Futebol, racismo e morte

A dor de suportar ataques racistas não é tudo que acomete o atleta. Uma inaceitável inércia das autoridades legais nos casos de racismo os aflige igualmente

Jogadores espanhóis protestam contra o racismo
Jogadores espanhóis protestam contra o racismo (Foto: Reprodução)


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A morte da torcedora alviverde Gabriela Anielli é mais uma tragédia a ilustrar a história dos estádios de futebol e arredores. Ano passado, o assassinado foi Dante Luiz, outro torcedor do Palmeiras, na rua Palestra Itália. É muito mais que uma quadra trágica para a enorme torcida do Porco - os apaixonados por futebol em geral padecem. Em 2020, dois torcedores morreram numa briga de bar entre palmeirenses e santistas.

      O mesmo espírito fanático capaz de provocar a morte de alguém por divergência clubista é capaz de propalar o mais abjeto racismo nos estádios. O princípio - ou sua ausência - que move um ser humano branco a considerar a pessoa negra inferior não abarca o respeito à vida. Racismo e morte andam de mãos dadas, ainda que as mortes mencionadas acima não tenham, aparentemente, a raça como motivação. Como se vê, o ambiente do futebol está contaminado pelas duas coisas. E impunidade tem prevalecido.

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    As ofensas raciais contra Vinícius Jr., em maio, ganharam manchetes mundo afora, manifestações diversas de repúdio e nenhuma ação contundente para eliminar o racismo nos ambientes desportivos. Os estádios de futebol - ou arenas, como se chamam hoje - são palcos do velho, porém muito vivo, preconceito contra negros.

      Quando se manifesta no futebol, o racismo torna-se ainda mais alarmante, pois o negro predomina não apenas nos campinhos de areia em favelas e subúrbios, mas nos grandes estádios onde brilharam, Pelé à frente, Domingos da Guia, Leônidas, Zizinho, Didi, Garrincha, Jairzinho, Ronaldo, Ronaldinho, Rivaldo e centenas de outros craques de pele escura. Igualmente a raça negra sobressai-se no futebol feminino, com craques como Marta e Formiga, que fizeram história, mas o futebol de mulheres é relativamente recente e só agora começa a ganhar espaço no imaginário popular.

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      O que aconteceu com Vinícius Jr. na Europa acontece todo dia em gramados brasileiros e com jogadores brasileiros no Exterior, onde torcedores fanáticos não hesitam em exibir todo seu preconceito. Hesitariam em matar?

       Um inestimável serviço ao país e à luta contra o racismo presta o projeto Observatório da Discriminação Racial no Futebol, trabalho coletivo pormenorizado que apura e divulga casos de preconceito no futebol e em outros esportes. Seus relatórios anuais são ricos em números e detalhes. O de 2021, último editado até aqui, nos dá conta de 158 ocorrências de discriminação naquele ano, 137 das quais no Brasil e 21 contra atletas brasileiros no Exterior. Do total, 124 deram-se no futebol e 34 em outros esportes.

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      A dor de suportar ataques racistas não é tudo que acomete o atleta. Uma inaceitável inércia das autoridades legais nos casos de racismo os aflige igualmente. Praticamente não há punição. 

      De certa forma, o ambiente futebolístico sempre abrigou racismo e violência. Mas a expectativa era de que o Século XXI trouxesse avanços contra essas duas pragas.

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