Centrão para terem aprovados as maldades em forma de projetos do governo mais ditatorial e antipovo dos últimos 35 anos. Apoiam, ipsis litteris, ações danosas contra o meio ambiente. Se não apoiam, amenizam, como o faz o vice-presidente Hamilton Mourão. O general Augusto Heleno nem cito, como, por exemplo, sua atuação lamentável e violenta no Haiti. Se dizem a favor da Constituição e da legalidade, mas o ministro da Defesa, Braga Netto, faz ameaças à democracia e ao STF nas casernas de Exército, Aeronáutica e Marinha.
Consideram-se os varões de Plutarco, mas são também responsáveis pelas mais de 400 mil mortes no País, em apoio a um desgoverno extremista que sabotou e ainda sabota o combate à pandemia do Novo Coronavírus — Covid-19 —, ao ponto de Bolsonaro e sua administração fracassada em todos os segmentos e setores de atividade humana serem personagens negativos dos jornais e mídias mais importantes do mundo, além de serem tratados como párias, realidades e fatos acontecidos nas inúmeras reuniões de cúpulas entre os países. O governo militarista realmente não é bem-vindo, assim como os péssimos índices sociais e econômicos, os piores dos últimos 30 anos. Trata-se do verdadeiro fracasso retumbante!
Por que eu escrevi tudo isto até agora? Respondo: "É porque levantamento realizado em 115 contas de militares ligados ao general Villas Bôas, nas redes sociais, mostrou que foram realizados 3.427 tuítes com propósitos ideológicos e político-partidários. De acordo com a imprensa, tais postagens aconteceram entre abril de 2018 e abril de 2020, em explícito apoio ao governo Bolsonaro. As postagens, conforme o jornal O Estado de São Paulo, foram divulgadas por 82 militares das Forças Armadas, sendo que 22 são generais, sendo que 19 generais, dois brigadeiros e dois almirantes.
De acordo com o que eu afirmei acima, os militares da ativa são proibidos de fazer política. Aliás, fazer política e usar farda ou toga é o fim da picada, além de covardia, porque o servidor público faz uso do cargo e, com efeito, aproveita-se do poder de sua instituição ou corporação. É dessa forma que se dá o Lawfare, quando o agente público resolve inadvertidamente e ilegalmente fazer política, ou pior: intervir no processo democrático e eleitoral, como fizeram os delinquentes da Lava Jato.
Não sei o que é pior, se é o ativismo político dos militares ou dos juízes, procuradores e delegados. Se essa gente quer fazer política partidária para mandar no mundo civil e assumir o poder político que entre em um partido e concorra às eleições, ora bolas! O que acontece com esse País? Primeiro é o Partido da Imprensa, depois o Partido dos Juízes e Procuradores, e agora o Partido dos Militares.
A verdade é que essa realidade tem de ter fim. Ou os generais assumam que são agentes políticos sendo da ativa ou deem um fim nisso, a ter como exemplo positivo e leal à Constituição o comandante militar norte-americano que deixou claro a Donald Trump que ele é a força que representa não se evolveriam com a política e muito menos com partidarismo.
Explico melhor. O general Mark Millei, o oficial mais alto na hierarquia das forças dos EUA, afirmou o seguinte quando Trump tentou envolvê-lo politicamente: “Fazemos juramento à Constituição. Cada soldado (…) vai defender esse documento, independentemente do preço que tenhamos que pagar”.
Não é um ótimo exemplo para os generais do Brasil, que tanto admiram os EUA quando se trata de cooperar com geopolítica e admirar suas guerras e odiar os políticos trabalhistas brasileiros? Não seria uma boa ter o general Mark Millei como exemplo ao invés de os generais de índoles golpistas e que militam politicamente e partidariamente nos quartéis contra o processo democrático e eleitoral, a atacar o Supremo, o Congresso e os movimentos dos trabalhadores em todos os âmbitos e setores?
Porque não é possível que o Brasil tenha ainda em suas fileiras generais e coronéis que vivem em um mundo paralelo e que se recusam a sair da antiga guerra fria por causa de seus preconceitos políticos e ideológicos aprendidos nos quartéis e em suas escolas de ensinos mais do que anacrônicos, a transformá-los em verdadeiros dinossauros, além de lamentavelmente analfabetos políticos, pois se não o fossem não diriam tantas barbaridades em público acerca das questões brasileiras e suas realidades.
Os comandantes das forças armadas tinham que se profissionalizar e se submeter à Constituição e ao mandatário eleito pela Nação — pelo povo brasileiro. Fora disso é golpismo e golpe é crime, com punições que podem levar à cadeia e à expulsão das armas. Militar não tem autonomia, pois se trata do braço armado da Nação, que o fiscaliza e o pune se for necessário.
Se o militar não aceita se subordinar aos dogmas e estatutos, que deixe a força e vai fazer política para se eleger e, dessa maneira legal, mandar. Do contrário, a Lei está aí para lembrá-lo de sua responsabilidade e obediência devida aos poderes estabelecidos pela Constituição.
Há muito tempo digo que algo está errado nas escolas militares. Não é mais possível militar fazer política e agredir, até com palavras de baixo calão, as pessoas que eles consideram inimigas. É o fim da picada! Que dificuldade os militares brasileiros tem para cuidar de suas vidas profissionais, parar de se meter em política e intervir nos poderes constituídos. Se gostam tanto de americanos porque não imitam os militares dos EUA? Aí não, né...
Enquanto isso, o Ministério da Defesa informa que as forças armadas tem cartilhas e manuais que normatizam e orientam os militares sobre suas condutas e ações nas mídias sociais. Até agora só os praças foram punidos, mas os oficiais continuam em seus paraísos de impunidades, pois são tratados como intocáveis. Até parecem tucanos em relação à Justiça, uai!
A verdade é que os militares brasileiros não aprendem nem com o passado e nem com o presente, sendo que o futuro não importa, conforme se percebe por meio do desmonte do estado brasileiro. Os militares entraram equivocadamente na política e irão sair dela novamente pelas portas dos fundos e marcados por participarem do pior governo dos últimos 40 anos. Vejam o exemplo da pandemia. Militar no poder é sinal de autoritarismo, combate aos direitos dos trabalhadores e concentração de renda e riqueza. É isso aí.
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