Futebol: a extrema-direita ocupa as arquibancadas

O que espanta é não haver qualquer tipo de organização de movimento sindical de jogadores

(Foto: Reprodução/@JanaDahoui)


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O futebol com todo seu alcance da indústria do entretenimento se tornou um campo de divulgação dos valores neoliberais como meritocracia e precarização do trabalho, no caso jogadores de futebol. Além disso, o neoliberalismo trouxe para as arquibancadas a violência do discurso ideológico de extrema-direita. E isso é nitidamente visível na Europa em países como Espanha e Itália.

Neoliberalismo e extrema-direita

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A FIFA, dona do negócio, gerencia um modelo neocolonialista que usa a mão de obra (jogadores) de países periféricos da América do Sul, África e de filhos de imigrantes árabes, turcos e balcânicos.  A ascensão da extrema-direita na Europa é uma realidade e o futebol como espelho de uma sociedade reflete isso.

Banidos oficialmente desde 2014, os Ultras Sur, torcida organizada do Real Madrid, são famosos por serem de extrema-direita e até fazerem apologia ao neonazismo.

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Na Espanha há inúmeras torcidas que se autodenominam de extrema-direita. Por exemplo, a Brigada Blanquiazule, do RCD Espanyol, nutre forte amizade com os Ultras Sur e se posicionam como extrema-direita também. Apesar de Catalão, o clube RCD Espanyol detém o “status” de Real, um posto adotado por inúmeros clubes no país durante o regime franquista, assim como o próprio Real Madrid ou Real Betis, entre outros.

Até mesmo o Barcelona, clube identificado na luta contra o franquismo, possui a sua torcida de extrema-direita, os Boixos Nois. Em 2010, membros da torcida foram presos por envolvimento com drogas ilícitas.

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Ainda na Espanha podemos citar inúmeros jogadores negros que foram vítimas de racismo em estádios. Roberto Carlos, Marcelo, Ronaldo (Fenômeno) Samuel Eto'o, Daniel Alves e agora Vinicius Jr são os casos mais conhecidos.

Maradona contra o Norte rico

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Em seu auge na Itália, Maradona representava o Sul italiano região discriminada pelo Norte desenvolvido que enxerga os napolitanos como vagabundos e ignorantes. Quem consultar matérias sobre a passagem de Maradona no futebol italiano vai verificar que há relatos sobre torcedores imitando macacos quando o craque argentino tocava na bola. Isso acontecia, por exemplo, em jogos contra a Juventus de Turim, cidade do rico Norte Italiano. Essa mesma torcida da Juventus há um mês insultou de forma racista o jogador da Inter de Milão, o belga Lukaku , que é negro,

O caso Òzil

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Na Alemanha, o craque alemão de origem turca Mesut

 Özil, campeão do mundo na Copa de 2014, passou a ser perseguido pela mídia alemã por um registro fotográfico por ter entregado em 2018 uma camisa de seu então clube Arsenal (Inglaterra) para o presidente da Turquia, Recep Erdogan. Özil passou a ser acusado de apoiar o susposto regime autoritário de Erdogan. A Turquia é integrante da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e candidata a integrar a União Europeia.

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Özil era criticado por não cantar o hino alemão nos jogos da seleção. Depois do episódio a carreira e o desempenho do craque nunca mais foi o mesmo, tendo se aposentado em março de 2023.

Futebol reflete a sociedade

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O craque holandês Clarence Seedorf, negro nascido no Suriname, um pequeno país da América do Sul que até 1975 era uma colônia da holandesa.

Seedorf teve passagens em clubes europeus como Ajax (Holanda), Sampdoria (Itália), Real Madrid, Inter de Milão,  Milan, tendo jogado aqui no Brasil pelo Botafogo. P Hoje aposentado segue a carreira de treinador, mas diz que tem poucas oportunidades.

"A diversidade que você vê em campo não se reflete nas bancadas (comando técnico) e na alta administração dos times. Eu sempre disse que o futebol reflete o que está acontecendo na sociedade" - disse em uma entrevista para o site Goal em 2020.

Casos no Brasil

No Brasil, antes considerado símbolo da "democracia racial", onde se dizia que o maior exemplo do conceito seriam os estádios de futebol, o racismo também se faz presente.

Quem não lembra do caso do goleiro Aranha do Santos que em 2014 sofreu insultos em uma partida em Porto Alegre contra o Grêmio, sendo chamado também de macaco.

Da mesma forma que Vini Jr, a imprensa gaúcha, na época, tratou Aranha como responsável pela confusão por estar retendo a bola, fazendo “cera” para fazer o relógio correr e beneficiar o Santos.

No mesmo ano de 2014, em março, pelo campeonato gaúcho, o árbitro Márcio Chagas da Silva relatou ter sido alvo de racismo durante a partida entre Esportivo e Veranopólis, no Estádio Montanha dos Vinhedos, Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha. O juiz da partida acusou a torcida da casa de tê-lo ofendido com termos racistas e de ter colocado bananas em seu carro.

No ano de 2017, em um jogo entre Botafogo e Flamengo, pelas semifinais da Copa do Brasil, um grupo de torcedores botafoguenses fez gestos preconceituosos para a família de Vinicius Jr, quando este ainda era uma jovem revelação que jogava pelo Flamengo.

Em fevereiro de 2022, em um Fla x Flu, pelo Campeonato Carioca, o jogador do Flamengo Gabriel Barbosa, o Gabigol, acusou um torcedor do Fluminense de tê-lo insultado o chamando de macaco na saída do intervalo do jogo. O Fluminense foi absolvido pelo Tribunal de Justiça Desportiva (TJD-RJ) no caso. Já o Flamengo foi condenado a pagar R$20 mil de multa por cânticos homofóbicos contra a torcida tricolor.

Despolitização dos jogadores

Diante de tantos casos de manifestação de racismo e preconceito, que se repetem pelo mundo, o que espanta é não haver qualquer tipo de organização de movimento sindical de jogadores. O universo do futebol mais uma vez reflete uma sociedade que vive os efeitos do neoliberalismo que desmobiliza trabalhadores e promove alienação entre os atletas, e o Brasil é um exemplo disso.

Em relação ao caso Vini Jr, a Federação Nacional de Atletas Profissionais de Futebol do Brasil (FENAPAF) apresenta em seu site uma nota antiga de repúdio em que pede providência para um episódio ocorrido ainda em janeiro deste ano quando torcedores do Atlético de Madrid exibiram um boneco um boneco enforcado representando o jogador do Real Madrid. Sobre o ocorrido no estádio Mestala, do Valencia. Não há nenhuma nota.

Por fim, na Espanha, o Movimento contra a Intolerância (MCI) e a Associação de Futbolistas Espanhóis apresentaram uma denúncia à Procuradoria Geral do Estado - Area de Delitos e de Ódio e Discriminação, sobre os insultos racistas sofridos em Valência por Vinicius Jr.

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