Fujam dos homens de bem. Ou prendam...
Energia? Carregador? Celular? Como assim? O preso está podendo usar o aparelho celular?
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- “O bom é que a verdade chega a nós como um sentido secreto das coisas.”
- Clarice Lispector
A voz aflita me acordou de madrugada avisando da prisão do pai. Criminalista acostumado a escutar essas angústias, nesse momento dramático da vida das pessoas, achei estranho um certo tom de arrogância, como se a voz representasse um “sabe quem vocês estão prendendo?!” Logo vieram algumas perplexidades: “ele é um idoso; teve que ficar na fila para ir ao banheiro; estão querendo tirar a energia para dificultar carregar a bateria do celular; e as crianças que estão lá na Polícia Federal; a comida não é digna; as acomodações são de baixo nível…”
Aí eu me atrevi a perguntar: ele é idoso, foi preso em algum asilo, em casa? A resposta dizendo que ele estava morando no QG à beira do Exército me deixou curioso. Um idoso que não pode ser preso, mas que pode usar os banheiros químicos, pegar chuva, dormir em barracas…
Perplexo, indaguei à dona da voz por que ela estranhava ter fila pois sempre maldizia as minhas críticas à super população carcerária. Constantemente considerava que os detentos devem mesmo ser submetidos a todas as agruras do cárcere. O que mudou para leva-la a esta indignação?
Energia? Carregador? Celular? Como assim? O preso está podendo usar o aparelho celular? Não foi a dona da voz que esbravejou quando encontraram um celular na cela de um político em Bangu? Lembro-me das críticas ferrenhas à mordomia inadmissível, à falência do sistema carcerário pela facilidade dentro das cadeias em dar privilégios a alguns prisioneiros.
Quanto às crianças, que foram imediatamente soltas, a minha indagação foi sobre a responsabilidade de quem as levou para os atos golpistas. Logo quis saber se a voz já havia ligado para o Conselho Tutelar, denunciado esses irresponsáveis.
Reclamando da comida?! Logo esta dona da voz, que considerava inadmissível falar em “direito dos presos”, coisa de defensores de bandido. Besteiras dos defensores dos direitos humanos, sempre com a ironia superior no sentido de que bandido bom é bandido morto e falar em direito de preso é um absurdo de humanistas esquerdistas.
E a voz, já metálica e enfadonha, ainda reclama das acomodações. A vida toda me criticou quando eu apontava a super lotação dos presídios; o fato de colocarem 60 detentos onde deveriam estar no máximo 5; a situação desumana de presos terem que dormir em pé, amarrados nas grades por falta de espaço no chão, ou tendo que revezarem nos colchões entre ratos e baratas.
Para complementar, ainda tive que escutar daquela voz, que representa parte da hipócrita, falsa e podre elite brasileira: “Mas ele é um homem de bem”!
Não me segurei e constatei que, em apenas 10 dias de governo Lula, os terroristas bolsominions já reclamam por direitos humanos; já pedem dignidade no sistema prisional; já não consideram mais que bandido bom é bandido morto; já estão falando mal da PM e até das Forças Armadas.
Parafraseando o poeta maranhense: a vida dá, nega e tira. Socorro-me ao poeta Boaventura de Sousa Santos: “Não sei se mereço mas alguém trocou o fim pelo começo.”
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